quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

MANHÃ CINZENTA



















Oh! Manhã sem sol, cinzenta e fria!
Brisa dolente, pássaro que trina...
Contrista meu viver e m' angustia,
Os sinos tangem... Tudo combina!

Estranha sensação meu ser invade!
Repasso, com afoito, os meus sonhos
Que diviso, além, numa saudade,
Dos meus dias passados, tão risonhos!

Oh! Manhã sem sol, cinzenta e fria!
Mandaste embora minh' alegria...
Bendigo-te, mesmo assim, ainda.

És uma manhã fria e sem sol,
Flor desabrochando no arrebol
Duma saudade bem terna e linda!

Modesto

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

OS MEUS PASSARINHOS



















Já aí vêm os meus passarinhos,
Os tais que me visitam dia a dia,
Aos quais dou alimento e carinhos...
E eles dão-me paz e alegria.

Não encontram, decerto, nos seus ninhos
Mais ternura, sequer mais simpatia,
Qu' aquela que no pão, aos bocadinhos,
Vai do meu coração dia após dia.

Acorrem, lestos, ao meu chamamento,
Não certamente só plo alimento,
Mas plo amor que meu gesto irradia.

Cheios d' ingenuidade e beleza
São os mimos com que a Natureza
Dá lições d' humildade e harmonia!

Modesto

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

TRANSFIGURAÇÃO

























Suave, entre Moisés e Elias, nasce
A bela flor sem igual na Natureza,
Qu' em corpo de homem se transfigurasse,
Sagrado lírio d' ideal pureza.

É de cristal a veste branca, a face
Resplende em sereníssima beleza!
Temem qu' o Mestre em névoa se mudasse
Os Discípulos 'stão mudos de surpresa!

Ouve-s´uma voz de amor no céu d' estio:
«Est' é o Meu Filho Amado, ouvi-o»...
E, sozinho, no Tabor, está Jesus!

Homem, Filho de Deus e a Deus unido
Verás, aquando do último gemido,
A transfiguração da Carne e Luz!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

A BELEZA DA IDADE



















A beleza dos primeiros cabelos brancos
São como fios de prata a decorar
A vida que passa. Isto não me traz prantos...
Levo da vida a pureza d' os olhar!

O dia tem sempre sol e o seu valor.
A noite traz sempre o amanhecer bonito.
O meu corpo sofre, mas não temo a dor...
Já me habituei a viver neste rito!...

A idade é fonte que me embeleza,
A mente acolhe a flor da Natureza,
A alma aflora com enorme doçura!

Os olhos fitam os caminhos percorridos,
Eu recordo-os com enlevos destemidos,
Como a borboleta, voam à procura!


Modesto

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

PORQUÊ CABELOS BRANCOS?




















Cobrem-m' a cabeça cabelos brancos!
É pela idade? Nessa não vou!
Vou prá aldeia com meus tamancos
Cultivar a horta e... lá vou...

Cabelos branco, vá, sejamos francos,
'Inda novo, meu pai os encontrou!
Mistério vê-los - Tive espantos,
Em menino, meu avô mos mostrou!

Nem caiu neve, nem havia gelo:
Eu já só olhava pró meu cabelo,
Com ingenuidade de criança.

Atento à cor, não queria tê-los
Ruços cabelos, doía-me vê-los:
A primeira tristeza da infância!

Modesto

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

SONHAR A VIDA



















Os sonhos alimentam-se da esperança
Naquele que planeia tudo e tudo pode.
É Deus que lhes retribui a perseverança...
Separar-se do tempo certo, não se pode!

Num sonho há imaginação e magia,
Unindo-se, vão lutando para vencer.
Tornam o sonho em paz, amor, harmonia...
Nós não o largamos, até acontecer!

Sonhos ultrapassam a imaginação
E multiplicam-se no nosso coração...
Ser alguém, tem que fazer a diferença!

Vencer, superar-se no desenvolvimento,
Sem derrubar o próximo com seu lamento,
Pois concretizar os sonhos é ter presença!

Modesto

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

TRANSPARÊNCIA



















Não deveria, não, mostrar-me assim
Tão desnudado, de alma transparente!
Talvez eu dê ensejo a rir de mim,
Por inveja, malquerer de muita gente...

Sentinela, atalaia dum fortim,
Devia esconder-me prudentemente,
Guardar os meus cuidados só pra mim,
Tal como a mãe-terra guard' a semente.

Mas não! Porque não cabem no meu peito
E extravasam do meu caminho estreito
Os conselhos da vida qu' ao mundo dou?

Mãos francas, alma aberta sofredora,
Sem reservas, mostro-m' inteiro, agora,
Tal qual como Deus me quis e me criou!

Modesto

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

POEMA MODERNO




















Sou um apaixonado da palavra
E da estética do lugar.
Expresso os meus pensamentos,
Logo que os meus olhos falam
E os meus sentidos saboreiam.
Sinto os odores da vida,
A beleza da Natureza,
Os amores naufragados,
 Os sonhos junto ao cais...
Passeio pelos campos e montes
Para ver o pôr do sol,
Ou tocar na neblina matinal,
Voar nas nuvens de lã
E, do alto, enxergar o horizonte
Rendilhado com as cores do arco-íris,
Desvelar os segredos dos montes
E tocar com os dedos nas nuvens...
Fazer uma cabana debaixo dos penedos
E esperar a chegada do amor...
Com os olhos penetrar o horizonte
Que me chama para a festa da vida,
Num banquete silvestre
Com pétalas de preciosidade,
Nas núpcias que me apontam o Infinito.
E, assim, a minha pena
Vai pintando páginas
Com sibilinos audaciosos,
Onde as palavras denunciam o meu íntimo
E, cada palavra, é um desnudar exótico,
No meu porto de mar revolto.
Sinto a planície
Como seara que brota,
Com a ajuda das gotas de orvalho,
O germinar do grão dourado...
Tudo isto é poesia actual
E linda!
Só lhe falta a ARTE!
Apenas se saboreia
A epiderme das palavras.

Modesto

domingo, 18 de fevereiro de 2018

PELA AURORA
















Campos fora, campos dentro,
Lá vai correndo ligeiro.
Vai a correr contr' o vento
E eu sou seu companheiro.

Campos dentro, campos fora,
Lá vai singrando ligeiro,
Às cores vivas d' Aurora,
Cruzando campo inteiro.

- Onde vais assim tão cedo,
Rumo ao verd' arvoredo,
Levando meu coração?

- Vou caminhando contigo,
Meus olhos vêem, amigo,
Beleza n' imensidão!

Modesto

sábado, 17 de fevereiro de 2018

O ENCANTO DOS OLHOS














Os olhos azuis são doces,
Os negros são verdadeiros,
Dos castanhos tenho posses,
Os verdes são mais certeiros.

Dos azuis quero o fogo,
Dos pretos quero saber
Se nos castanhos m' afogo...
Nos verdes quero viver.

Nos azuis o céu s' encontra,
Negros são vulcões d' amor,
Castanhos paixão de montra...
Verdes são de mais valor.

Modesto

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

VIVO CANTANDO

























Eu canto, porqu' o agora existe
E a minha vida está completa.
Não estou alegre, também nem triste.
Tenho a aparência de poeta.

Eu sou irmão das coisas fugidias,
Não gosto de gozo nem de tormento.
Atravesso as noites e os dias
Ouvindo zunir, nas folhas, o vento.

Eu canto - a poesia é tudo:
Tem sangue eterno, asa ritmada!
E sei que um dia estarei mudo
E já não haverá canto nem nada!

Modesto

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

















É muita a esperança que me sobra!
Sei qu' a cinza me reduzo, pó domina.
Quand' ouço o toque do sino que dobra,
Ele dá-me força, chama e m' anima.

Jejuei sempre na vida com vontade
De ser vela infunad' ao vent' acesa.
Se morre a chama débil qu' em mim arde,
Só me sobram as cinzas sobre a mesa!

Sou pó da terra e com mal às mãos cheias,
Bem tingido com o sangue destas veias,
Como o sangue que jorra dos martírios.

Sou tão pouco e em cinzas ficarei...
Espalhem-mas pelos rios que cantei,
Ponham-m' uma rosa num ramo de lírios....

Modesto

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

CARNAVAL













Na juventude, veste-s' a folia,
No Carnaval, veste-s' a ilusão...
Passa tão depressa a fantasia
E só ficam cinzas no coração!

Toda a máscara passa depressa
E, em três dias, vai-se a paixão.
Se pensarmos que pró ano regressa,
Vivemos um ano na ilusão.

Hoje, mascarámo-nos pela rua,
A folia da vida continua...
Amanhã, o Carnaval acabou!

E, ouvindo as marchas, eu contemplo
Qu' até o Carnaval serve d' exemplo:
Tudo o qu' era bom, rápido passou!

Modesto










segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

QUE SAUDADE !



















Vem a noite devagar,
Nesta terra d' amargura...
E nem sequer o luar
Ameniz' a vida dura!

Atrás vem acompanhar
A dor cheia de tortura..
Anda tud' a soluçar,
de dia e noite 'scura!

Porque tudo é tão triste?
Porque a noite existe?
E que saudades eu tenho!

Sei dond' a saudade vem:
Recordações, mais ninguém,
Juventude que desenho...

Modesto

domingo, 11 de fevereiro de 2018

NASCI NO SOPÉ DOS MONTES

















Como nasci no sopé dos montes,
Ond' as águas passavam a cantar
As canções das cascatas e das pontes...
As águas ensinaram-m' a falar.

Eu sei a língua das águas das fontes,
Diziam-me que vinham pra regar...
Juntavam sua voz aos horizontes,
Cantavam de saudade singular!

Agora entendo bem suas mágoas
E compreendo bem aquelas lágrimas
Ao rodopiar o penedo mudo.

Entendo os seus íntimos segredos
Ao cair dos íngremes rochedos:
Diziam-m' adeus e que Deus é tudo!

Modesto

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

INVERNO FRIO

















Tomo um bagaço, calor de momento,
Conforto o corpo, a alma aquece!
O que esfriava torna-se alento,
É desfrutar do qu' a vida oferece...

Frio, arrepio, não é bom sentir!
Beleza branca é mística paixão
Do branco dia, fria noit' a surgir...
Clima perfeito na fria Estação!

Três meses pra ver, desfrutar e sentir,
Provocam, saciam, agitam sentidos...
É um misto de cores, frios sabores!

Espera-se a Estação qu' há-de vir
Com pensamentos criados, já vividos...
Mesmo com frio, há sonho de amores!

Modesto

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

LIVRE COMO O VENTO















Eu gosto de viver como o vento,
Barco à deriva em mar aberto.
Atiro-me ao ar em sentimento,
Mas rejeito mordaça de aperto.

Não tenho pretensão de manhã fria.
Distorço, às vezes, minha imagem.
Tempero em excesso a magia...
Sou reverente, franco... mas selvagem.

Tenho a certeza do meu instinto,
Pensamento solto, na alvorada.
Mas vou, pela vida, em labirinto,
Trago no peito brasa incendiada.

Minha vida segue para a foz,
Flutuando nas águas do meu Douro.
Vou cantando, espraiando a voz,
Tenho, na liberdade, o meu tesouro!

Modesto

domingo, 4 de fevereiro de 2018

NOITE SEM LUA




















Noite sem lua, brisa calma na montanha,
Luz dos meus olhos alumia sombra 'scura.
Queria a lua mas ninguém a apanha...
Ela, sobr' as trevas, flutua na brancura.

De meu coração emana um belo cântico
Ao firmamento - Criador e criatura -
Pois vivo contente, neste lugar romântico,
Caverna aprazível, sob a pedra dura.

Vejo o horizonte na imensidão,
Num alto esguio com boa amplidão,
Noite sem lua, erma, névoa de plumas.

E, enchendo a curva desse céu vazio,
Sai dos meus lábios canção em assobio...
E o orvalho amacia as carumbas.

Modesto

sábado, 3 de fevereiro de 2018

ESCOLHER E DECIDIR

















Procuro optimismo semear,
A paz e a justiça implantar.
Digo o que penso com esperança,
Acredito que a fé se alcança,
Se tudo se fizer pelo amor
E se se esforçar por ser melhor.
Basta ter vontade de aprender,
Mesmo que tudo desabe, saber
Que é a mim que cabe escolher:
Se devo chorar ou se devo rir,
Ir ou ficar, lutar ou desistir...
O que vale, na vida, é decidir.

Modesto

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

SONHO DA NOSSA VIDA



















Nuvens que pelo céu correm,
Cobrem o sol, emergindo.
São saudades que não morrem
Dum sonho que fora lindo.

Na sombra de qualquer sonho,
Por vezes, nasc´ o futuro
'Inda verde e tristonho...
Dará bons frutos, maduro.

Sonhar, tod' a gente pode,
Pois não é coisa proibida.
A sonhar s' escrev' a Ode
Do sonho da nossa vida.

VONTADE DE TE BEIJAR

 Estava no meu quarto A pensar na minha vida... A minha vida sem ti,  Minha querida, percebi O valor do meu amor, Do meu amor por ti. É a ti...