quarta-feira, 25 de novembro de 2020

JARDIM


Eu sentei-me num banco do jardim
E bem perto de mim, sorriam flores,
Ofertando-me beijos de carmim
A fim de aliviar as minhas dores.

Na ramagem das árvores havia
O gorjeio feliz da passarada,
Qu' aos poucos, nest' alma atribulada,
A luz da Primavera oferecia.

A sintonia natural encheu
O meu peito de músicas divinas...
E pareceu-m' ouvir, vindo do céu,
Coro angelical, com vozes finas.

E meu choro - cruel monotonia -
De vez findaram como por encanto.
Vieram os sorrisos d' alegria,
Esta amargura transformou-s' em canto.

Agradeci ao banco do jardim  
Às aves, às corolas, à ramagem,
A pureza e paz dum Querubim,
Qu' ao coração me troux' uma mensagem.

Modesto



 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O TEMPO



 Ninguém, por mais que lute mansamente,
O tempo deterá no seu caminho.
Finda, renasc' o tempo num repente,
Das próprias cinzas faz o próprio ninho!

O tempo vai passando pela gente,
Tão leve, tão subtil, tão de mansinho,
Que quase não se nota nem se sente:
O tempo  nasce e morre caladinho.    

Passa por nós o tempo infinitivo,
Ninguém percebe o seu correr esquivo.
Ri-se de nós... a ninguém sorri!

Ai! O tempo inviso vagabundo!
Só ele goza este prazer jucundo
De nos fazer correr atrás de si...

Modesto




sexta-feira, 13 de novembro de 2020

AURORA








Amanhece novo dia,
Que de noite adormecera,
E de contente sorria
Prá luz qu' 'stava à 'spera.

E logo de madrugada,
Encheu a terra d' encanto,
Como celeste embaixada,
Que desceu dum lugar santo.

E eu qu' estava à janela
Descobri nessa aguarela
A voz de um rouxinol,

Que surgiu na branc' aurora,
Aprendi a ver de fora
Paisagem do arrebol!

Modesto
 

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...