sexta-feira, 18 de junho de 2021

MADRUGADA SILENCIOSA








A noite calou-se e emudeceu
Por todo o canto dado à madrugada.
Minh' alma inquietou-se acordada
Sozinha ali, no quarto, entregue a seu breu.

Nem som de carros, passos, risos... nada!
Nenhum barulho se fez, transcorreu,
No tempo qu' o destino concedeu
Ao meu penar, na noite enluarada.

Tentei ouvir corujas ou latidos...
Mas, os minutos meus emudecidos
Fizeram-me da solidão cativo...

Só silêncio ouvi. Nenhum ruído.
Perguntei à madrugada, constrangido:
Será qu' este meu eu 'inda está vivo?!

Modesto
 

sábado, 12 de junho de 2021

CONSELHO À CHUVA











Bendita sejas chuva, minha amada,
Que alegras os cais tão prazenteira
Sobre os rúbidos cachos de videira,
Desta videira antiga, aqui plantada.

Vens à minha janela envidraçada,
Minha humilde chuva sorrateira.
Beijas, como o luar, a noite inteira
Os cachos rubicundos da latada.

Antes fosses cair, placidamente
Num gesto de ternura transcendente,
Nas ressequidas torgas de altos montes!

Não chovas no molhado, minha irmã!
Não imites os homens! Com afã,
Vai matar sedes onde não há fontes...

Modesto
 

sábado, 5 de junho de 2021

POESIA SEMPRE NOVA







Esta poesia nova tão cansada...
Que te disse a deusa na agonia?!
Sulca-te o rosto densa nostalgia:
Suspiras pelos risos da alvorada?

Já foste uma moçoila nacarada,
Leda e canora como a cotovia.
Agora, és lambisgoia retardia,
Refluxo de megera encarquilhada.

Despiram-te no teu véu da mini-saia,
Deram-t' um corpo oblongo de Himalaia,
Por alma apenas te deixaram sexo.

Minha velha poesia sem corcova,
Sorri de novo à gente! Manda a nova
Cobrir-se ao menos dum verniz de nexo...

Modesto


 

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...