segunda-feira, 30 de março de 2020

O TEMPO E A ALMA















Minha alma não é minha, é de Quem
Fez o tempo neste espaço gigante.
Nestas horas em qu' existo sou alguém:
Uma sombra de luz de um céu distante.

Minh' alma vem de longe, muito além
Das muralhas eternas do mund' errante.
Não sou mais e nem menos do que ninguém,
Sou apenas um fragmento do instante.

Eu sou pó, partícula esmigalhada,
Feito d' alma, pele, ossos e mais nada
Nesta imensidão cósmica perdida.

O meu tempo é um vulto nos espelho,
Só o chão é meu enquanto m' ajoelho
À espera qu' Alguém guarde minha vida.

Modesto

sexta-feira, 27 de março de 2020

FLORES EM SUSPENSÃO



















O sol desponta na fresca atmosfera,
Desperta névoas em sombras dormidas.
O vento ruge num grito de quimera,
Mescland' essências nas ruas floridas.

Lírios, goivos, jasmins e margaridas:
Mosaico de cores duma nova era.
Pétalas no ar, qual asas coloridas,
Mil borboletas abrem a Primavera.

Pardais e melros na galha retorcida
Nesses jardins, nas margens da avenida,
Em paz dividem a semente madura.

Dois mil e vinte, linda manhã de Março
Entre o verde, o ouro do sol baço,,,
Sigo, gravando meu olhar na pintura.

Modesto

domingo, 22 de março de 2020

CHEGOU A PRIMAVERA

















Chegou delicada, embaciada,
Salpicada com as suas mil cores,
A Primavera linda, enfeitada...
Consigo trouxe suas belas flores.

Verde a paisagem modificada,
Os jardins ficaram mais sedutores
E já canta toda a passarada,
Pequeninos e alegres cantores.

Destaca-se entre as Estações
E espalha no ar as vibrações,
Pra presentear nossa Natureza.

São três meses que vão espalhando,
Com o seu colorido vão pintando
À nossa volta dias de beleza.

Modesto

sábado, 21 de março de 2020

AMO-TE














Amo-te ao largo, alto e profundo
Tanto quanto a minh' alma transportada
Sente, alongando os olhos plo mundo,
Os fins do ser, a graça entressonhada.

Amo-te cada dia, hora, segundo
À luz do sol e na noite sossegada.
É tão pura a paixão que m' inunda
Quanto o pudor de quem não pede nada.

Amo-te com o doer das velhas penas
 Amo-te até nas coisas mais pequenas,
Com fé infantil, ingénua e forte.

Com os sorrisos e lágrimas de prece
Por toda a vida, assim Deus quisesse:
Ainda mais t' amarei depois da morte.

Modesto                                       













sábado, 14 de março de 2020

DELÍRIO AO PIANO














De Beethoven mais doce qu' um carinho,
Meu piano fervente soluçava.
Na minh' alma um sol feito em vinho,
A cada nota ele lá vibrava.

Parecia-me música d' arminho,
Perfume de lírio que cantava
Uma canção "dolce" e bem baixinho,
Estrela d' alva no céu entoava.

Incomparável piano! - Eu cria
Ouvir no 'spaço uma harmonia
Bela, serena, sonora e nua...

Com as visões das ninfas do meu Douro
Cantando no ar brilhantes de ouro...
Toco dolente com uns tons de lua.

Modesto

quinta-feira, 12 de março de 2020

SONETO À FILIPA















És pequenina, ris... A boca breve
É pequeno delírio cor-de-rosa!
És cofre de beijar, flocos de neve,
Haste de lírio frágil e mimosa!

Quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que te fez assim graciosa!
Fez-te nascer como perfume leve
Desta vida amarga, tormentosa...

Só ver teu olhar, faz bem à gente!
Teu lindo nome diz suavemente
Que cheiras, sabes, na boca, a flores!

Pequenina qu' a tua Mãe sonhou!
Fica com a rosa qu' hoje te dou:
Que afaste de ti todas as dores!

Modesto

segunda-feira, 9 de março de 2020

AMANHECER NA SERRA















Contempl' o sol a despontar na serra
Pra sempre, o que é bom prá floresta.
Cortinas de névoa no ar descerra,
Esta manhã alegre e de festa.

O melro com seu gorjear encerra
A dança no galho da nespereira.
O vento leva o cheiro da terra,
Espalha-o pela mata inteira.

O céu 'stá azul e verde o campo!
Vem a luz, repousa o pirilampo.
Flores abrem a exalar perfume.

O galo canta livre no terreiro.
Passa por mim, corre, um cão trigueiro.
Todos os bichos fazem o costume.

Modesto

terça-feira, 3 de março de 2020

VIVEMOS NO ENGANO




















Qu' outra verdade haverá senão pobreza
Nesta vida tão frágil e leviana?
No berço ganhamos honra e riqueza:
Os dois embustes são da vida humana!

O tempo! Esse não volta nem tropeça
Na hora fugitiva - só a engana!
A fortuna faz cansar nossa cabeça
Com errado ansiar sempre tirano!

Viva a morte calada, divertida
 No próprio alimento combativa
Com nossa vida, saúde e com guerra...

Todos trememos ao ver tombar a vida
 E pouco fazemos para que seja Vida...
Oh!Quanto, distraído, o homem erra!

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...