quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

FELIZ ANO NOVO



Dois mil e vinte está a terminar.
O ano que vem talvez seja melhor,
Pois este ano foi quase um horror
Feliz ano novo ´stamos a ´sperar.

E queremos entrar com o pé direito,
Pois perdas nós vamos recuperar.
Que abram as estradas pra se viajar,
Já que quem trabalha tem o seu direito

E sabe-se que tudo não é perfeito
A cada ano que passa não há jeito,
Menos tempo teremos para viver.

O que se pode é viver o presente,
Já que o tempo é um inconsequente
E não sabemos o que vai ocorrer.

Modesto

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

É NATAL


Em frente do Presépio, recolhido,
Ouço uma voz que vem do além...
Voz transmitida, agora num vagido,
Que se ouviu na Gruta de Belém.

Vejo a luz duma estrela que reluz
Na noite que mais bela aconteceu,
Troux' à terra a mais brilhante luz
Acesa no Farol que está no Céu.

Sendo humano, sinto-me divino,
Sobre a terra nasceu Deus-Menino:
O Divino fez-se Humanizado.

Agora todo o berço é sinal,
Agora qualquer alma tem Natal,
Traz em si o Carimbo Sagrado.

Modesto



 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O SINO QUE EU OUÇO


 










Escuto pensativo a voz do sino
Que se espalha sonora na paisagem:
De longe me envia uma mensagem,
Mostrando a muita gente o seu destino.

E foi ele que contente celebrou
O meu branco e distante batizado,
Como um violino ate cantou
No meu feliz e belíssimo noivado.

É companheiro da vida desta gente
E sinaleiro de quem vai descontente,
Nos momentos de dor ou de alegria.

Quem fez o sino deve ser recordado,
Quem o toca alegra o povoado,
Já qu' é visto com amor e nostalgia.

Modesto

sábado, 5 de dezembro de 2020

O MEU CORAÇÃO


Às vezes tenho o coração na mão
Que não cabia já dentro do peito:
Foi quando 'scolhi alguém por meu irmão!
Assim meu coração ficou perfeito.

Assim, o meu coração ficou maior:
Era um cofre d' amor quase sagrado
Ou uma roseira que, na sua flor,
Oferecia sorriso perfumado.

Foi, durante muitos anos, escondido,
Esteve no meu peito o coração:
Recordava um rubi quase perdido,
Numa caverna de grande solidão.

Mas agora já saiu para a luz
E espalhou, em redor, o seu amor...
Destruiu numa alma a sua cruz:
Nela pôs alegria em vez de dor.

Modesto

 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

SONETO NA JANELA

Quis fazer um soneto na janela,
Por onde passa o sol como um sorriso...
Fui lançando na colorida tela
Os versos como luz dum paraíso.

E o meu int'rior tão carregado, 
Que de negro envolvia o coração,
Lentamente ficou aliviado
E findou toda a minha 'scuridão.

Bendita a luz do sol que meiga passa
E beija delicada a vidraça
E acaricia a madrugada...

Ao longo deste azul do firmamento
Que me faz esquecer o sofrimento,
Entra pla janela abençoada.

Modesto



 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

JARDIM


Eu sentei-me num banco do jardim
E bem perto de mim, sorriam flores,
Ofertando-me beijos de carmim
A fim de aliviar as minhas dores.

Na ramagem das árvores havia
O gorjeio feliz da passarada,
Qu' aos poucos, nest' alma atribulada,
A luz da Primavera oferecia.

A sintonia natural encheu
O meu peito de músicas divinas...
E pareceu-m' ouvir, vindo do céu,
Coro angelical, com vozes finas.

E meu choro - cruel monotonia -
De vez findaram como por encanto.
Vieram os sorrisos d' alegria,
Esta amargura transformou-s' em canto.

Agradeci ao banco do jardim  
Às aves, às corolas, à ramagem,
A pureza e paz dum Querubim,
Qu' ao coração me troux' uma mensagem.

Modesto



 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O TEMPO



 Ninguém, por mais que lute mansamente,
O tempo deterá no seu caminho.
Finda, renasc' o tempo num repente,
Das próprias cinzas faz o próprio ninho!

O tempo vai passando pela gente,
Tão leve, tão subtil, tão de mansinho,
Que quase não se nota nem se sente:
O tempo  nasce e morre caladinho.    

Passa por nós o tempo infinitivo,
Ninguém percebe o seu correr esquivo.
Ri-se de nós... a ninguém sorri!

Ai! O tempo inviso vagabundo!
Só ele goza este prazer jucundo
De nos fazer correr atrás de si...

Modesto




sexta-feira, 13 de novembro de 2020

AURORA








Amanhece novo dia,
Que de noite adormecera,
E de contente sorria
Prá luz qu' 'stava à 'spera.

E logo de madrugada,
Encheu a terra d' encanto,
Como celeste embaixada,
Que desceu dum lugar santo.

E eu qu' estava à janela
Descobri nessa aguarela
A voz de um rouxinol,

Que surgiu na branc' aurora,
Aprendi a ver de fora
Paisagem do arrebol!

Modesto
 

sábado, 31 de outubro de 2020

O MEU DESTINO É O CAMPO


 








Sonhei com minha terra pequenina,
Alegre e soalheira. onde a giesta
Ensinava a viver vida modesta
Qual foi a de Jesus na Palestina.

Sonhei com ovelhinhas na campina
E cordeirinhos brancos na floresta,
Com andorinhas esvoaçando em festa
Sobre o regato de água cristalina.

Sonhei com levantar de manhazinha,
Pra ver as aves cantar ladaínha
De bênçãos e louvor à luz do dia.

Pois o meu sono tão fagueiro e lindo,
Passados tantos anos... não é findo,
Até no peito cresce dia a dia...

Modesto.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

PARAÍSO PERDIDO









Eu tinha o céu na terra, podeis crer,
Um céu pleno de aromas e de sol,
Onde os ecos da voz do rouxinol
Embalsamavam todo o meu viver.

Como eu era feliz, sem pretender
Ter a beleza subtil do girassol
E nem invejar os tons do arrebol
Ou a brancura linda do bem-me-quer!

Meu céu de estrelas lindas a brilhar
E coros de Anjos brancos a cantar
As trovas tão divinais do Paraíso,

Desfez-se - e que saudade! - num segundo,
Quando saí da terra e fui pró mundo...
Minha mãe abraçou-me com seu sorriso!...

Modesto
 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

NOITES DE OUTUBRO









Belas noites claras de lua cheia!
Oh! No vosso seio, noites charmosas,
Minh' alma canta como a sereia
E vive cantando num mar de rosas!

Ó noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas;
Belas noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois com' um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha esperança de mágoas nua...

Lindas noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Eu vos amo tanto, noites de lua!

Modesto
 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

PASSEIO PELOS BOSQUES


 








Com versos viajo num mundo paralelo,
Pois a vida real nem sempre me agrada.
Lá, nos fascinantes bosques, há a grã fada!
Aqui julgam-me... Lá, me pertenc' o martelo!

Absolvo-me a cada frustração ideal,
Concedo à emoção uma nova chance
Que já não é a primeira, nem de revanche,
Experimento regozijos sem igual...

Assim, o poder transforma o final triste
Em sonhos belos e no que de bom existe,
Passeio vivo, livre passaporte tenho.

Ao recordar a purificante magia
Que m' alimenta a alma e poesia...
Então, volto renovado no meu empenho.


Modesto


terça-feira, 8 de setembro de 2020

ESPERANÇAS RURAIS



Naquela tarde de calor ardente

Fui-me sentar na margem do meu Rio;

As águas deslizavam mansamente

No leito largo, tépido, macio.


Um momento após, adormecia.

Anda sempre comigo um sono falho 

Que de noite não dorme, mas de dia

Até parece um gato no borralho.


Tiv' um sonho! Depois vi apeirias

Eram arados, jugos e cambões,

Ancinhos e sacholas, velharias...

Correndo Rio abaixo aos encontrões.


De repente, acordei sobressaltado.

Olhei aquelas veigas em redor.

Fiquei contente: Tinha-me acordado

O trabalhar ruidoso dum tractor.


Modesto


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

POESIA DE ONTEM



Voltei a ler-te, minha luz calmante,
Corcel alado que não tens parança,
Tu que foste tod' a minha esperança,
Hoje vagueias plo País, distante.

Noiva formosa de Camões e Dante,
Ninguém agora teu favor alcança;
Mas o teu rosto de gentil criança
Não tem carcomas de senil bacante.

Bela moça a 'xtravasar fragrâncias,
D' olhos afeitos a medir distâncias,
De lábios rubros com' o sol de Julho:

Voltei a ler-te, poesia d' ontem.
Por mais pedras qu' ao teu rosto apontem,
De ser tão linda, podes ter orgulho...

Modesto

 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

COMO TE ENTENDO, Ó CHUVA




Como te entendo, ó chuva, enquanto sais
Arrebatada pelo vento Norte
Do teu refúgio! E logo vos lançais
Num rodopio destravado e forte!

No imenso fol' de sopros glaciais
A que o trovão se junta e dá suporte,
Nas mãos do vento - garras colossais -
És um joguete balançando à sorte.

Nem ousas resistir! Tão suave e branda,
Quando na terra pousas os teus dedos
Logo ela se abre em flor, agradecida...

Com o saber da tua longa vida,
Acatas sem prosápias e sem medos
A lei da força bruta... Ela é que manda!

Modesto

quinta-feira, 30 de julho de 2020

SENDA















Meti-me no casulo desta vida
Quando por fora havia tanta luz!
Minha estrada ficou escurecida,
Meu Tabor transformado em cruz.

Das lágrimas fiz versos comoventes
Que talvez alguns leram, comovidos!...
É bem triste levar por entre as gentes
A alma presa a sonhos doloridos.

A vida sem um fim não tem sentido.
O jardim sem as rosas é despido.
Amor sem se viver nunca dá gosto...

As músicas das aves são agrestes,
Os roseirais da infância são ciprestes,
A aurora sem luz é já sol-posto...

Modesto

sábado, 25 de julho de 2020

QUANDO O MAR BAIXA




















Quando o mar baixa, todos os rochedos
Me 'spreitam como vítima a abater.
E eu, já sem ousadias e sem medos,
Cruzo os braços, disponho-m' a perder.

Sem tábua de salvar, afrouxo os dedos,
Não penso, fecho os olhos pra não ver
Os picos aguçados dos fraguedos
Sabendo, embora, quanto vou sofrer.

Talvez que a maré alta vá voltar,
Trazer-m' o esquecimento, afogar mágoas
E encher o mar com mais serenas águas...

Talvez venham umas ondas de remanso...
Pois, nas marés da vida, o meu balanço
É positivo... E não há volta a dar!

Modesto.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

PÉTALAS



















Meus anos, pétalas belas
De uma rosa perfumada,
O aroma qu' havia nelas
Perfumou a minha estrada.

Pétalas brancas eu pus
Na sala da minha casa,
Lembravam a meiga luz
Ou a cor d' alguma asa.

Já na minha mocidade,
São pétalas de saudade
E perfume de primeira.

Porqu' as pétalas amava,
Na Primavera enxertava
Uma viçosa roseira.

Modesto

sábado, 18 de julho de 2020

HÁ MILAGRES, SIM!















"Não há milagres - dizes peremptóro -
Tudo s' explica, há sempre uma razão
Por trás das coisas... Nada é ilusório
Como a fé de qualquer religião!"

E nada mais a dizer. Pois é notório,
Nunca irás mudar de opinião.
Argumentar contigo, acto inglório,
Põe-se ponto final na discussão.

Mudamos, pois, de assunto. Mas no fundo
Mantenho a mesma crença decidida,
Pois não abandono as minhas ideias...

Mas milagres há, embora tu não creias!
 - O milagre maior é a própria vida
Que brota, de mil formas, sobre o mundo.

Modesto

sábado, 11 de julho de 2020

O LAGO

















Havia ao fundo da campina um lago,
Num prado cristalino, arredondado,
Dentro escondia um mistério vago,
Oculto para o céu imaculado.

O próprio cisne que desliza e passa
Sereno sobre as águas de cristal...
Talvez pense que a água não é baça
E que tem a pureza original.

O lago imenso faz-me recordar
O choro dessa gente amargurada;
Muitas das lágrimas são do meu chorar:
É o sal da minha vida já cansada.

Abundam muitos lagos na paisagem,
Nesta humana paisagem de utopia;
D' alegria ou tristeza são mensagem
Dos olhos dos que choram noite e dia.

Modesto


terça-feira, 7 de julho de 2020

VOLTEANDO















Tantos modos de dizer
Muitos mais a inventar...
Quem sonetos quer fazer
Tem que muito bem pensar.

Regras firmes aprender,
Com empenho as aplicar,
Um fado triste sofrer,
Atento, musa 'scutar.

O Camões e a Florbela...
Com fados tão inditosos
Como não houve jamais!

Foi a sina dele e dela...
Com sonetos primorosos
Os fizeram imortais!

Modesto




quinta-feira, 2 de julho de 2020

QUEM ME DERA










Quem me dera ser a flor mais simples do jardim,
Sorver o sol e poder irradiar, a quem lá vem,
O meu perfume de tojo, de acácia ou de alecrim,
Enleando inquieto o meu olhar com esse alguém!

Quem me dera ser o verde apenas de uma erva,
Ser o miolo tosco ou a migalha do meu pão,
O filamento que se abandona, estica, e se enerva!
Quem me dera ser apenas o cheirinho do limão!

Quem me dera poder parar, sorrir e estremecer
Pelo suco erguido desses botões com que me olhas
E ser sempre o número certo em todas as escolhas!

Quem me dera esse balanço de ser e de não ser,
Em cada gota de orvalho colorido de esperança!
Quem me dera ser suspiro, ser tudo e ser criança!


quinta-feira, 25 de junho de 2020

A MONTANHA



















Com majestade eleva-s' orgulhosa
E rasga firme a túnica celeste.
Aos pés fica a planície curiosa
Olhando esta grandeza tão agreste.

Vivem por lá animais, aves e feras
E dormem as penedias circundantes,
Passam por lá Invernos e Primaveras
Que dão beleza aos mantos verdejantes.

Contempla desse altar paisagens belas.
À noite, sente os beijos das estrelas
E horizontes infindos, dilatados...

Alpinistas sentados num penhasco
E envolvidos num manto de damasco,
Ouvem o rumor dos rios já cansados.

Modesto

quarta-feira, 17 de junho de 2020

VIAGEM DA VIDA

















Quando ia a caminho do Tabor...
Na minha alma havia primavera.
Achei a encruzilhada desta dor
E o Tabor ficou à minha espera.

Talvez errei na escolha do caminho,
Talvez não escolhi bem a bagagem
E confundi a rosa com o espinho,
Ou fiz fora de tempo esta viagem.

Tinha na minha vida um calendário,
Por isso fui parar a um calvário
Que pouco tinha a ver com esse Teu.

Quem, na vida, 'scolheu caminho errado
Terá sempre um destino atribulado
Que de certo não conduzirá ao céu.

Modesto

sexta-feira, 5 de junho de 2020

QUE BELA É A NATUREZA!














É bela a madrugada quando sai
Do seu berço, depois dum longo sono;
É belo o fim da tarde quando vai
À procura dos braços do seu dono.

É formoso o canteiro que of'rece
Perfumes, borboletas e beleza;
Esse bicho-da-seda quando tece
A teia fina cheia de pureza.

É belo o rio quando alegre canta,
Envolvido em espuma num açude;
É bela a águia quando se levanta,
Levando para o alto o seu laúde.

É belo ver o céu atapetado
Com nuvens de cristal, como algodão,
Ver um loiro trigal tudo ondulado
A prometer um saboroso pão.

É belo ver o mar beijando a areia,
Ver o límpido lençol da neve fria,
A túnica vestida da lua cheia
E ouvir dum rouxinol a sinfonia.

Mas é mais belo ver numa janela
Uma rosinha humana debruçada:
É a mais linda e encantadora tela
Num caixilho celeste emoldurada.

Modesto

domingo, 31 de maio de 2020

CORAÇÃO PARTILHADO
























Eu tenho o coração partilhado,
Numa união perfeita de amor.
Por isso, eu me sinto tão amado,
Que faz de mim poeta sonhador.

Ele vive em meu peito encantado,
Tão feliz, tomou asas de condor,
Para poder voar lado a lado
E enlaçar ao longe o teu amor.

Unidos, eles são apaixonados,
Na teia do destino colocados,
Na chama do desejo que não mente.

Quando o coração se faz partilha,
Algo dentro de nós pula, fervilha
Querendo amar-te tão loucamente.

Modesto

domingo, 24 de maio de 2020

MINHA FLOR DE MAIO

















Nasceu para mim esta flor de Maio
E trouxe-m' a beleza pra bem perto,
Num simples, terno e bem doce raio
Alindou as cores do meu deserto.

Seu caule forte é "glamour" coberto.
Eu o admiro, nele me distraio
E lá dou vazão ao querer desperto,
Apreciando o calor de Maio.

Embriago-me no seu perfume:
É um desejo que entre nós assume
Intensidade qu' a paixão provoca.

Colho o néctar do prazer sentido
Que escorre de um bailar gemido
Desse caos que só o amor evoca.

Modesto

quinta-feira, 21 de maio de 2020

SUBIR VOANDO
























Desejava ter asas e voar,
Ser águia, demandando a altura,
Estar junto do sol e do luar,
Encher a minha alma de brancura.

Subir, subir com asas cor d' arminho,
Cansado de na terra rastejar...
Percorrer desde já esse caminho
Qu' à celeste Mansão vai sempre dar.

Na terra fica a triste escuridão
Que pró humano ser não foi criada;
A semente metida sob o chão,
Procura sempre a luz imaculada.

Penso ter umas asas de luar
Qu' um Anjo todo branco me legou;
Quero subir ao céu, para ocupar
O lugar qu' o Senhor me preparou.

Modesto

quarta-feira, 13 de maio de 2020

SOL


















Havia um triste sol sobre a planura,
Que outrora tinha sido alegre e belo:
Imagem desta vida outrora pura,
Trigo louro que o tempo fez farelo.

Uma fonte brotava imaculada
Dentre o musgo, no cimo da colina;
Mas que depois ficou toda inquinada
E envenenou a alma cristalina.

Uma videira com cachos e ramagem
Qu' o granizo e ríspida estiagem
Deixaram meu lugar triste e vazio.

Uma pomba voava esbranquiçada,
Mas um milhafre logo na alvorada
Perseguiu e matou, no fim do Estio.

Modesto

sábado, 9 de maio de 2020

OLHOS



















Como são puros, formosos
Os olhos de toda a gente!...
Os espelhos luminosos
Da alma que dentro sente.

Os olhos são o retrato
Do que na alma trazemos.
São espelho mais exacto
Do que na alma 'scondemos.

Olhos qu' espalham amor,
Olhos que mostram a dor,
Olhos que dão amizade.

Descubro nos olhos puros
Imagem de bens futuros
Ou que semeiam bondade.

Modesto

segunda-feira, 4 de maio de 2020

AMOR E VIDA

















Abre o cofre do teu bem,
Dá sorrisos, coisas boas:
Não tenhas amor refém,
Dá-o d' esmol' às pessoas.

O perfume duma flor
É seu amor repartido...
Não tenhas o teu amor
Dentro de ti escondido.

Não recuses a ninguém
O amor do coração:
Há muita gente que tem
Só fome daquele pão.

Mesmo depois da partida,
Fica sempre o sol d' amor
A fazer crescer a vida
Com sua luz e calor.

Modesto

quarta-feira, 29 de abril de 2020

PROCURANDO

















Procurei-Te, Senhor, não te encontrei,
Porqu' andei por caminhos sempr' errados.
Ovelha desgarrada não achei
Teus pastos verdejantes e sagrados.

É bem triste viver neste deserto,
Deserto humano sem qualquer sentido...
É terrível não ter um rumo certo
E nesta caminhad' andar perdido.

Os meus caminhos são encruzilhadas,
Meus dias são janelas encerradas,
A minha vida assim é noite escura.

Espera-me, Senhor, no Teu caminho,
Sê meu farol, pois sou triste ceguinho
Não tenho a Tua bússola segura!

Modesto

sexta-feira, 24 de abril de 2020

ESPALHEI A MINHA ALMA

















Espalhei a minha alma
Aos quatro ventos um dia...
A tarde ficou mais calma,
Difundiu-se a fantasia.

O céu pôs o seu vestido
De esmeralda e safira,
O poente era garrido,
Alguém tocava uma lira.

E não foi preciso o sol
Para a tarde embelezar...
Até mesmo o rouxinol
Pôs a arpa a descansar.

Quem 'spalha o seu amor
Entre gente e Natureza,
Faz mais presente o Senhor
E é do céu com certeza.

Modesto

segunda-feira, 20 de abril de 2020

SORRISO

















Espero, amiga, ver teu sorriso
A lembrar rosinha avermelhada:
És mensagem feliz do paraíso
Trazido por um anjo n' alvorada.

Recordas a lépida andorinha
Que traz luz, alegria à Primavera,
Uma túnica azul de manhãzinha,
Que veste aves pla imensa esfera.

No teu sorriso vejo o coração,
No teu olhar, descubro tua alma.
Assim acaba minha escuridão,
Bem dentro de mim renasce a calma.

És como flor que desabrocha bela,
Prometendo certeza da semente,
És como jardineira na janela
Que no tempo d' Inverno 'stá contente.

Continua a sorrir nessa janela,
Acaba com meu rosto de granito:
Ouvirei a canção da filomela,
Terei na alma bálsamo bendito.

Modesto

sexta-feira, 17 de abril de 2020

ROSAS ENTRE ESPINHOS

















As princesas mais belas do jardim,
Pacientes, esperam a chegada
Da Primavera que sorri, por fim,
Envolt' em luz e sons da madrugada.

Sorriem com seus lábios perfumados,
Pra aquelas inquietas borboletas,
Por causa dos espinhos aguçados
Que fazem, na roseira, piruetas.

Chegam depois abelhas aloiradas
E buscam o seu pão adocicado
Entre pétalas brancas, encarnadas...
E espinhos nesse caule acastanhado.

Espinhos tais que bem perto das rosas
Não as ofendem, como bons amigos;
Ao lado deles, sentem-se vaidosas
E também defendidas dos perigos.

Eu vi, nesta amizade natural
Um retrato do que devia ser:
Gente boa e má não se dar mal,
Ajudar-se naquilo que puder.

Modesto

domingo, 12 de abril de 2020

RESSUSCITOU!




















Sorri!O céu 'inda 'stá no seu lugar!
Aquele que o habita te conduz.
Entr' o sol e as estrelas eis Seu lar
E lá vive desde a morte na Cruz.

É o Verbo! Sua palavra seduz
 Has-de encontrá-Lo no teu procurar.
No peito , guarda o nome: Jesus!
Ele vive s' estiver no teu pensar.

Sangue e lágrimas unidas pla fé
Se não fosse Ele o Filho de Quem é,
Quem teria dois mil anos de história?

Quer jóias, quer castelos.. não valem isto
Qu' está na Mão direita de Cristo
Só o Seu Reino tem beleza e glória!

Modesto


sexta-feira, 10 de abril de 2020

SEXTA-FEIRA SANTA


















Lua absíntica, verde, feiticeira,
Pasmada com' um vício monstruoso...
Uivando par' o espaço fabuloso,
Um cão estranho fuça esterqueira.

É esta negra e santa sexta-feira!
Cristo está morto, com' um vil leproso,
Chagado e frio, na feroz cegueira
Dos homens... Sangue roxo e tenebroso.

A serpente do mal e do grão pecado
Um sinistro veneno esverdeado
A verter do Morto na nudez serena.

E da Sacratíssima Redenção de Cristo,
Nasceu grande Amor, puro, imprevisto,
Brotam gotas de sangue que se gangrena.

Modesto

terça-feira, 7 de abril de 2020

ESPERANÇA

















Quando tudo isto finalmente passar,
Ficará somente a pequena lembrança
E os motivos que me fizeram chorar,
Lá darão sentido à minha esperança.

E a ela me apeguei com tanta fé,
Num enorm' íntimo desejo de viver.
Mesmo abatido, continuei de pé,
Acreditando sempre que irei vencer.

Porqu' encontrei  a Luz par' a escuridão,
A Companhia prós dias de solidão,
O Caminho quando 'stava sem direcção.

E conheci Quem me ensinou a ser forte,
Quem comigo, mesmo indigno, se importe,
Que por amor a mim, venceu até a morte.

Modesto


segunda-feira, 30 de março de 2020

O TEMPO E A ALMA















Minha alma não é minha, é de Quem
Fez o tempo neste espaço gigante.
Nestas horas em qu' existo sou alguém:
Uma sombra de luz de um céu distante.

Minh' alma vem de longe, muito além
Das muralhas eternas do mund' errante.
Não sou mais e nem menos do que ninguém,
Sou apenas um fragmento do instante.

Eu sou pó, partícula esmigalhada,
Feito d' alma, pele, ossos e mais nada
Nesta imensidão cósmica perdida.

O meu tempo é um vulto nos espelho,
Só o chão é meu enquanto m' ajoelho
À espera qu' Alguém guarde minha vida.

Modesto

sexta-feira, 27 de março de 2020

FLORES EM SUSPENSÃO



















O sol desponta na fresca atmosfera,
Desperta névoas em sombras dormidas.
O vento ruge num grito de quimera,
Mescland' essências nas ruas floridas.

Lírios, goivos, jasmins e margaridas:
Mosaico de cores duma nova era.
Pétalas no ar, qual asas coloridas,
Mil borboletas abrem a Primavera.

Pardais e melros na galha retorcida
Nesses jardins, nas margens da avenida,
Em paz dividem a semente madura.

Dois mil e vinte, linda manhã de Março
Entre o verde, o ouro do sol baço,,,
Sigo, gravando meu olhar na pintura.

Modesto

domingo, 22 de março de 2020

CHEGOU A PRIMAVERA

















Chegou delicada, embaciada,
Salpicada com as suas mil cores,
A Primavera linda, enfeitada...
Consigo trouxe suas belas flores.

Verde a paisagem modificada,
Os jardins ficaram mais sedutores
E já canta toda a passarada,
Pequeninos e alegres cantores.

Destaca-se entre as Estações
E espalha no ar as vibrações,
Pra presentear nossa Natureza.

São três meses que vão espalhando,
Com o seu colorido vão pintando
À nossa volta dias de beleza.

Modesto

sábado, 21 de março de 2020

AMO-TE














Amo-te ao largo, alto e profundo
Tanto quanto a minh' alma transportada
Sente, alongando os olhos plo mundo,
Os fins do ser, a graça entressonhada.

Amo-te cada dia, hora, segundo
À luz do sol e na noite sossegada.
É tão pura a paixão que m' inunda
Quanto o pudor de quem não pede nada.

Amo-te com o doer das velhas penas
 Amo-te até nas coisas mais pequenas,
Com fé infantil, ingénua e forte.

Com os sorrisos e lágrimas de prece
Por toda a vida, assim Deus quisesse:
Ainda mais t' amarei depois da morte.

Modesto                                       













sábado, 14 de março de 2020

DELÍRIO AO PIANO














De Beethoven mais doce qu' um carinho,
Meu piano fervente soluçava.
Na minh' alma um sol feito em vinho,
A cada nota ele lá vibrava.

Parecia-me música d' arminho,
Perfume de lírio que cantava
Uma canção "dolce" e bem baixinho,
Estrela d' alva no céu entoava.

Incomparável piano! - Eu cria
Ouvir no 'spaço uma harmonia
Bela, serena, sonora e nua...

Com as visões das ninfas do meu Douro
Cantando no ar brilhantes de ouro...
Toco dolente com uns tons de lua.

Modesto

quinta-feira, 12 de março de 2020

SONETO À FILIPA















És pequenina, ris... A boca breve
É pequeno delírio cor-de-rosa!
És cofre de beijar, flocos de neve,
Haste de lírio frágil e mimosa!

Quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que te fez assim graciosa!
Fez-te nascer como perfume leve
Desta vida amarga, tormentosa...

Só ver teu olhar, faz bem à gente!
Teu lindo nome diz suavemente
Que cheiras, sabes, na boca, a flores!

Pequenina qu' a tua Mãe sonhou!
Fica com a rosa qu' hoje te dou:
Que afaste de ti todas as dores!

Modesto

segunda-feira, 9 de março de 2020

AMANHECER NA SERRA















Contempl' o sol a despontar na serra
Pra sempre, o que é bom prá floresta.
Cortinas de névoa no ar descerra,
Esta manhã alegre e de festa.

O melro com seu gorjear encerra
A dança no galho da nespereira.
O vento leva o cheiro da terra,
Espalha-o pela mata inteira.

O céu 'stá azul e verde o campo!
Vem a luz, repousa o pirilampo.
Flores abrem a exalar perfume.

O galo canta livre no terreiro.
Passa por mim, corre, um cão trigueiro.
Todos os bichos fazem o costume.

Modesto

terça-feira, 3 de março de 2020

VIVEMOS NO ENGANO




















Qu' outra verdade haverá senão pobreza
Nesta vida tão frágil e leviana?
No berço ganhamos honra e riqueza:
Os dois embustes são da vida humana!

O tempo! Esse não volta nem tropeça
Na hora fugitiva - só a engana!
A fortuna faz cansar nossa cabeça
Com errado ansiar sempre tirano!

Viva a morte calada, divertida
 No próprio alimento combativa
Com nossa vida, saúde e com guerra...

Todos trememos ao ver tombar a vida
 E pouco fazemos para que seja Vida...
Oh!Quanto, distraído, o homem erra!

Modesto

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

VOAR NO DESERTO















Alma minha, alma impenitente,
Erma e turva região sombria,
N' água do mar flutuas inclemente...
À desolação chegaste um dia|!

E no deserto tórrido e quente,
Onde a Luz mais forte irradia...
A tua voz nostálgica, plangente
Vibrou, chorou, clamou por Ti um dia!

Pomba de misteriosos mistérios
Ruflaste asas por azuis sidérios,
Ébria de clamores que te salvam.

Há corações que 'inda te buscam
Pensam que és sol e 'inda t' escutam...
És pó da terra, areias que calam!

Modesto

sábado, 22 de fevereiro de 2020

REALIDADE E SONHO




















Minha vida evaporou-s' em luta insana,
No caminho em qu' às lutas me dedicava.
Pudesse modificar a alma humana...
Um sonho de utopia imaginava!

Em muitos astros da minha mente ufana
Numa existência doce m' enlevava...
O mal secular envolve a alma humana:
Não sabia qu' a vida não recuperava!

Acreditava qu' o mundo era leal,
Não enxergava o que havia de mal
E pintava o mundo todo cor de rosa

Ao passar os anos vê-s' a realidade.
Sabendo que só há a única verdade...
A vida sonhada é dif'rente da prosa!

Modesto

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

ALVORECER NA PRAIA

















Alvorece, luz clara, manhã fria,
A bruma veste a praia escura.
Ond' estavas quando a lua dormia,
Ó astro-rei no céu-luz em lonjura?

É tão clara a luz que alumia
Os olhos e num quadro sem moldura..
Vá! mostra-me o céu dum novo dia
Que outro céu, no mar, se transfigura!

No espaço o sol, nuvens algumas,
O mar sem ondas,ondas sem espumas,
Tu vês de cima, em baixo o mundo...

Brisa, leva-me para onde vais!
As naus voltam sempre ao mesmo cais,
Mas partem sempre par' o mar profundo!

Modesto

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

RIO DOURADO

















Água dourada que corres no rio,
Embalam-me os teus suaves cânticos,
Tu serpenteias em curvas a fio,
Por entre seixos brilhantes, românticos!

O teu sussurro eterno e doce
Hipnotiza-me - olho devagar...
Deixa-m' ir como s' afluente fosse!
Eu vou como s' estivess' a sonhar!

A água dourada é amizade.
Teus brilho é pra mim como verdade,
Água barrenta lembra união!

Teu murmúrio é de alegria,
Envolves-me em doce fantasia,
Vais alimentando  minha paixão!

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...