sábado, 30 de setembro de 2023

VOLTOU A SER CRIANÇA

 Era uma vez uma criança esperta
Que foi de pequenino ao catecismo;
Aprendeu a doutrina e eu penso e cismo
Ninguém ainda a soube assim tão certa

Cresceu. E, um dia, do seu lar deserta: 
Lá foi de abismo caindo em abismo;
Calcou aos pés a graça do baptismo...
Da alma, a satanás, fez triste oferta.

Já velho, enfim, chegou à extrema hora:
E tem na alma a noite sem aurora,
Seu coração quer paz e não a alcança...

Mas... eis que chega o bom Reitor velhinho:
Levanta a mão em bênção com carinho,
- E o pobre velho volta a ser criança!

Modesto

sábado, 23 de setembro de 2023

VIDA COM ESPERANÇA

 Eu parti animado, numa aurora,
Com o fogo da minha juventude.
Levava o coração todo por fora, 
Tinha a força da água num açude...

O meu sol já estava despertado
E eu levava na alma uma canção...
Porém, alguém desfez meu sonho alado
E, aos poucos, resvalei num saguão.

E a luz que anuncia a madrugada,
Como um farol bendito na partida
Apagou-se de vez, na minha estrada,
E a escuridão entrou na minha vida.

Mas lembrei que depois da tempestade,
Um arco-íris límpido se espera;
A esperança voraz não tem idade 
E vem, depois do Inverno, a Primavera!

Modesto

sábado, 16 de setembro de 2023

A MINHA ALDEIA

Naquela verde aldeia onde nasci,
Havia a paz celeste e camponesa,
As aves tinham lá a sua mesa,
E cercado de música cresci. 

Era um regalo ouvir, cada manhã,
Esse clarim de galo despertado...
E dava gosto ver tão sossegado
Um rebanho com túnicas de lã.

Minhas manhãs de primavera airosas
E minhas noites de verão calmosas,
Onde brincava com irmãos e primos.

Ouvia histórias lindas, à lareira,
Da minha avó, com alma de primeira,
Saídas com amor dos lábios finos.

Modesto

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

VOLTA DEPRESSA, MÃE

 Fugiste-me, deixando-me quebranto.
Se soubesses quanto eu te amava,
voltarias depressa à terra brava,
A cobrir-me de novo com teu manto!

Agora vivo triste e já não canto
Porque não ouço a voz que me alentava,
Nem sinto a mão bendita que enxugava
Da minha vida o copioso pranto.

Meu pobre coração só por ti chama,
Só a ti quer e só por ti se inflama
E diz que como tu não há ninguém.

Oh, não me deixes para sempre triste!
Vem tão depressa como me fugiste
Ó boa amiga, ó santa e doce mãe!

Modesto

terça-feira, 5 de setembro de 2023

TEMPO QUE JÁ LÁ VAI...

 Águas cantantes, leves, cristalinas,
Fertilizando veigas e pomares;
Cravos e rosas, lírios e boninas,
Recreando os olhos, perfumando os ares;

Moças esbeltas, ágeis e rabinas
A sonhar alto junto dos teares;
Boizinhos mansos a lavrar campinas
E andorinhas no azul, voando aos pares;

Alegres romarias todo o ano;
Famílias numerosas; povo lhano,
Contente ao ver na mesa pão e vinho;

Ermidas pelos montes; mãos em prece,
Mais fervorosas quando a noite desce:
- Oásis de encantos, meu formoso ninho!

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...