sábado, 30 de março de 2019

BELEZAS DE ABRIL















Estou, enfim, alegre e satisfeito
E vou sair um pouco! Vamos embora...
Ver nascer o sol, já o espreito,
Por essas campinas e montanhas fora!

Deixai qu' eu faça a matinal colheita
Dos pássaros azuis, em cada aurora,
Desta bela canção em que me deleito,
Já que estamos em Abril, cantam agora.

O sol cobre a Natureza de ouro,
Reflecte os seus raios no rio Douro
E, pelo mundo, irradia, abrindo!

E já está a raiar esta beleza!
Qu' esplendor de passeio na Natureza!
O sol ilumina o mundo tão lindo!

Modesto


quarta-feira, 27 de março de 2019

MADRUGADAS














Oh! madrugada de ilusões, vastíssima,
Oh! sombras perdidas lá no meu passado,
Vinde e trazei-me a capa puríssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!

Longe das belas noites de bons luares,
Eu preferia viver entre quimeras...
Oh! madrugada azul dos meus sonhares
No apar'cer das brilhantes primaveras!

Quando vibra a última badalada
Da tarde e se cala a passarada
Na bruma escura que o céu embaça,

Quem me dera viver alegr' e risonho,
A olhar prá nebulosa de meu sonho,
Na via-láctea da ilusão que passa.

Modesto

terça-feira, 26 de março de 2019

QUARESMA: PALAVRA, CRUZ E FÉ

















Que nossos olhos saibam separar
O trigo qu' está no meio do joio.
É preciso conseguir encontrar
A fé: Qu' ela seja nosso apoio.

A Palavra, como pão, se semeia
Para se aprender a perdoar.
Nas trevas do caminho, a candeia
É a cruz pra onde se dev' olhar.

'Scutando a Palavra se renasce,
S' ajuda o próximo, lhe doasse
A Palavra que fosse lealdade.

Se acreditamos, também colhemos
Benefícios que juntos podemos
Falar da Cruz que nos traz a verdade.

Modesto

segunda-feira, 25 de março de 2019

NA PRIMAVERA



















Na tépida brilhante Primavera,
Dentro de mim rebate bem o sino.
O tempo decorre à minh' espera,
Acordando saudades de menino.

O sazonal fermento sempr' opera
E incute no corpo desatino.
A primaveril doce atmosfera
Vai toldando momento vespertino.

As flores aromáticas abertas
Temperam meu ser em horas incertas
Qu' ajudam a lascivas moções.

Como seiva de plantas verdejantes,
Os odores suaves penetrantes
Nutrem as minhas íntimas paixões.

Modesto

sábado, 23 de março de 2019

JÁ CÁ ESTÁ A PRIMAVERA

















O sol desponta na bela atmosfera,
Despertam as nuvens em sonos dormidos,
O vento rodopia numa quimera
E mescla essências nas ruas floridas.

Lírios, orquídeas, jasmins, margaridas...
Mosaico de cores duma nova era,
Pétalas plo ar, quais asas coloridas,
E borboletas... abrem a Primavera!

Pardais, andorinhas,... na galha torcida,
Por esses jardins nas margens d' avenida,
Chilreiam, dividem sementes d' agrura.

É uma linda manhã de Primavera,
Com o sol ao rubro e a verde hera...
Vou fazendo poesia e pintura.

Modesto

quinta-feira, 21 de março de 2019

LUTAR CONTRA O CORAÇÃO






















Já sofri o que devia sofrer hoje!
Só amanhã talvez... ou ainda não!
Minha ventura s' arredia e foge
E eu impotente pra deitar-lh' a mão!

Mas hei-de resistir! Que não me arroje
Como vencido a soluçar, no chão!
Não vou deixar que qualquer dor me enoje,
Mesmo que fira, bem fundo, meu coração.

Ninguém irá sabê-lo antes de mim,
Lutarei sempre, mesmo contra mim
Se for o caso. E sem desfalecer!

Continuarei de pé, sofra ou não!
Luto sem armas e sem qualquer bordão!
Só com coragem... Pra ganhar?... ou perder?

Modesto

domingo, 17 de março de 2019

NO PRINCÍPIO

























Bem lá no fundo dos tempos remotos,
Quando ainda nada existia,
Só ventos bravos, vulcões, terramotos...
Na imensidão, só caos existia.

Mares sem fundo, medonhos, ignotos,
Ronco surdo, infindável, bramia,
Lama viscosa 'scorria d' esgotos
Da terra bruta, sem forma, vazia...

Eis só quando uma luz peregrina
Passa no cosmos, o caos s' ilumina,
Terra estremece, ar bruxuleia.

Um germe fremente paira nos ares,
Pleno de força s' expande em milhares:
Nasce a vida, infinda cadeia!

Modesto

sábado, 16 de março de 2019

QUERIA SER AVE

















Ser milhafre, gavião ou condor,
Qu'ria ter asas e poder voar...
Deixar-me ir num vento bailador,
Voar plas nuvens e, assim pairar!

Alegre, ver dos campos seu valor,
Cheios de luz a produzir, pra dar!...
Ir longe, aonde nasc' o alvor
Das madrugadas, por detrás do mar...

Ser ave pra ser livre... Qu' ilusão!
Ninguém é livre, há sempre prisão
Pra cada ser, seja bicho ou gente.

D' asas cansadas e rédea à solta?
Reparo que tudo à minha volta
Me prende ao chão...  mas alegremente!

Modesto

sexta-feira, 15 de março de 2019

RELAXE DA ALMA

















Nunca estou só: Tenho Deus e um caderno
E na minha alma há a inspiração.
Se, lá fora, o mundo vive um inferno,
Cá dentro, Vive-s' o amor do coração.

Estou sempre a escrever no meu caderno,
Com a chama acesa da moderação.
Se é maior o amor num sonho eterno,
Minha poesia não vai morrer então.

Sim! Nunca estou só: Tenho a poesia
Que vive em mim numa emoção estranha
E, junto a mim, a Musa que m' acompanha.

Ela sempre gostou da minha poesia:
Ou me faz rir se eu pranteio com disfarce,
Ou vai chorando se há dor na minha face.

Modesto

quarta-feira, 13 de março de 2019

AO NASCER DO SOL















Contemplo o sol a despontar na serra
Como sempre e como a vez primeira,
Seus raios de luz a névoa descerra,
Nesta manhã linda de quarta-feira.

O melro, com o seu cantar, encerra
O lusco-fusco na bela laranjeira.
E o vento, erguendo o cheiro da terra,
Espalha-o suave na terr' inteira.

É azul o céu e é verde o campo.
Desperta a luz, foge o pirilampo.
As flores exalam um doce perfume.

O galo já canta, livre, no terreiro.
Sigo meus passos, fico mais trigueiro
E vou pelos campos, como de costume.

Modesto

terça-feira, 12 de março de 2019

PENITÊNCIA QUARESMAL



















Visto de negro, plo imortal pecado
Que envenenou nossas humanas veias.
Vem o inferno sinistro, perfumado,
Como fascinação atrás das sereias.

O sangue canta ao sol, maravilhado
Com nosso corpo d' ondas fortes e cheias,
Em qu' a carne o retém acorrentado,
Mas sabe que tem de partir as cadeias.

A alma clama, vestida de negro, quente
Com pecado mortal impenitente
E a vida em estado inquieto.

E, quando este negro mais se apura,
Ganha outra forma, graça, formosura...
Neste bom arrependimento secreto.

Modesto

segunda-feira, 11 de março de 2019

O CHEGAR DA PRIMAVERA



















Primavera gentil dos meus amores,
Lindo tempo das ilusões etéreas!
Mesmo que chova, na terra há flores
Da chuva de cintilações sidéreas.

Primavera já mostra seus fulgores
Com céu azul, nos dias mais risonhos.
Nós sorvemos o fel das nossas dores
E apanhamos o néctar dos sonhos!

Já, cedo, acabará o Inverno,
Com dias que, às vezes, são d' inferno,
Ou não deixam de ser dias tristonhos.

Já aparecem as rosas e flores,
Primavera gentil dos meus amores,
Arca sagrada dos melhores sonhos!

Modesto

sábado, 9 de março de 2019

ONDE SE ENCONTRA A LIBERDADE?



















Onde se encontra a liberdade?
No coração do homem qu' ama Deus!
Minh' alma está presa à Bondade
Que da matéria olha os céus.

Sem egoísmo agrado a Deus,
Voo com a própria liberdade
E o meu sofrer frui para os céus,
A única razão do Ser Bondade!

Espírito humano é pequeno,
Sujeito às variações do Demo
Que faz do corpo enorme fraqueza.

Então a liberdade 'stá em Deus,
No coração do homem qu' olh' os céus,
Sujeito ainda à Natureza.

Modesto

terça-feira, 5 de março de 2019

NOSTALGIA DAS NOITES DE INVERNO












Ao lembrar-me das mouras dos castelos,
Errantes nas casas abandonadas
E a suspirar trémulos anelos
Pelo alto das torres encantadas...

Traços ligeiros, trémulos, singelos,
Acordam-me com formas delicadas:
Carinhos, beijos, lágrimas, desvelos...
Saudades das ocasiões passadas!

Requintes de graça e fantasia,
Dão-me segredos de melancolia,
Da lua... Tudo sonhos d' abandono.

Desejos vagos, esquecidas queixas,
Tudo vai morrer nas frias madeixas,
Naquelas florescências do meu sono.

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...