terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CAI A NOITE












Ao cair da tarde, furta-cor sombria,
Nasce no alt' o luar qu' o céu escala,
Veludo róseo qu' enegrece o dia...
Um cão uivante, um corvo que cala.

Negra treva pavorosa me invade!
Vislumbro o medo que m' explora forte...
A alma poética canta covarde
O temor tredo de encarar a morte!

A noite avança e o que antes era
Uma aventura, desfez-s' em pavor,
Caminho agora, já sem primavera,
Nas entranhas de um vulgar tremor!

A idade vence o aventureiro moço,
Que anos antes lutava com ardor.
O poeta agora imerso num poço,
Treme, tem medo de matar o amor!

É o silêncio da noite chegando,
Que enche o meu coração de espinhos.
Depois dum dia inquietant' amando,
Arrasto amargor pelos meus caminhos!

Modesto




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

FIM DO ANO, NOVO ANO
























Este ano está a acabar
Mas outro vai começar!
Amei com o coração,
Mas, às vezes, como bolas de sabão!
Acalentei a vida e ofereci cuidados,
Mas, às vezes, também teci pecados!
Esperei o sol para o contemplar,
Mas... também chuva para estragar...
Desejei paz!
Mas, no dia a dia... "tanto me faz"!
É que não gosto de águas paradas...
Persigo o movimento das estradas,
Porque não quero chegar ao fim,
Sem ondas dentro de mim!
Acalentei, esperei, gostei do desejo
E transformei cada momento num ensejo!

Que o Novo Ano traga vida sossegada:
Logo pela manhã, seguirei a estrada.
Não vou atrás da ambição
Que é filha da rebelde ilusão.
Espero da vida o ar da montanha,
Rebolar por ravina estranha...
Quero flores do campo para cheirar,
O sol poente espelhado no olhar...
Da vida quero gesto brando,
Vê-la contemplativo e manso!
Gosto de ver o rio sereno
E levar o dia a dia ameno.
Estimo e desejo a liberdade,
Quero paz e claridade...
Mas continuo nas asas da ilusão,
A doce face da imaginação....

Modesto

sábado, 28 de dezembro de 2013

É A VIDA QUE PASSA






















Ano velho, estás a embaraçar
O sabor das carícias já mortas!
Ano novo, já estás a cantar
As ilusões e ofertas tão mornas!

Ano novo que estás pra nascer,
Como uma 'strela amanhecendo...
Ano velho que estás pra morrer,
Não deixas muita pena fenecendo...

Ano brotando e ano partindo
Com seus madrigais e sonhos febris!
Sois folhas secas, janelas abrindo:
Sonho de vida... Que seja feliz!

Modesto

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

NAVEGANDO NO TEU MAR














No abrigo do teu peito repousei,
Qual viajante, com frio, desolado.
Busquei refúgio, senti-m' amparado
P'lo suave aconchego e... gostei.

Sem medo, deitei-me nas tuas estrelas,
Numerosas, impossíveis de contar.
Ao navegar pelos teus olhos de mar,
Logo meu barco estendeu suas velas.

E penetrei nas tuas fortes correntes,
Com esp'rança de encontrar o teu cais.
Pra me aconchegar e não partir mais,
Pegando no leme com unhas e dentes.

A tormenta acalmou o seu furor,
Mas o teu cais minha dor ia minando,
Vi teu peito aberto me refrescando
E acolher-me nos teus braços d´amor.

E não houve mais tormentas violentas.
Foi o prémio de poder navegar
No oceano dos teus olhos de mar...
Fiquei feliz por passar fortes tormentas.

Modesto

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

DIA DE NATAL



















Jesus deu-me um presente de Natal!
Ele deu-me o melhor: O Seu Carinho!
Que graça teria a festa, afinal,
Sem meus filhos, minha casa, pão e vinho?

Foi Ele que veio na noite de ontem!
Deu-te o presente que te mandei?
E... todos passaram bem? Ora contem...
Ele abençoou-vos, como eu contei!

Nesta noite, nasceu no meu coração!
Tenho a certeza que Jesus m' atendeu.
Pedi-Lhe que me desse mais devoção
E à família, eu sei, também deu!

E agora é tudo maravilhoso!
Jesus dá tudo: Basta saber pedir.
Eu já pedi alegria! E... venturoso,
Pedi aos homens prá 'prender a repartir!

Há muita gente a estender a mão!
A estrela está a sinalizar:
Já qu' Ele nasceu no nosso coração,
Sigamos a estrela: Vamo-nos dar!

Modesto


                                                                                                                                                                                                               

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

É NATAL

















Na cidade de David, nos nasceu
O Salvador,
O Cristo Senhor.
A maior esperança que o mundo recebeu,
O melhor presente que Deus nos deu.

Numa humilde manjedoura,
O Menino Deus,
Já prometido outrora,
Escreveu na história da humanidade,
A história da Verdade...
Jesus veio à terra
Vencer os preconceitos e a guerra.

Um ser humano Divino
Veio libertar o nosso destino.
Veio cumprir Sua Missão
De nos dar a Salvação.
Por causa do Seu grande amor por nós,
Podemos ouvir a Sua voz.
Fez de nós filhos de Deus.
Ele é o Cristo,
Como tudo estava previsto.

Modesto

domingo, 22 de dezembro de 2013

EMANUEL


Antes do Natal, a vida era cruel!
Deus estava acima de nós,
Ou adiante de nós...
Mas, hoje, tornou-Se Emanuel!
É Deus connosco na nossa natureza,
Na Sua graça e na Sua bondade...
É Deus connosco na nossa fraqueza,
E, na Sua misericórdia,
É Deus connosco na ternura e na afectividade!

Como podes estar ainda comigo?
Pequeno como eu,
Fraco, nu, pobre como eu...
Tudo como eu,
Tomando do que é meu
E dando-me do que é Teu...
Tornaste-Te meu Amigo!

Eu que jazia sem luz,
Eis que desceu,
Para o que era Seu
E o Homem não O recebeu...
Vem a mim, Jesus!

Hoje, Ele desceu
Para ser Deus connosco,
Vindo do Céu,
Mostrando o Seu
Pequenino rosto,
Pôs Suas mãos 
Nas minhas mãos...
E tornou-Se Deus connosco!

Modesto

sábado, 21 de dezembro de 2013

EIS QUE VEM!...






















Eis que ouço a voz da minha amada!
Eis que chega cansada
De correr pelos montes e colinas!
Esperando, espreitando,.. te inclinas,
Saltas como a gazela
E brilhas como a mais bela estrela!
Vem ter comigo, minha amada!
Levanta-te, vem... Não penses em mais nada.
Vem! A chuva já foi embora,
Senti a tua demora,
Pois já desponta a aurora!...
Na terra, nasceram flores!
Chegou o tempo das canções!
Voam, nas montanhas os açores
E unem-se os corações...
És como a pomba nas fendas do rochedo,
Escondida nos penhascos...
Deixa-me fixar teu rosto sem medo,
Ouvir a tua voz
Com seu som encantador!
Vem... e ficamos nós,
Nas sendas do amor!

Modesto

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

SENSIBILIDADE
























Percebo a beleza das palavras,
Pela essência do teu olhar
De quando te libertas das amarras
E mostras a força do teu amar.

Um rosto bonito... é só um rosto...
Precisa ser belo como a flor.
Vê-se a beleza, não o desgosto...
É uma fortaleza o amor!

É preciso ser mais, ir mais além
Buscar o profundo e o intenso,
Ter personalidade, ser alguém,
Ter sensibilidade e bom senso.

É nunca exagerar na vaidade
Como "quem procura sempre encontra".
Vive a vida com profundidade...
Quem assim age, verdade encontra!

Modesto

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

DESENCANTO
























É a tarde que foge e são medonhos
Os esforços que faço pra ir buscá-la
Pois quero contar-lhe todos os meus sonhos
E pedir-lhe um sorriso ao fitá-la.

Mas... silenciosa, ela de mim zomba
E nem sequer me estende a sua mão!
Sua tristeza já é fruto da sombra...
Isso entristece mais meu coração!

Quero luz! Mas sei que a noite existe
E é um tempo tão lento e tão triste...
Ó tarde, tens um horizonte que arde!

Lá vai ela, de soluços carregada.
Deixa a lua que não alumia nada...
Deixa cores de beleza... Pobre tarde!

Modesto

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

DESENCONTROS
























Marcando os meus encontros
Comigo, nas alvoradas,
Vou tendo os meu encontros,
Nas manhãs desencontradas.

Sonho qu' está tudo pronto
Dum outro dia passado,
Mas preparo o encontro
E está desencontrado.

Eu próprio, vou andando...
Se lá chegar... não sei quando...
O amor é minha fome!

Pouc' importa entardecer,
Se n'aurora hei morrer
Deste mal que me consome!

Modesto

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

MÁGOAS AO LUAR
























Luar transbordante nas montanhas
Mostra a paisagem na noite vaga,
O meu pensamento assim divaga
Por sensações, cada vez mais estranhas.

Minhas dores sofridas são tamanhas
Qu' apenas a solidão 'ind' afaga!
Morrer pode ser uma boa paga...
Mas... vejo claridade nas campanhas...

Lutar com o passado, é inútil,
Por mais que tenha tido amor fútil,
Fez muitos estragos, fera audaz!

Lua que ilumina, hoje plena,
Única esperança que m' acena...
Meu pobre coração não satisfaz!

Modesto

domingo, 15 de dezembro de 2013

AMOR SUBLIME
























Quem me dera a esperança
Da minha alma de criança
A perfumar o meu dormir!
Quem dum sonho me acordasse,
Com um beijo me embalasse,
Amor me fizesse sentir!

Mãe, vivi o teu meigo afecto
Como a rosa num deserto,
Regad' em jarra de cristal!
Havia nítida 'sperança,
Nesta meiguice de criança,
Livravas-me de tod' o mal!

Eu dizia ao infinito
Qu' o amor de mãe é bendito,
Aquece como cobertor!
Quem sabe se tu sentias
Como compunhas melodias
Tão sublimes como amor!

Teu perfume 'inda m'extasia,
Nas auroras e luz do dia,
Afugentando 'scuridão!
Apertavas-me no teu peito,
No doce quente do meu leito,
Embalando meu coração!

Fiz minha vida ambulante...
E até naquele instante,
Deste dicas pró meu destino!
Do céu mostras-me teu olhar
Sublime, doce afagar,
Como quando era menino!

Modesto

sábado, 14 de dezembro de 2013

FAZ ISSO HOJE



















Começa hoje a construir - é urgente!
Seja o que for: Choupana, catedral...
Trabalha a pedra, o barro ou a cal:
Regressa à tua fonte, tua nascente!

Não podes deixar que se perca a semente,
Ao arrancar as ervas ruins do teu quintal.
Mas vai: Faz de uma rosa um roseiral,
Sem perda de tempo, agora, é urgente!

Vai: respeita o teu amigo, o irmão...
Perdoa, mesmo que ninguém peça perdão,
Ajuda-o a pôr o trigo no celeiro.

Ensina-o a trabalhar com alegria,
A ouvir cantar a rola, a cotovia...
Antes de semear, que cultive primeiro.

Modesto

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O CANTO DO ROUXINOL
























Deus, criando o mundo, a Natureza,
Como Supremo Poeta, fez do nada:
A cor, a luz, o som... e a singeleza
Qu'há na flor vicejante e perfumada.

Fez a policromática realeza
Dos pássaros a voar em revoada,
Com suas canções de mágica beleza,
Fazem a sinfonia da alvorada.

É lindo o gorjeio de um canário!
O som da cotovia é legendário!
Mas, como o encanto do girassol,

O mais sentimental, o do meu encanto,
O que me ficou ressoando, foi o canto
De um sonoro, plangente rouxinol!

Modesto

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

VISÕES INACESSÍVEIS
























Olha para o mundo inacessível
Onde astros e águias vão pairando,
Donde se ouvem melodias tocando
Sinfonias de amplidão aprazível!

Alma nenhuma, que não seja sensível,
Que não tenha pés para ir dançando
E a região secreta desvendando,
Não pode apreciar beleza incrível!

É preciso que tenha asas e garra,
Para ouvir uns ruídos à fanfarra
Do mundo das almas augustas e fortes!

É preciso subir íngremes montanhas,
Endurecer-se ente visões tamanhas,
Com sentimentos bem subtis e que gostes!

Modesto

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

VEM, SENHOR JESUS!
























Não sei, Senhor, qual o dia escolhido,
Estou, pois, sempre atento e a velar,
Como Vosso escravo preferido,
Já qu'o Vosso gesto é vir e salvar!

Senhor, espero em paz e quietude,
Com grande ânsia em meu coração!
Sois sede de invencível beatitude,
Vossa chama faz viver em mutação.

Vinde depressa, ó meu Senhor dulcíssimo
E transportai meu coração sedento
Para junto de Vós, no céu, ó Altíssimo,
Onde Vossa santa Vida tem assento.

A vida na terra é só agonia,
Meu coração prás alturas foi criado,
Meu plano de vida não s'importaria,
Minha Pátria é o Céu: Foi-me dado!

Modesto

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O POETA



















Qual o poeta que não sabe meditar
Na luta entre a pena e a rimada,
Não se cala nem se procura emendar
Quando enxerga as coisas de má toada?

O bom poeta conhec'os anseios quentes
Da natureza viva  e a espreitar...
Como suas paixões são desejos ardentes,
Mente afiada... Cria vid' ao recitar.

O poeta endurece no sofrimento,
Sabe rir, entre a lágrima e lamento
E derrama no papel a sua tristeza.

Sim! O poeta goza com merecimento
Quando seus versos envolvem por momento
O leitor, revelando sua destreza.

Modesto

domingo, 8 de dezembro de 2013

Ó SOL DE SANDE!



















Ó sol que brilhas tão alto,
Preciso do teu calor:
Do qu' aquece o asfalto
No Verão abrasador.

Ó sol do meu cansaço,
Diz-me por onde andaste:
Se deste o teu abraço
A Sande, s' a encontraste?!

Pois, sol, eu vou-te dizer:
É a saudade, o pranto
Qu' aos poucos me faz morrer,
Qu' eu versejo e lhe canto.

Ó sol, vê a outra margem:
De ti já nem tem o cheiro!
O Douro põe-lhe paisagem...
Sande inda é soalheiro!

Vê tu, Sande, qu'eu não vejo,
(Se teus lábios fossem meus!)
Tu dar-lhe-ias um beijo,
Beija-la-ias?... Meu Deus!

Modesto

sábado, 7 de dezembro de 2013

ROSAS BRANCAS



















Eu cultivo rosas brancas,
Com júbilo em Dezembro
Para ti que bem me lembro
Das tuas caras mãos francas.

Mas és cruel, me arrancas
O coração, mesm' ao vivo!
Lembras cardos que cultivo...
Mas cultivo rosas brancas.

O sol traz-me as lembranças
Que planto em tod' o lado,
Mesmo no fundo do lago
E no jardim das crianças.

Tu, ao sol da manhã, plantas
A rosa que vai nascer,
Por milagre, luzir quer...
Mas trata-me bem as plantas...

E andamos nestas danças,
Com mil pétalas de calma,
Com flor-de-lotus na alma,
A respirarmos bonanças.

Modesto

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

TU SABES QUEM EU SOU




















Ninguém procura saber,
Só tu sabes quem eu sou.
Sou a luz da chama a arder,
Quando o fogo s'apagou.

Por encantos ou feitiço,
Ou porque tenho 'sperança...
Sou a presa do capricho
Que me anda na lembrança.

Sou pessoa de bondade,
Nós dois numa unidade,
Como rosas num jardim...

Sou a abelha na flor
Em busca dum grand'amor
Que brinca dentro de mim.

Modesto

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

JÁ POUCOS DIZEM "AMO-TE"




















Agora poucos dizem: « Como te amo!».
Talvez porque quer safar da memória
As recordações dum amor de engano
Que se transformou numa velha história!

Então, porque é que eu 'inda me'ufano
De morrer de amores, mesmo sem glória...
S'o que era sagrado virou profano
E o amor a brincadeira secundária?

Eu nunca quis transpor versões proibidas.
Sempre usei todas as formas permitidas
E as paixões não descuidei jamais.

Hoje, padrões de amor foram vencidos!
Então, uso flores em vez dos sentidos,
E procuro amar-te nos roseirais!

Modesto

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DE PASSAGEM
























Passa vento de Outono
Que vem derrubar a tarde,
Caem velhinhos com sono,
Enquanto a fogueira arde.

E passa o tempo louco,
Derrubando os meus sonhos...
Caem por terra, mas pouco,
Porqu'ainda há medronhos!

E eu caio no vazio,
Comigo o coração.
Vou viajar no navio,
Deus sabe com qu'intenção!

Vou atravessar o rio
No barco dos meus favores.
Já todos tremem de frio...
Agasalho-me com flores!

Modesto

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

SONHOS DA ALMA



















Minh'alma anda a sonhar
Sozinha e acompanhada,
Qu'às vezes vivo a pensar
S'a alma sonha acordada!

Mas sonho é fio d'água
Que se vai entregar ao mar.
Muitos afluentes de mágoa,
Lá se escoam sem parar!

Vou ser simples como a flor
Que sonha sonhos calados:
Há quem morra sem grand'amor
E sonhos não realizados!

Sou como curva da estrada
E sonho que vou mais além:
Sonho sozinho e sem nada
Qu'é tudo o qu'a alma tem!

Meus sonhos são de esperanças:
Quimeras que ceifam as flores
Nas primaveras das crianças...
Mas conservam as suas cores!

Modesto

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FANTASIA
























O sol já se pôs,
Deu lugar à lua
Que veio maternal
E, numa ronda atenta,
Vigia natural,
Interpreta os sons
Da quadra do Natal...

Quando cai a noite,
Até os próprios rios
Procuram o seu leito.
As águas acalmam,
Tudo é perfeito
E com grande brio.

Aves apressadas
Vão em debandada
Para recolher.
Já canta a rãzada
Que parece afogada
E não se deixa ver.

Cantam nos seu charcos
Girinos batráquios...
Natureza viva.
Nos rios, os barcos...
A pesca se aviva,
Nos meios aquáticos.

Tudo vai descansar.
Já nada quer mexer...
De cabeça a cambar,
Querem adormecer.

Modesto

domingo, 1 de dezembro de 2013

VIGIAI: JESUS VISITA-NOS

















Abro portas e janelas,
Preparo Tua visita...
Sei que nos vens avisar!
Organizo-me atento,
Embora em ritmo lento,
Com intenção d'esperar!

Os ruídos são intensos,
Corrupios são imensos,
Não me deixam T' escutar...
Com os fios do desejo,
Teço a rede do ensejo,
Para poder VIGIAR!

E assim sigo seguro,
Nos vazios do futuro,
Mas com vontade tamanha...
Vou esperar Tua vinda,
Pôr a minha alma linda,
Pra T' encontrar na Montanha!

Modesto

sábado, 30 de novembro de 2013

UM BELO OCASO



















Cai a tarde. O ar sereno não aquece!
Dilui-se na montanha o poente lindo!
Recolho-me em êxtase com uma prece,
Tremo porque fria geada vai caindo.

É distante a estrada e desce... desce...
Vou triste, pois desmaia o azul infindo!
A sombra da montanha, cada vez mais, cresce.
O horizonte apaga-se... Vai fugindo!

E a turba febril das horas agitadas,
Num êxodo estranho, vivendas fechadas,
Só no jardim soluça repuxo sonoro!

Foge, de todo, a luz ou se distancia,
O silêncio é maior... rua vazia!
Vem tristeza... a sombra aumenta... eu choro!

Modesto

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

PELA MANHÃ



















Os raios do sol me tocaram lentamente
A anunciar um belo amanhecer.
Um'imagem encheu-me de paz levemente
E um sorriso estampou-se no meu ser.

Raramente tenho ficado nest' estado,
Parecia haver estranho ritual!
Apagaram-se as linhas do meu passado,
Houve um encontro de almas casual!

E fiquei, então, um momento a pensar
Qual era a lição de vida que queria
Dar ao meu rosto e, suavemente, amar,
Num lindo amanhecer que acontecia!

Mais tarde, veio a dor e a solidão
Quando fost' embora, empurrando meu peito!
Uma lâmina rasgou o meu coração
E a angústia deixou-me neste jeito!

Modesto

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

LETRAS DE SOLIDÃO
























Passeei minhas letras ao acaso,
Onde teus doces olhos iluminam,
Brinquei com palavras fora de prazo
E tentei saber o que me ensinam.

Sonhei com flor perfumada e pura
Tão brilhante que meus olhos faiscaram,
Bebi teus beijos que são de doçura,
Senti tuas mãos que m'alucinaram.

Outro sonho, porém, interrompeu,
Com um sorriso que alguém me deu...
Foram letras de solidão sentidas.

Fiquei sozinho... Amores distantes,
No silêncio que sentia antes
Com letras prás minhas dores trazidas.

Modesto

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

POEMAS DO DIA DE ONTEM
















Nos meus versos tão versáteis,
Já falei de "amanhecer".
Extremei meu sentimento,
Escrevi "anoitecer".
São fenómenos saudáveis
Qu' assumem ao pensamento.

O silêncio da folhagem
Lembrou o amor antigo,
Transportou-o em viagem
E mexeu mesmo comigo!
E à sombra da paisagem,
Palavras dão-lhe sentido,
Murmurando na aragem:
Entardecer! Colh' abrigo.

Cores que recebem luz,
Tomam do sol no poente,
Qu' extremamente reluz
E o dia fic' ausente,
Recolhe no seu vagar
O fulgor que pode dar.

O dia volta a nascer
'inda azulado verde
E ninguém quer parecer
Qu' assim a noite se perde.

Modesto

terça-feira, 26 de novembro de 2013

FOI HÁ MUITO TEMPO



















Inquieto e com vontade de viajar
Ao acordar de um sonho esfacelado,
Ouço p'la noite melodias d'encantar
E uns enormes bombos sempre a rufar.

Em vez de me aquietar, de me deitar,
Sinto-me arrancar como velho detrito,
A precipitar-me e a ir pelo ar
Em voo picado rumo ao infinito.

Caí por terra, jardim do meu coração,
Num canteiro de manjericos, açafrão...
Lugar que para mim, hoje, inda fulgura.

Eu queria entender o voo dos pássaros
Também queria viver nos tempos jurássicos...
Mas há um deserto que está em clausura.

Modesto

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

OUTONO



















Chegou Outono em arrufos de vento.
As folhas desmaiam, embaladas p'lo ar
E vão caindo... caindo... em desalento,
Devagar, lentamente... no chão vão pousar.

O céu perdeu o azul, vestiu de cinzento,
Envolveu a neblina na luz do luar.
Caminhos atapetados cada momento,
Há o gemido das folhas a expirar.

O arvoredo acaricia seus ninhos,
O vento ciranda na curva das estradas
E eleva as folhas em redemoinhos.

O vendaval leva folhas secas em bando,
Aragem soluça entre as ramas curvadas,
Ouve-se arvoredo em coro chorando.

Modesto


CRISTO REI DO UNIVERSO





















Quem, no mundo, não tem o seu calvário,
E carrega sua cruz... Diz-me quem?
Nosso sofrimento pode ser vário...
Maior ou menor, não foge a ninguém!

Procura consolar-te no Sermão
Que Cristo pronunciou na montanha:
Na terra, tudo passa, tud' é vão!
A sombra do pecado t' acompanha...

Em tod' a part' existe a Luz de Deus,
Como a guiar sempr' os passos teus,
Tua vida, mesmo que seja mansa.

Cristo Rei ganhou-nos a Salvação,
Da Sua Cruz veio Ressurreição,
Com Ela, deu ao mundo esperança!

Modesto

sábado, 23 de novembro de 2013

JARDIM VOLUPUOSO



















Tens as tuas mãos geladas
Pra cortar aquela flor!
Pois, não cortes... São amadas,
São beleza do amor!

Mas há rosas desfolhadas!
Tristeza d' alma e dor...
Nestas belas madrugadas,
Amantes fazem amor...

Há um jardim pra entrar:
Escuta o qu' a alma diz!
Lá dentro podes sonhar,
Mas sais de lá infeliz!

A volúpia das rosas
Tem amor e ilusão.
Há delícias amorosas...
Deixas lá teu coração!

Modesto

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

É MANHÃ!

















As estrelas desapareceram,
O frio aperta,
Os pássaros já perceberam,
O galo deu o alerta...
Amanhece!
O sol desponta,
Apaga os rastos da madrugada,
Enxuga o orvalho da verde relva.

A infância volta a ser lembrada!
Com o cheiro da erva molhada
E aquelas recordações
Em que tudo passava por renovações,
Descobriam-se novas formas de prazer,
De sentimentos, de sonhos e de lazer...
Porque havia liberdade
De ser e ter propriedade
Do novo dia
Que reluzia,
Prenúncio de nova alegria
Que espalhava a aurora,
Sem pressa de ir embora
E se escondia no horizonte...
O sol já bebe na fonte!
E nós, felizes e descansados,
Agradecíamos os sonhos sonhados
E o ter fugido o breu
Cada um sabendo que sobreviveu!

Modesto

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

ENQUANTO TUDO DORME



















Enquanto tudo dorme, sinto alegria,
Pesquiso o alto que está luminoso,
Abóbada 'strelada de frente alumia,
A noite oferece um céu radioso.

Penso noutros sóis, decerto, resplandecem,
Mas para os entender, só predestinado...
Adormecendo, só a minh' alma aquecem...
É por isso que o céu fica iluminado.

Na hora, a noite, docemente, me brinda
E comtemplo comovido festa infinda:
Vejo estrelas dançando lado a lado.

Há uma sombra escura e taciturna:
Misterioso rei desta festa noturna,
Só pra isso é que o céu foi iluminado.

Modesto

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

AMANHECER
























Amanhece!
Há o cheiro da terra orvalhada,
De folhas molhadas
Que invade a minha alma,
Atiça-me os sentidos,
Aguça-me os desejos
Que vibram sem calma!
Suave cheiro que envolve momentos,
Acaricia a alma,
Renova e dá alento...
No peito bate um sentimento
De sensação envolvente,
Em formas de fragrância
Que entontece a gente,
Como se fosse criança!
É um aroma eloquente
Que remexe com os sentidos,
Desperta desejos incontidos,
Com deliciosas emoções
E inexplicáveis sensações!
Há um prazer extasiante,
Logo que surge o sol exuberante!

Modesto

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ENTARDECER NA MONTANHA




















Na tarde fria, pelo céu em festa,
Pássaros gritam e ouvem-se longe.
Há mil perfumes de tomilho e giesta...
Silêncio e já reza o monge!

Devagarinho vêm as estrelas,
Abrem no alto seus olhitos piscos.
Ouço cantigas, pelo ar, singelas...
O gado manso volta aos seus apriscos.

P'la minha janela sempre aberta,
Ouço vozes, rezas de humildades...
Há o perfume das urzes em flor.

Tudo se cala: O amor desperta,
Quando da Torre soam as Trindades:
Hora doce de saudade e amor!

Modesto

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

À PROCURA DAS ESTRELAS
























Faz frio! Eu vou buscar agasalho.
Oh! Lágrimas... Eu luto por vencê-las...
Vou na estrada, minha mágoa espalho.
De olhos abertos, procuro estrelas.

As flores já choram lágrimas d' orvalho,
Trémulos, vivas... mas não consigo vê-las
Porqu' as folhas balançam em cada galho
E toda a Criação chora p'las estrelas.

Sigo tristonho... Baila pelo espaço
Um lamento por aquelas que ficaram
Sem o amor, sequer, para entendê-las.

Fica a minha dor por onde eu passo...
Olho o céu... As mágoas debandaram
Com o 'splendor brilhante das estrelas!

Modesto

domingo, 17 de novembro de 2013

SENTIR E PENSAR
























Tenho tanto sentimento
Qu' é fácil persuadir-me
De que sou sentimental.
Mas eu posso redimir-me:
Não passa d' um pensamento
Que não sinto, afinal.

Mas se viver como vivo
Esta vida qu' é vivida
E outra que é pensada,
É vida que sobrevivo,
É a que é dividida
Mas é a qu' está errada.

Qual, porém, é verdadeira
E qual errada? Ninguém
Me saberá explicar,
Porque vivo de maneira
Qu' a vida que gosto tem
Este modo de pensar.

Mas eu tenho um horizonte
Qu' é a minha caminhada
Donde nasce a esperança:
Luto com garra de fronte
Com gente desanimada
Qu' o optimismo alcança.

Modesto

sábado, 16 de novembro de 2013

E ASSIM VAMOS
























No ar leve há perfume de rosas,
Na minha voz solidão sufocada,
Há um tremor na tua voz cansada...
Mas horizontes e manhãs luminosas!

Promessas de amor nas madrugadas,
Como s' a vida toda resumisse
Só em dizer "amor" e se sumisse
Com mágoas, dores indesejadas!

Mas nós aqui, vivemos e amamos
A pedir do infinito possível
Piedoso abandono visível.

O presente é ponto de chegada
Entre um começo e outro, há nada,
Excepto o viver a que aspiramos.

Modesto

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

ONDE?

















Em qualquer recanto onde existam rosas,
Qualquer rua escura com bom ou mau tempo
As palavras soam sem ser indecorosas...
Talvez eu me mate só d'encantamento!

Onde haja caminhos e se vá com regras,
Ou estradas largas com luzes acesas,
Passarinhos voem pela noites negras...
Onde haja esperança e belezas!

Onde haja a certeza que tem alegria
E onde o túnel do mal jamais existe
Como as flores que se dão a Maria
E onde o bem não deixe ninguém triste!

Onde tribulação seja um instante
E todos consigam manter sua calma...
Talvez eu não morra e mais me encante,
Onde o amor e a vida tenham alma!

Modesto

TERNO AMOR















Não seja meu amor mero passageiro,
Neste bosque florido e com quimeras,
Onde a esperança 'stá em cativeiro,
Lembrando-nos dos encantos das esperas.

Nossas vidas eram um cancioneiro
Com memórias do amor de quantas eras
Migradas de entre pedras pró canteiro,
Onde plantámos a flor das primaveras.

E os dias não nos eram enfadonhos
E deixavam-nos fluir em nossos sonhos,
Como almas gémeas de travesseiro.

Devia ser o amor que era tanto,
Transcendendo os limites do encanto
E era tão terno quanto verdadeiro!

Modesto

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

OS PARDAIS DO MEU TELHADO
























Numa tarde, ao pôr do sol,
Nuvens ameaçam chover.
Os pardais com o arrebol,
Procuram onde recolher.

Quando olhei prós meus beirais,
Vi um 'V' neles desenhado:
Era um bando de pardais
Encostados no meu telhado.

Num pra lá e pra cá constante,
Com seu bonito chilrear,
juntam-se em bando cantante,
Sentindo mau tempo chegar.

E este bando de pardais,
Estão em grand ' excitação:
Pousam juntos nos meus beirais
A chilrear lamentação.

Da janela, entre arvoredo,
Outro bando vi abrigar.
Parece que perderam medo,
Soltando um lindo cantar.

Não entendi a decisão
E fui a janela fechar.
Mas foi grande a emoção
Acordar com belo cantar.

Modesto

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LIVRAI-ME
























Em silêncio eu rezo
E peço por tudo o que mais prezo,
Livrai-me:
De toda a mágoa que me impede de sorrir,
Das más intenções que me impedem de Te seguir,                           
Dos maus pensamentos que me tiram a paz,
Da incapacidade de ver o bem que o outro faz,
Das más palavras que me levam ao caos,
De pensar que os outros é que são maus...
Livrai-me:
Dos maus corações,
Das más intensões,
De tudo o que cá dentro me faz mal,
Da corrupção da vida real...
Livrai-me:
Da falta de fé,
Da falta de sonhos,
Da falta de paz...
Para que, assim, me torne livre
De tudo o que me prende,
De tudo o que ofende
A minha liberdade,
A minha sensibilidade,
A minha humanidade...
Dai-me:
A liberdade de ser,
O prazer de sentir
A Natureza a florir!

Modesto

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

DIA DE S. MARTINHO

















Foi santo, segundo a lenda,
Foi caridoso para com um pobre:
Da capa fez um manto como prenda,
Pra o cobrir do frio, gesto nobre!

Conta-se qu'o dia era gelado...
Depois de tapar o pobre, do frio,
Um sol brilhante e acalorado
Surgiu rapidamente do sombrio!

Assim é o Verão de S. Martinho,
Que no Outono álgido, cinzento,
Com castanhas assadas e bom vinho,
Comemora-s'alegre o evento.

Viva S. Martinho, Soldado Santo
Que nos deu esta festa d'alegria!
Castanhas e vinho: fazemos canto,
Com sol e vinho, se festej'o dia!

Modesto

TUDO PASSA

















Já tudo vai tão longe!... A mocidade,
Logos, pathos, eros, e...ainda mais!
Juras qu'iam até à eternidade,
Concepções do mundo... muitos ideais!

Crepúsculos de rara suavidade,
Carícias embrulhadas em cristais...
Havia sempre a terna novidade:
Afectos, ritos, gemidos musicais!

Esses ritos e gemidos musicais
Sumiram-se em dispersos vendavais...
Ficou a saudade e o extravio...

Foram-se os sonhos, ou são dissonantes...
A vida já não é o que era dantes:
É um gemer de ais e um desafio!

Modesto

domingo, 10 de novembro de 2013

ESPAÇO DE DELÍRIOS
























A minha visão do mundo
É a mesma que tu sonhas:
sem correrias medonhas,
Nem egoísmo profundo.

Disto nunca mais nos toca!
O sistema do planeta:
Cada um com sua treta
E viver a vida oca!

Competição e consumo,
Seja adulto ou criança,
Já não tem mais esperança...
Assim, não muda de rumo!

Lágrimas sem sentimento
E mágoas soluçantes...
Não há vida como dantes!
Só actos incongruentes.

Venha o sol iluminar
A dispersa multidão,
Lacaios em pelotão...
Se volte pró verb'amar!

Modesto

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ROSA VERMELHA



















Queria ouvir uma canção amena
Acompanhada da água corrente
Que destila da mágoa toda pena
Que um grande amor ingénuo sente.

Queria escutar a cítara de alfena,
Arco curvo como tua alm'ardente
Que me faz doer numa paixão extrema
Como rosa vermelha do oriente.

O amor que ao princípio me fez
Com qu'os olhos se espelhassem nos teus,
Durou doces horas tão deliciosas!

Queria que me fosse dado uma vez
Repousar no teu corpo como um Zeus
Numa mortalha de pétalas de rosas!

Modesto

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

GOTAS DE CHUVA
















Cai chuva, não alivia.
Brilha sua transparência,
Mostra sua harmonia,
Molhando a inocência.

Cada gota no seu posto,
Salpica as expressões
Que, caindo no teu rosto,
Te vão fazer sensações.

Humedecem peles frias,
Ou deslizam pela pele:
Hidratam as nostalgias
Com emoções de vergel.

E há rajadas de ventos
Que trazem melancolias,
Lembrando outros momentos
Qu'o vento enlouquecia.

São gotas e um gotão
A dançar bem abraçados,
Dirigem-s'ao coração
Deixando-o tão molhado...

Modesto

VONTADE DE TE BEIJAR

 Estava no meu quarto A pensar na minha vida... A minha vida sem ti,  Minha querida, percebi O valor do meu amor, Do meu amor por ti. É a ti...