quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

31 DE DEZEMBRO




















O fim do ano chegou
E é motivo de festa,
Motivo de alegria!
Mais um ano se passou,
Talvez com muit' aresta...
Mas com Deus por companhia!

Viveu-s' um ano completo
D' alegrias e tristezas...
Ano de sonhos, repleto!!
Realizações... grandezas...

Fim d´ano traz reflexão:
Houve abraços e beijos,
Carinhos e compaixão...
Realizou-se desejos.

Houve beleza divina,
Natureza sorridente,
Amor de baixo a cima,
Bem fazer de tod' a gente.

Hoj' é dia d' alegria:
De mãos dadas tudo canta
E a noit' é de magia,
Foi-s' a melancolia...
O fim do ano encanta!

Modesto

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

MAIS UM FIM DE ANO

















São doze os meses com diferente nome,
Sequência crescente que desfazemos,
Cada um deles o tempo nos consome
Desde o primeiro que envelhecemos.

O que muda é o viver exp'riente.
Aprendemos com a vida exibida,
Exercitamos nosso pensar e mente...
A cabeça vai pendendo sem medida.

Só com bons modos fazemos aliança
Com cada segundo do tempo qu' avança,
Abrindo as portas ao viver humano.

Examinamos tudo o que lembramos
No coração  e mágoas que passamos
E sabemos que se passou mais um ano!

Modesto

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

NATAL



















Do Espírito Santo e da Luz Divina,
Nasceu Jesus Menino, Nosso Salvador,
Na gruta com Maria, a Doce Menina,
Vem mudar o mundo e dar-lhe seu valor.

Nesta noite mágica, o Seu nascimento,
Bem ornamentado de amor e carinho,
Uma linda 'strela brilhou no firmamento,
Chamando os Magos, indicou caminho.

Em cânticos de glória e de louvores,
Anjos anunciam às gentes e pastores:
Paz na terra a toda a humanidade.

Vêm adorá-Lo os humildes pastores,
Trazem-Lhe presentes os Reis... Não os senhores!
Pra nos salvar, nasceu o Rei Fidelidade.

Modesto

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

PRESÉPIO

















Jesus pode nascer no teu olhar,
Pode ser o sol da paz no teu céu,
Pode ser tua ânsia de lutar,
Fazer d' espiga pão, do azul, véu.

No teu coração, ser verbo amar,
Nos teus lábios, nascer doce Orfeu.
A tua canção pode ser luar
Que tire da noite o triste breu.

Tud' é possível no Natal, se tens
Essa coragem de sair de ti,
Dar-te aos outros sem qualquer medida.

Tud' é possível no Natal, se vens
Ao presépio, vida qu' há em ti,
A todos ofereces tua vida.

Modesto

domingo, 20 de dezembro de 2015

O NATAL ESTÁ PRÓXIMO






Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projecto de salvação e de libertação que leve os homens à descoberta da verdadeira felicidade.

O Evangelho sugere que esse projecto de Deus tem um rosto: Jesus de Nazaré veio ao encontro dos homens para apresentar aos prisioneiros e aos que jazem na escravidão uma proposta de vida e de liberdade. Ele propõe um mundo novo, onde os marginalizados e oprimidos têm lugar e onde os que sofrem encontram a dignidade e a felicidade. Este é um anúncio de alegria e de salvação, que faz rejubilar todos os que reconhecem em Jesus a proposta libertadora que Deus lhes faz. Essa proposta chega, tantas vezes, através dos limites e da fragilidade dos "instrumentos" humanos de Deus; mas é sempre uma proposta que tem o selo e a força de Deus.

Sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor, é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é "a Paz": ele veio apresentar uma proposta de um "reino" de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos homens.

Sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens. É necessário que os homens acolham esta proposta com disponibilidade e obediência - à imagem de Jesus Cristo - num "sim" total ao projecto de Deus.

Modesto

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

EIS QUE ESTÁ A CHEGAR



«És tu Aquele que havia de vir?»

O Senhor, sabendo que sem o Evangelho ninguém pode ter uma fé plena – porque se a Bíblia começa pelo Antigo Testamento, é no Novo que ela atinge a perfeição –, não esclarece as questões que Lhe colocam acerca dele próprio por palavras, mas pelos seus actos. «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho; e feliz daquele que não encontrar em Mim ocasião de queda.» Este testemunho é completo porque foi acerca dele que foi profetizado: «O Senhor liberta os prisioneiros; o Senhor dá vista aos cegos; o Senhor levanta os caídos. [...] O Senhor reinará eternamente» (Sl 145,7s). Estas são as marcas de um poder que não é humano, mas divino. [...]

Contudo, estes actos são apenas pequenos exemplos do testemunho trazido por Cristo. O que funda a plenitude da fé é a cruz do Senhor, a sua morte, o seu sepulcro. É por isso que, depois da resposta que citámos, Ele acrescenta: «E feliz daquele que não encontrar em Mim ocasião de queda.» Com efeito, a cruz podia provocar a queda dos próprios escolhidos, mas não há testemunho maior de uma pessoa divina, nada que mais pareça ultrapassar as forças humanas, que esta oferta de um só pelo mundo inteiro. É somente assim que o Senhor Se revela plenamente. Aliás, é assim que João O designa: «Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29).
 S. AMSELMO

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

PRINCÍPIO DO OUTONO

















As dúvidas são os relevos da vida,
São como os tempos passados em vão.
No meu peito há segurança activa
Do amor que, por ti, é uma paixão.

Os ventos vão levando minha saudade
Do tempo que nos ensinou a viver.
Agora só sobram as realidades
Que amarram meu amor ao teu querer.

O nosso outono chegou de repente,
Como a chama da lâmpada ardente
E folha das árvores do meu jardim.

És razão de minha lágrima carente,
História dum início sem fim
E teu amor não sai de volta de mim.

Modesto

domingo, 13 de dezembro de 2015

ALEGRIA




















Nasce a manhã serena e bela,
No horizonte o sol a raiar.
No céu já não se vê nenhuma estrela,
Belos outeiros se podem olhar.

E o que ouço da minha janela?
Do ninho o rouxinol a cantar!
Já o barqueiro iça sua vela,
O pastor leva seu gado pastar.

E a pastora já vê seu amante
Saindo como alegre caminhante,
Ouvindo cantar a fonte fria.

Enquanto outro sol morar distante,
Nada faz parar o nascer do dia,
Vêem-se rostos com alegria.

Modesto

sábado, 12 de dezembro de 2015

AMIZADE DA INFÂNCIA

























O meu maior presente foi o teu olhar tão belo!
Foi num  rápido momento aligeirado,
Um dia muito especial e singelo,
Instante que recordo 'inda do passado.

De manhã, ao meio-dia, ao sol poente...
Recordo tua figura especial.
É recordação que ficou eternamente
E é o meu anjo pra enfrentar o mal.

Nunca fugirá isto do meu coração.
Nele guardo todas as tuas mensagens.
Na minha vida fost' a mais bel' emoção,
Foste um presente de suaves aragens.

Hoje sinto-te meu passado, meu destino:
Vejo tua figura dissipar agruras
E recordo ainda aquele menino
Que sonhou ter uma amiga das mais puras.

Modesto

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

SOLIDÃO PACIENTE



















Quando o sol longe andava,
O vento nas árvores se movia,
Tudo por dentro do meu eu chorava,
Na tarde cheia de melancolia.

Quando as lágrimas em mim nasceram,
Já perto do nascimento do dia,
Veio o sol, lágrimas se perderam:
Alguém alegre me fez companhia.

Mas... nem o sol nem a lua vieram!
Andavam longe... fazem manhã fria.
As nuvens negras tudo escondiam,
Deixaram meu rosto sem alegria.

Experiência - o meu estudo
Deixa-me uma solidão paciente.
Recolho-me,observo e escuto...
Silêncios que mais ninguém entende.

É tudo segredo, mas bom exemplo,
Caminhos invisíveis por ond' ando.
Eu sou apenas pura flor ao vento...
Mas soa, pelos vales, o meu canto!

Modesto

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

QUANDO AS ROSAS MORREM

























Nos canteiros ornados de verdura,
Com gotas d' orvalho humedecidas,
Desabrocham as rosas à ventura
Cheias de viço e perfume ungidas.

Mas a vida das rosas pouco dura,
Míseras, em breve, enlanguescidas
Sob os raios de sol qu' além fulgura,
A fronte curva nas astes pendidas.

E vão largando as pétalas mimosas,
Os despojos finais das tristes rosas
Voam ao sopro dos ventos infestos.

De cor vermelha pelo chão tombados,
Com nossos corações despedaçados,
Fazem lembrar sanguinolentos restos.

Modesto



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

SONHOS SENIS




Foram-se as ilusões da mocidade,
As constelações de grande refulgência
Que roubaram a minha vivacidade
Que o céu me deu para a existência.

Apagou-se o tempo sem piedade,
Deixando-me sem a luz da influência.
Vieram os anos da senilidade
Todos juntos e com brutal violência.

Agora vivo repleto d' amargura,
Amando sonhos de fugaz aventura,
Pensando nos momentos ágeis, risonhos.

Tudo se extinguiu nas noites sombrias.
Cada manhã, recomeçam negros dias
Que são a via-láctea dos meus sonhos.

Modesto

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

ALEGRIA INCOMPLETA



















Há alegria no sol que vem de rompante
Com um raio de luz que rompe as montanhas,
Formando nos vales sombras, além. distante,
Iluminando as encostas das montanhas.

Há alegria quando seus raios apanhas
Na manhã azul, silenciosa, brilhante...
Mas há nuvens no ar que se tornam estranhas
Juntas com um vento forte e inconstante.

Há alegria nos campos, flores e aves
Que enchem o céu de melodias suaves...
Os meus olhos alegres reflectem os teus.

No entanto, não há alegria completa:
'Stá insatisfeita a mente do poeta,
Acabando o poema que lh' inspirou Deus.

Modesto

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CHORAR DE AMOR



















Chorar é pelo bem que se recebeu,
Eu choro  pelo que se perdeu em mim,
Pelo que fui e não mais aconteceu...
Sou o mesmo mas choro mesmo assim.

Se chorar pelo que já me esqueceu,
Choro por nada e é um chorar ruim.
Chorar, isso! Chorar... É mesmo: sou eu!
Choro com princípio, meio e fim!

Assim sendo, fico cheio de espanto
E pergunto por que é que choro tanto:
É pelo teu amor que eu desatino!

Normalmente, vou chorar pró pé das rosas,
Mesmo orvalhadas, como tu, formosas:
Choro por ti, esplendor do meu destino!

Modesto

domingo, 6 de dezembro de 2015

A CANÇÃO DO RIACHO



















Ouço, ao longe, a canção dum riacho
Com seu destino de cantar tão vago.
E ao crepúsculo, canta bem mais baixo,
Porque a montanha se sobrepõe ao lago.

Vêm os raios do luar pró terraço
Onde eu, com alegria , os afago.
Fim do dia de trabalho, há cansaço...
Meditando nisto tudo, eu naufrago.

Pensando em alegrias e tristezas,
Lá vou chegando às minhas profundezas,
Pensando morar na 'strela da manhã.

O riacho canta e eu estremeço...
Há um espaço em mim e eu adormeço...
Acordo na beleza d' outra manhã!

Modesto

sábado, 5 de dezembro de 2015

ADVENTO



















 Advento é um espera, mais nada,
Mesmos qu' a ' spera exaur' a vid' inteira.
Espera-s' o Menino na alvorada,
Como as águas calmas da ribeira.

Com amor esperamos essa chegada,
Mesmo que Ele não venha amanhã.
Na alma soam clarins da madrugada,
Até sentir no íntimo a manhã.

Esqueçamos deuses surdo, nada mais,
Deus- Menino 'stá no nosso horizonte...
Esperamos que Seu amor desponte.

Não é um amor de brisas sazonais!
Ele virá construir-nos uma ponte
Pra que sempr' a irmandade sej' a fonte.

Modesto

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

NUMA MINHA NOITE ESCURA





















Na minha noite escura,
De ânimo inflamado...
Oh! ditosa aventura!
Deus veio sem ser notado!

Numa 'scuridão segura
E em pobre disfarçado,
Oh! ditosa aventura!
Veio, entrou sossegado!

Mas que noite tão ditosa
Que só minha alma via,
Essa Luz maravilhosa,
No meu coração ardia!

E essa Luz me guiava,
Clara como meio-dia,
Pr'onde Deus me esperava,
Lugar qu' eu não conhecia.

Eu tinha o peito ferido
E só o mal enxergava!
Eu andav' adormecido...
Sua Luz me refrescava!

E, sem saber, eu parei
Diante do Ser Amado:
Tudo do mundo deixei
E senti-m' aliviado!

Modesto

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

COMO CRIANÇA

















Quero voltar a viver como criança
E quero viver de modo infantil.
Quero ter, 'inda, aquela esperança:
Voltar a ver o céu de cor de anil!

Quero acordar e ver um dia novo
Para descobrir coisas desconhecidas.
Quero fazer descobertas que absorvo
E olhar o mundo noutras perspectivas.

Querer ser criança não é disparate:
É ver as coisas simples e com surpresa!
Isso será loucura? Não! É franqueza!

Vê bem: É viver o dia em rebate...
O que nos cega, adultos, é rudeza,
Pois há um outro olhar que tem pureza!

Modesto

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

DESENGANOS


                                                           






















Quando vivemos na verdura dos anos,
As esperanças vão connosco à frente.
Vamos deixando para trás os desenganos
E seguimos por caminho florescente.

Rindo, cantando, rápidos e ufanos,
Vamos correndo descuidadosamente...
Mas... vão-se as ilusões e desenganos,
Ao notar qu' os anos passam de repente.

Só então vemos a vida claramente,
Pensamos como vamos... exatamente
Na vida que é rápida e falaz.

Ao contrário dos tempos de rapaz,
As esperanças vão ficando para trás,
Os desenganos vão sempr' à nossa frente.

Modesto


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

HOJE QUERIA



















Hoje queria ser aquilo tudo
Que na vida não fui e podia ser.
Era aquele sonho que mesmo mudo,
Seria eterno, mas deixei morrer...

Hoje queria pedir, que sobretudo,
Aquela ilusão de eu merecer
Aquela esperança como escudo,
Essa que sonhei, um dia receber.

Hoje queria amor sem ser reclame,
Qu' o povo vivesse uma dor menor,
Sem o sofrimento e que tanto foi!...

Mas só queria amor que não desame.
Uma solidariedade maior
E sem pobreza que tanto lhe dói!

Modesto

sábado, 28 de novembro de 2015

O OLHAR DOS GIRASSÓIS



















Quero viver neste mar de encanto,
Não junto da flor que tenha passado,
Mas da flor que ainda faça pranto
P'la paixão dum poema acabado.

A vida cruza muito desencanto
Como um sonho que foi sepultado.
Mas desse luto faz-se um canto
Ao fim do dia qu' está terminado.

Não se esquecem certos pesadelos
Que fazem esbranquiçar os cabelos
Ficando entre dobras de lençóis.

Mas é aqui que sonho docemente
Admirando o belo sol poente:
Beleza do olhar dos girassóis.

Modesto

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ENSINA-ME A VIVER, JESUS



















Ensina-m' a voar nas Tuas asas leves,
Fica perto de mim como flor bem tratada,
Sede suave como notas semibreves,
Conduz-me por jardins na minha caminhada.

Que eu viva com meus sentidos acordados,
Como cantos de aves dentro de mim.
Que meus calvários sejam por Ti guardados
Como cravos de luz no meio do jardim.

Não Te afastes de mim nem Te vás embora.
Perdoa-me, ajuda-m' a toda a hora:
De junto de mim não Te vás jamais.

Minha vida seja canção de bem-querer,
Protege minha vida até eu morrer...
Que meus passos vão p'los caminhos que Tu vais.

Modesto

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

LIBERDADE



















Liberdade é mar que beija areia,
O céu limpo num espaço triunfal,
Noite plena de estrelas, lua cheia,
Dia de luz com um toque divinal.

Liberdade é um sonho sem barreiras,
Um coração que pulsa de emoção
Dum amor intenso que rompe fronteiras
E vence os limites do coração.

Liberdade é amor que renuncia,
Pra bem do outro que ama igual.
É egoísmo que deixa alegria
Apagar ódios, perdoar o mal.

Liberdade vê para além dos olhos,
Vê os outros com fé e compreensão,
Vive a vida, arruma os escolhos,
Não faz os irmãos viver na ' scravidão.

Modesto

terça-feira, 24 de novembro de 2015

NÃO SOU O QUE QUERO SER



















Não sei o que n' alma tenho
Porque tanta vez mudei.
E acho isto estranho:
Em mim pecados achei!
Mas eu tenho uma alma
Que quer viver santa, calma...
O que vejo, bom não é:
Só é bom amor e fé.

Aquilo que sou e vejo
Neste pecador, sou eu!
É meu sonho, meu desejo
Nada disto seja meu.
Quero ser uma paisagem
Que me mostre a passagem
P'lo mundo de que não sou
E que para outro vou.

Assim certo, eu vou lendo
As páginas do meu ser.
E da vida vou prevendo
Qu' o mal devo esquecer.
Mas tud' o que de mim li,
O que julguei e senti,
Penso: Terei sido eu?...
Senhor, a vida doeu!

Modesto

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

PARA EDIFICAR A NOVA EUROPA

O IDEAL CRISTÃO

Para edificar a nova Europa sobre bases sólidas, não é decerto suficiente apelar apenas aos interesses económicos, que se em certas ocasiões unem, noutras, em contrapartida, dividem; antes, é necessário incidir sobre os valores autênticos, que têm o seu fundamento na lei moral universal, inscrita no coração de cada homem. Uma Europa que confundisse o valor da tolerância e do respeito universal com o indiferentismo ético e o cepticismo acerca dos valores irrenunciáveis abrir-se-ia às mais arriscadas aventuras e, mais cedo ou mais tarde, veria reaparecer sob novas formas os espectros mais tremendos da sua história.


Para evitar esta ameaça, torna-se mais uma vez vital o papel do cristianismo, que está a indicar de forma infatigável o horizonte ideal. À luz dos inúmeros pontos de encontro com as outras religiões, que o Concílio Vaticano II prospectou (cf. Decreto «Nostra aetate»), é necessário ressaltar com vigor que a abertura ao Transcendente é uma dimensão vital para a existência. É essencial, portanto, um renovado compromisso de testemunho por parte de todos os cristãos, presentes nas várias nações do continente. A eles cabe alimentar a esperança da plena salvação com o anúncio do Evangelho que lhes compete isto é, da «Boa Nova» com a qual Deus Se encontrou connosco, e em seu Filho Jesus Cristo nos ofereceu a redenção e a plenitude da vida divina. Graças ao Espírito que nos foi dado, podemos elevar a Deus o nosso olhar e invocá-lo com o doce nome de «Abba», Pai (cf Rom 8,15; Gal 4,6). 


S. João Paulo II

sábado, 21 de novembro de 2015

CONFIEMOS NA NOSSA RESSURREIÇÃO



Nascer para a nova criação


«Baptizados em Jesus Cristo, foi na sua morte que todos fomos baptizados: fomos sepultados com Ele no baptismo da morte a fim de que, tal como Cristo ressuscitou dos mortos para glória do Pai, assim também nós vivamos numa vida nova. Se, por uma morte semelhante à dele, nos tornámos um só com Ele, sê-lo-emos também por uma ressurreição semelhante à sua» (Rom 6,3-5). S. Paulo mostra-nos assim claramente que o nosso novo nascimento pelo baptismo é o símbolo da nossa ressurreição após a morte. Esta realizar-se-á para nós pelo poder do Espírito, segundo esta palavra: «O que é semeado na terra morre, o que ressuscita é imortal; o que é semeado já não tem valor, o que ressuscita está cheio de glória; o que é semeado é fraco, o que ressuscita é poderoso; o que é semeado é um corpo humano, o que ressuscita é um corpo espiritual» (1Cor 15,42s). O que significa: da mesma forma que, aqui na terra, o nosso corpo goza de uma vida visível enquanto a alma está presente, de igual forma receberá a vida eterna e incorruptível pelo poder do Espírito.
 
Também assim é no que se refere ao nascimento que nos é dado pelo baptismo e que é o símbolo da nossa ressurreição: recebemos nele a graça pelo mesmo Espírito, mas com limites e à maneira de um penhor. Recebê-la-emos em plenitude quando ressuscitarmos realmente e quando a incorruptibilidade nos for efectivamente comunicada. Por isso, quando fala da vida futura, o apóstolo Paulo confirma os seus leitores com estas palavras: «Não só a criação, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos esperando a redenção do nosso corpo» (Rom 8,23). Porque, se recebemos desde já as primícias da graça, esperamos acolhê-la em plenitude quando nos for dada a felicidade da ressurreição.
(Teodoro de Mopsuesto)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

AQUELA BRISA SERRANA



















Senti a brisa no campo
Que se transformou em vento
Fazendo meu desencanto,
Aumentando meu tormento.

Era a brisa soprada
Que fez árvore partida.
A serra er' encantada,
Mas d' ilusão abatida.

Já o sol se escondia,
N' horizonte de desvelo.
No meu desejo havia
A admiração ao vê-lo.

A sombra no horizonte
Era a nuvem sombria.
Quase como numa fonte,
Veio água bem fria.

Fui ao alto ver o mundo,
Ver os vales asseados,
Mas a chuva calou fundo,
Deixou montes alagados.

Modesto

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

AMO A TERRA MÃE

















Sentado à sombra de um cipreste,
No muro da rua, estou exposto
A que me tirem tudo o que me reste
Menos a lembrança d' antigo posto.

Se voltar à Terra me for proposto,
Ficarei bem mesm' em solo agreste,
Porque o Senhor me tem recomposto
Da saudade que ainda me reste.

É esperança, talvez, derradeira
De marcar agor' a minha fronteira
Onde minha Terra Mãe me estreita.

A tua paz calará meus protestos
De não ir só deixar meus restos...
Quero ver tua luz que me deleita.

Modesto

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

HISTÓRIA

















Pode ser comum o meu curso de História.
Corriqueiro e até mesmo banal.
Mas a vida faz a sua trajectória:
Deixou-me na alma um profundo sinal.

E não digo isto por nenhuma glória.
Sou humilde, mas não sou como cristal.
Reforcei com ela a minha vitória,
Refiz a vida, sou mais sentimental.

Já muitas vezes enfrentei o desdém.
Mas sei tudo o qu' a História risca:
Não é o mesmo do que dela se diz.

História é memória que vem
Ensinar-me a viver hoje - é isca
Que me ajuda também a ser feliz.

Modesto

terça-feira, 17 de novembro de 2015

ESPERA CONFIANTE

















Fica alma de criança,
Sonho do amanhecer,
Pra qu' eu tenha confiança
Na espera pra te ver.

Tens contigo tod' o tempo
Pró amor acontecer.
Chega-t´ao contentamento:
Sonho do amanhecer.

Deix' o coração à porta,
Porta que dá pró jardim.
A esp'rança se comporta
Como a flor do jasmim.

É suave minh' espera
Pra ver teu amanhecer.
Quando vens, é Primavera,
Estás sempr' a renascer.

Modesto




sábado, 14 de novembro de 2015

VAGUEANDO PELO JARDIM



















No jardim sinto perfumes
Qu' andam à volta de mim,
Aliviam meus queixumes
Num silêncio sem fim.

Meus pensamentos vagueiam
Pelos meus íntimos segredos
E as flores me nomeiam:
"Afagador com seus dedos".

No meu jardim sou amado
E sinto tranquilidade,
Calço-as com cuidado,
Trato-as com bondade.

Mas... vivem em cativeiro
Triste e descompensado!
Tenho-lh' amor verdadeiro,
Como no tempo passado.

É um sonhar acordado,
Beijo-as enternecido.
Sei que é sonho amado,
Ou sonho adormecido?

Modesto

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

LUGARES BUCÓLICOS




















Há muitos lugares bonitos, bucólicos
Que são bordados por finíssimas tramas,
Com'os pensamentos voando insólitos,
Opostos em dias, meses e semanas.

Têm textura de incerto valor
Aquele que meu pensamento alcança...
Hora de silêncio arrasador,
Mas que me anuncia a esperança.

Na saída, há sentimento de paz
E a verdura traz esperança crua,
Onde mergulho com minha alma nua.

Deixo para trás o anseio fugaz,
Trago comigo odor e perfume...
Vejo o crepúsculo com sol em lume.

Modesto

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

NO CAMPO, AO CAIR DA TARDE

























Sobre os montes e campos perfumados
Estendam-se véus de sombras e palores
E os verdejantes cerros escalvados
Cingem, no entanto, vividos fulgores.

Trabalhadores em cismas mergulhados
Voltam do campo os pobres lavradores,
Entoando os seus cantos magoados
E soam no ar bucólicos rumores.

E o sino, em doloroso acento,
Toca para prece, o povo suspira,
Ao ritmo do sino, canta seu lamento.

Tocand' à janela com gigante lira,
'Stá a menina entoando ao vento
E à luz do sol que no poente expira.

Modesto

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

LUA CHEIA














A tarde está tão serena que parece
Que vem do hálito que sobe do teu sono,
Enfeitiçada de calma, a tarde desce
E vejo-te ir nas nuvens abandonada.

Vais já longe, no mar, mas lenta e leve
A exalar belos sonhos desse sono.
E é do teu brilhar que minha mão escreve
Tudo o que revejo do teu abandono.

Dormes como o voo duma ave leve
E vejo-te em pleno mar de luz e céu,
Linda e absorvida no teu sono leve.

Vais abandonada nesse pó de estrela.
Quem me dera poder voar assim p'lo céu!
Só te posso observar da minha janela...

Modesto


terça-feira, 10 de novembro de 2015

DESEJO DE AMAR
























Amo-te desde o primeiro momento,
Sem saber se estou certo ou errado.
Tenho apenas um grande sentimento:
Ver o teu corpo sempre mais desejado.

Amo-te ao ritmo do meu coração.
Gosto dos momentos passados contigo.
Eu vivo abraçado a esta paixão,
Cada segundo penso ser teu amigo.

Vivo um sonho quase concretizado.
E serei feliz nos dias que viver
Em plenitude, se por ti for amado.

E é a grande razão que me faz crer
Que não poderás deixar de me querer...
Só espero vir o tempo ajustado.

Modesto

sábado, 7 de novembro de 2015

Somos administradores dos bens doados

«Quem é fiel no pouco também é fiel no muito»


Tens de saber de onde te vem a existência, o sopro de vida, a inteligência e aquilo que há de mais precioso, o conhecimento de Deus, de onde te vem a esperança do Reino dos céus e a de contemplar a glória que hoje vês de maneira obscura, como num espelho, mas que verás amanhã em toda a sua pureza e brilho (1Cor 13, 12). De onde te vem o facto de seres filho de Deus, herdeiro com Cristo (Rom 8, 16-17) e, se ouso dizê-lo, o facto de seres tu próprio um deus? De onde te vem tudo isto e através de quem?
Ou ainda, falando de coisas menos importantes, as que se vêem: quem te deu a beleza do céu, o curso do sol, o ciclo da lua, as incontáveis estrelas e a harmonia e a ordem que as regem? [...] Quem te deu a chuva, a agricultura, os alimentos, as artes, as leis, a cidade, uma vida civilizada, relações familiares com os teus semelhantes?
Não foi Aquele que, antes de mais nada e em paga de todas as suas dádivas, te pede que ames os homens? [...] Se Ele, o nosso Deus e nosso Senhor, não tem vergonha de ser chamado nosso Pai, podemos nós renegar os nossos irmãos? Não, meus irmãos e meus amigos, não sejamos administradores infiéis dos bens que nos são confiados. 
(S. Gregório N.)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

MÁGOAS RESTAURADAS


















Hoje quero escrever
Sobre páginas de mágoas,
Para que voltes a ler
A história das lágrimas.

'Stou no banco da memória
- Que nunca me falt' a tinta -
Pra 'screver tod' a história
Do amor-mágoa sucinta.

Entre folhas espalhadas
Qu' inundam meu coração,
Há mágoas derramadas
Com sabor d' expiação.

Dor em flor restauradas
Todas vieram verter
As lágrimas já passadas
Pr' em amor se converter.

Então, quero escrever
Em flores as minhas mágoas.
Vem ver, ao amanhecer,
Meus olhos secos de lágrimas!

Modesto

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

TRISTEZA COM ESPERANÇA



















Trago uma tristeza indefinida
Que prematuramente me envelhece,
Dando à vida a sombra de outra Vida,
Ajudando-m' a ser contrição e prece.

Este dia dos defuntos me intimida.
O meu corpo quente quase arrefece,
Bate sempre na mesma velha ferida,
Faz-me recolher com lágrimas e prece.

É condição da essência humana
Que sente a vida num curso incerto...
Existência falaz que nos engana.

Mas sinto que vibra em mim Alguém perto
Que me dá certeza desta caravana
Atingir a Vida que não é deserto.

Modesto

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

NOSTALGIA DO ENTARDECER




















`A tarde, a alma cura-se das feridas,
Mas, quantas cicatrizes há na lembrança!
Passam  p'la alma muitas queixas doloridas,
Há um véu em tudo o qu' a vista alcança.

Horas de sombra: O crepúsculo avança.
Nostalgia, filigrana entre-tecida
Com fios d' ouro e prata, já qu' a lembrança
Deixa mazelas pelos tecidos da vida.

O nosso sol vai fugindo abandonado,
Vem a lua que em seu lugar aparece,
Traz ao coração coisas do nosso passado.

A saudade vem misteriosa e calma.
Escondem-se os passarinhos... Anoitece!
Tudo se cala e anoitece a alma!

Modesto

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O MEU OUTONO

















Vi, voando, a caminho do ocidente
O bando ideal das minhas ilusões.
Do sol, vi um raio trémulo e dormente
Que as dourava com seus últimos clarões.

Iam já bem longe, corriam doidamente:
Esperança, amor... meigas aspirações...
Junto, as belas aves iam tristemente,
Tão nostálgicas que partiam corações.

E lá, mais além, vi pássaros tristonhos
E, perto deles, ia Vénus lacrimosa,
Brilhando na mais deserta imensidade.

Lá, no ocaso do sol, iam meus sonhos...
Ficou comigo a chorar, linda, formosa,
Uma tard' encantada e minha saudade.

Modesto

terça-feira, 27 de outubro de 2015

DIA DE CHUVA















Céu cinzento como pesada tampa
Deixa a minha alma atormentada.
A fria cor sobr' a terra se estampa,
O dia fica em noite pardacenta.

A chuva cai a cântaros e parece
Um grão turbilhão de sinistros varões.
Minha mente vai ficando fria, tece
Paciente... Ai! Fantásticas visões!

Ouvem-se os sinos tocar retumbantes
Com badaladas que ecoam errantes
E se transformam em brado furibundo.

Eu sinto por mim deslizar tristemente
O dia sombrio chorar cruelmente
E rogo ao sol que visite o mundo!

Modesto

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

SAUDADE D'OUTROS TEMPOS

























Quando, à noite, silente vou pensar,
Convoco as recordações do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar
E choro pelo tempo desperdiçado.

Afogo-me numa lágrima mui rara
Pela tarde que logo anoiteceu.
Fico com a dor qu' o amor superara
E deploro o que desapareceu.

Lastimo o meu erro já esquecido
E ponho a pena a lembrar as sagas...
Mas que adianta chorar o perdido?

Então, volto a pagar as contas pagas...
Mas penso sempre nesse tempo amigo,
Fica a saudade do tempo vivido.

Modesto

domingo, 25 de outubro de 2015

POLÍTICO DE QUEM SE FALA




















Uni-vos Povos do mundo
Que bem precisais de paz.
Homem faz jogo imundo,
Só por inveja o faz.

Ele vai na dianteira
E quer ficar bem no mundo,
Aduba a sementeira
Com o seu ódio profundo.

O Povo votou prá paz,
Pra governar coligados.
O homem se satisfaz,
Procurando aliados.

A seara cultural
Que dita nossa cultura
É do voto universal:
Quem ganha: - Legislatura!


A paixão do poder traz
Também muitas ratoeiras:
Ele não vai ser capaz
De defender as fronteiras...

Mas o capital atrai...
É preciso colocar
Os amigos. E lá vai
Esforço que fomos dar.


Nenhum Povo se aferra
No teu governo falaz.
Prepara-te par' a guerra
Ou vira já: faz a paz!

Feliz de quem, na pobreza,
Se contenta, satisfaz.
Orgulho, fama avareza...
Nunca trouxeram a paz.

Modesto

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

UM NOVO AMANHECER















Manhã d' Outono é fado,
Traz sempr' uma bela luz.
Quando está a meu lado
É candeia que reluz.
Procuro o sol com fé,
Mesmo quando não se vê.

Criança, queria ver
Ond' o sol s' escondia.,
Para melhor poder ser
Como o sol que nascia:
Subi ao alto do monte
A sondar o horizonte.

Nasce belo e brilhante,
Ilumina quant' existe,
Aparece de rompante...
Olhá-lo ninguém resiste!
Marcou-m' a vida futura,
Deu-me fome d' aventura.

Tod' a manhã ele traz
Vida segura e certa.
Eu sentia-me capaz
De partir à descoberta:
Ver o sol na partida
Todos os dias da vida.

Modesto

terça-feira, 20 de outubro de 2015

AFECTO E BEM QUERER

























Há amor no meu coração partido,
Pranto pelos meus olhos derramado
E há frio em fogo convertido,
Sentimento em lume disfarçado.

Abrasas meu peito enternecido,
Pranto no rosto corre desatado,
Como cristal em chamas derretido,
Amor doado aprisionado.

É fogo que não passa brandamente
E sinto que queima à porfia...
É um amor sofrido e ardente.

Para temperar esta tirania,
Eu quis qu' ele fosse amor prudente
E permito parecer chama fria.

Modesto

sábado, 17 de outubro de 2015

ECOLOGIA



















Onde o homem não chega, tudo é puro
Como a pureza da primeira infância,
Tudo é claro: aurora. dia 'scuro,
Tudo é medida, ritmo, concordância.

Hoje, já não há promessas de futuro
E até um vendaval é dissonância.
O homem não deixou de fazer o muro,
A Natureza aumentou a distância.

Com as suas mãos perjuras, de fel e sarro,
Este homem, com as suas mãos de barro,
Fez da Natureza seu gozo, prazer...

Mas, não é tarde pra sacudir a lama:
Ergue-t' ao alto, levant' a Deus a chama
E recomeça a tudo refazer.

Modesto

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

TARDES DE OUTONO



















As belas tardes ficam mais cinzentas,
As lindas árvores, nuas sem folhagem
E as ruas mais quietas, sonolentas,
Toda a gente vestiu nova roupagem.

O sol perdeu o brilho, 'stá-s' afastar
E, entre nuvens, vai desaparecer...
Mas o riso das crianças a brincar
São saudades do Verão que vi morrer.

O Outono dá as suas boas vindas
Ao Inverno que está para chegar,
Com o frio e suas noites infindas.

Nos campos, à sombra, vê-se a geada
Com um vento esquisito a soprar...
Deixa a gente e a terra congelada.

Modesto


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

COMEÇARAM A PERSEGUI-LO

Houve um tempo em que Aquele que agora desprezas estava acima de ti; em que Aquele que agora é homem era eternamente perfeito. Ele estava no princípio, sem causa; depois, submeteu-Se às contingências deste mundo. [...] Fê-lo para te salvar, a ti que O insultas, a ti que desprezas a Deus só porque Ele tomou a tua natureza grosseira. […]

Ele foi envolvido em panos mas, ao levantar-Se do túmulo, libertou-Se da sua mortalha. Deitaram-No numa manjedoura, mas foi glorificado pelos anjos, anunciado por uma estrela, adorado pelos Magos. [...] Teve de fugir para o Egipto, mas libertou esse país da superstição. Não tinha «forma nem beleza» (Is 53,2) diante dos seus inimigos, mas para David era «o mais belo dos filhos dos homens» (Sl 44,3) e resplandeceu no alto da montanha, mais deslumbrante do que o sol (Mt 17,1ss). Como homem foi baptizado, mas como Deus apagou os nossos pecados; Ele não precisava de ser purificado, mas quis santificar as águas. Como homem foi tentado, mas como Deus triunfou, Ele que «venceu o mundo» (Jo 16,8). [...] Teve fome, mas alimentou milhares, Ele que é «o pão vivo descido do céu» (Jo 6,48). Teve sede, mas exclamou: «Se alguém tem sede, que venha a Mim e beba» (Jo 7,37). [...] Conheceu a fadiga, mas é o repouso de todos os que «andam sobrecarregados e abatidos» (Mt 11,28). [...] Deixou que Lhe chamassem «samaritano e possesso do demónio» (Jo 8,48), mas é Ele quem salva o homem que caiu nas mãos dos salteadores (Lc 10,29ss) e afugenta os demónios. [...] Ora, mas é Ele mesmo quem escuta as orações. [...] Chora, mas é Ele mesmo que faz cessar as lágrimas. É vendido por preço vil, mas é Ele quem resgata o mundo e por um grande preço: o seu próprio sangue.

Como ovelha é conduzido à morte, mas é Ele quem conduz Israel às verdadeiras pastagens (Ez 34,14), tal como hoje o faz com a terra inteira. Como cordeiro cala-Se, mas Ele é a Palavra anunciada pela voz daquele que clama no deserto (Mc 1,3). Foi enfermo e ferido; mas é Ele que cura toda a doença e toda a enfermidade (Mt 9,35). Foi elevado sobre o madeiro e nele foi pregado, mas é Ele quem nos restaura pela árvore da vida. [...] Morre, mas faz viver e destrói a morte. Foi sepultado, mas ressuscita e, subindo ao céu, liberta as almas dos infernos.      

(S. Gregório de Nazianzo)



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

GOSTAR DA BELEZA





















Muitos gostam da beleza amada,
Por ser raro assombro, com certeza.
Mas só a vê a alma bem formada:
Tem que a procurar na Natureza!

Os dotes naturais de qu' é formada
São filhos da mais pura singeleza
Que, em verso, fazem encantada
Na lealdade, amor e firmeza!

O seu cândido ser eu conheço
Porque seus afectos lhe mereço:
Ela tem o valor que se presume.

Em mim, de amor não morre o lume,
Amo de coração o seu perfume
Da bela Natureza que conheço.

Modesto

terça-feira, 13 de outubro de 2015

BELEZA E AMARGURA




















Existe sempre beleza num' amargura
Secreta e esquecida que é latente,
Oculta em si e a quem a vê obscura,
Ambígua e indecifrável duplamente.

E não é igual à vivência que dura
Que não a pode entender qualquer vivente.
E quanto mais dentro de nós se desfigura,
É como o orvalho ou a brisa rente.

Se a amargura é a voz do acaso,
A beleza traz dois pilares que dão azo
Para nos preparar transacção bem constante.

E à própria beleza tudo foi dado
Para abrir a porta ao juvenil estado,
Para crescer e viver em cada instante.

Modesto

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

FLOR DA ALMA PERCEBIDA
























Brisa da tarde nos florais do campo,
Um cântico de beijos ao relento
Que é coisa de que gosto tanto,
No feitiço d' amor à flor do tempo.

Desse amor eterno à mercê
Duma canção tangida pelo vento
A ressoar na alma, não se vê...
Como amor no som do pensamento.

Queria amor são na minha vida,
Conhecer alma boa e remida,
Alma duma flor ao alvorecer.

E uma canção de ser docemente
Percebida, bem leve e presente
Que pudesse mesmo perceber.

Modesto

terça-feira, 6 de outubro de 2015

IDEAL



















Eu quero encontrar, por onde for,
Um ideal como ânforas de vinho
E beber, como num jardim, a flor
E ser como canteiro de carinho.

Vou amar, com ternura  e jeitinho,
Aos outros dar amor só por amor,
Levantar os caídos no caminho
Sem força, em pânico e em dor.

Serei sonho como amor rendido
Ao destino dum fulano banido
Que já canta sem gozo nem motivo.

Vou levá-lo p'las sendas do amor
Para tenda com jardim em flor
E d' amor venha a ficar cativo.

Modesto


sábado, 3 de outubro de 2015

DE ROMÂNTICO A ANSIOSO



















Romântico poeta dos vinte anos,
Escrevi e deixei versos juvenis.
De alma cândida, já com desenganos...
Eram sonhos que me fizeram feliz.

Extravasei os meus íntimos arcanos,
Junto de belas musas que tanto quis,
E fui projectando sempre novos planos,
Partindo pra me tornar num aprendiz.

Cheguei e encontrei um mestre augusto
Que imaginou onde eu chegaria
Com esse talento jovem e robusto.

Então, quando atingi maior idade,
Disse que me dedicasse à poesia:
Daí veio a minha ansiedade...

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...