quarta-feira, 22 de novembro de 2023

NÃO DIGAS QUE NÃO PODES

 Não digas que não podes: Podes tudo,
Se quiseres poder e trabalhares
Sem medo de fantasmas que a miúdo
Te surgem nos caminhos mais vulgares.

Não digas que não podes. Se quiseres
Depressa vencerás as próprias feras,
Os cardos mudarás em bem-me-queres
E os invernos em verdes primaveras.

Olha as formigas como são teimosas
E saem vencedoras das batalhas;
Sobem às torres como as mariposas
E vivem gorduchas só de migalhas!

Não ouças, não, o "Velho do Restelo".
Enfrenta o mar, bem agarrado ao leme!
Ouves das Índias o constante apelo?
- Se a alma é forte, o coração não treme!

Modesto


terça-feira, 14 de novembro de 2023

CHEGOU A MEIA-NOITE

 Chegou a meia-noite. Vem cansada
Da longa caminhada que fizera,
Das vinte e quatro horas que tivera
De percorrer em marcha acelerada.

Sofreu a frigidez da madrugada,
Das três da tarde a calmaria austera;
Incrível que pareça, não pudera
Furtar-se aos raios duma trovoada.

Chorou ao ver os pobres pobrezinhos
Calcorrearem ínvios caminhos,
Buscando qualquer coisa de comer...

Chegou a meia-noite cansadinha.
No seu escuro rosto se adivinha
Que quer ver o dia a renascer...

Modesto

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

VIVO NUM VALE

 Aqui, no vale escuro da montanha,
Eu me encontro, a carpir o meu destino...
Nuvens não querem ir, nem luz me banha,
Nem vejo qualquer riso purpurino.

No cimo da montanha já vivi,
Quando tinha o calor da mocidade.
E para ela, aos poucos, eu subi
E a alma lá enchi de imensidade.

A vida é como um rio que começa
Numa cantante fonte cristalina,
E no seu deslizar leva a promessa 
De encontrar uma foz quase divina.

Agora, o sol da vida está morrendo
Aos poucos, neste vale escuro e triste;
Mas o sonho da luz ainda existe,
E espero que no vale irá crescendo.

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...