sábado, 30 de novembro de 2019

O SARAU DA NATUREZA

O sarau da Natureza
É festiva reunião:
Um momento de beleza
De alta inspiração.

O sol entr' a declamar
Um poema à aurora:
Ficam todos a 'scutar,
Como a fauna e flora.

Esperança é o tema,
O mais belo que se fez:
Os versos de um poema
Da lua, na sua vez.

As pedras ouvem silentes,
Os rios põem-s' a cantar
A cantiga das correntes,
Sem nunca desafinar.

A montanha aprecia
O timbre da sua voz,
Sua linda melodia,
Quando 'stão perto da foz.

E as aves também dançam,
Não ficam fora da festa.
E as plantas alcançam
Compasso da floresta.

Este sarau triunfante
O homem quer encerrar!
Da riqueza natural,
A ganância d' explorar!

Faz a desflorestação
Pensando nos lucros seus:
Extinção, poluição...
Não é vontade de Deus!

Modesto

terça-feira, 26 de novembro de 2019

NO DIA DE CRISTO REI
























- " Vê: O Reino dos Céus Eu te darei"
(Bradou a forte voz lá das alturas)!
" Vai! Segue o que diz a Minha Lei,
Prova a Hóstia das Escrituras".

"Quebra o cálice das amarguras,
Abre tua alma ao Novo Rei:
É Luz eterna nas noites escuras
O Sangue que na Cruz Eu derramei"!

- No Teu Coração fiz minha guarida,
Em mim sinto viver a Tua Vida
E hoje encontrei-me com o Teu Nome!

Teu Amor é novo, meu corpo velho,
O Teu Reino vive no Evangelho:
Dá o Pão do Amor à minha fome!

Modesto


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

GOZA A VIDA LENTAMENTE
















Eu ando devagar e vou devagarinho.
Quem corre muito vive sozinho.
O mundo está cheio de coisas lentas,
Se corres sempre, não o sentes.
Vê como é belo o Universo!
Para um pouco e faz-lhe um verso!
Aprecia esta beleza,
Sente as virtudes da Natureza!
Acalma-te um pouco, acalma.te agora:
O que te acontece se parares uma hora?

Modesto

sábado, 23 de novembro de 2019

A MENINA E O POBRE

















- Ó pobre, em que meditas?
Porque vives triste assim?
- É qu' eu acho-te bonita
 e tu não gostas de mim!

- Pobre, tu' alma é nobre!
És triste... Que te desgosta?
- Amo-te, mas sou tão pobre
E dos pobres ninguém gosta!...

- Pobre olha pró espaço
E deixa de meditar...
- É qu' eu quero um abraço,
Não há ninguém pra mo dar!...

- Pobre, 'stás triste, bem vejo,
Porque cismas tant' assim?
- Comer é o meu desejo,
Mas ninguém olha pra mim!...

- Pois, os ricos são severos...
Vivem em ricas vivendas!
Pra eles, pobres são meros
Pobres: Sem rosto... São lendas!

Modesto

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

MENINA DO CAMPO
























As papoilas da saúde
Trouxeram-t' um ar mais novo!
Rosa cheia de virtude,
Ó bela filha do povo!

Do campo viçoso, rude...
Tu regressas renovada!
Por isso, eu nunca pude
Ver-te tão atarefada.

Viva o campo e seara
Que te deram pele clara:
São rubores d' alvorada!

E os teus beijos, agora,
Têm sabores d' amora
E de romã estalada!

Modesto

domingo, 17 de novembro de 2019

SECRETA HUMILDADE


















Fico parado, em êxtase suspenso
Quando, às vezes,vou considerando
O mistério bom do teu ser imenso,
Humildade simpática, no brando!

Tudo a que aspiro, tudo quanto penso
Das estrelas, dentro de mim cantando,
Num céu azul carregado e denso...
Tudo ao teu fenómeno vai dando!

De onde, não sei, tanta simplicidade!
Tão secreta e límpida humildade
No teu ser, como nos encantos raros!

Nos teus olhos, a alma transparece
E de tal modo qu' o Bom Deus parece
Viver, sonhando, nos teus olhos claros!

Modesto


sábado, 16 de novembro de 2019

HORAS DE SOMBRAS E SAUDADE



















Horas de sombras, silêncio amigo,
Quand' há o encanto da humildade.
Roga por nós, no seu perfil antigo
O Anjo branco, belo, da saudade.

Horas qu' o coração não vê perigo
De rezar, de sentir com liberdade
Aberta, sobre tumular jazigo,
Na hora imortal da Eternidade.

Horas de compaixão e clemência,
Segredos sagrados da existência
E horas de perdão, sempre benditas.

Horas fecundas, mistério casto
Que desce do céu profundo e basto,
No repouso das almas infinitas.

Modesto

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A CHUVA DE NOVEMBRO

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Vento do Norte traz chuva manhosa
Que vai cair nos campos de Novembro,
Ela dá força à mais linda rosa
Qu' abriu sem tempo... Como me lembro!

Nos ramos secos resplende a luz
E a bravura do tempo transforma
A terra. E, na paisagem, reluz
Uma enchente dos rios sem forma!

Todo o trabalho fica suspenso.
O vento de Outono é intenso,
Vai varrendo os campos, em Novembro.

E há trovões, na tarde açamoucada!
Parecem cantar em breve balada
 De poesia... Como eu me lembro!

Modesto

terça-feira, 12 de novembro de 2019

FLORES DO NOSSO PASSADO



















Sem o amor, meu coração reclama!
Sei que tens a mesma sina de queixa,
Por amar e viver com quem se ama!
Viver só pra mim? Destino não deixa.

Pudera arrancar do pensamento
A lembrança que é sombra que sente!
Vai a saudade do esquecimento
Por caminhos onde não 'stou presente!

Sim, a lembrança do amor possível
Que ninguém sabe se irá embora.
Lembrar de esquecer é preferível,
Com um amor ao romper da aurora!

Tiremos da mente horas vividas,
Que leve o vento rasto deixado,
Lá, nas estradas por nós percorridas,
Fiquem as flores do nosso passado!

Modesto

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A NOSSA SOCIEDADE

















Quando dos carnavais da raça humana
Forem caindo as máscaras grotescas
E se desfizerem no feroz Nirvana
Com as atitudes mais funambulescas....

Quando tudo ruir na febre insana,
Nas vertigens bizarras e pitorescas
Que riem da Fé Profunda, Soberana,
Neste mundo de emoções carnavalescas,

Vão ver passar a lúgube, funérea
Galeria sinistra dessa miséria,
Com as máscaras do rosto descoladas!

Tu que és o deus, o deus invulnerável,
Resistes a tudo,  ficas amorável,
Cairás, sim, numa noite de estrelas!

Modesto



domingo, 10 de novembro de 2019

COMO UM BARCO VELHO

















A vida é uma renúncia partida
Em pequenos fragmentos, a toda a hora.
E por um' ironia, às vezes, a vida,
Renunciando, aos poucos, vai-se embora!

A vida, hoje, é tão bela com' outrora,
Embora nos traga expressões comovidas.
O coração começa a sofrer, agora
Feito labaredas, chamas adormecidas!

No entanto,há uma Âncora no fundo!...
Hoje, com' um barco sobre o mar do mundo,
Onde está um marinheiro já mais torto...

Velas rotas ao vento, mastros aos pedaços...
Mesmo sofrendo, acenam-lhe com os braços
E deixam-no ficar, sem destino nem porto!

Modesto


terça-feira, 5 de novembro de 2019

VEM VER A CLARIDADE



















Deixa que te mostre a Fina Claridade
Que floresceu no fundo do coração,
Pois qu' eu já não sou a tua "divindade"
Que carregas nas redomas de paixão.

Oh! Deixa que te mostre a Luz do dia,
Na tela onde pintei a humildade!
Ela tem acordes duma sinfonia
E dá luz ao mundo com suavidade!

Se Ela alegra os dias sombrios
Nos espíritos mais tristes e mais frios,
Sossega-a: - Dá-lhe versos dum poema!

Diz-lhe qu' o sol é quente em tod' a parte,
Qu' a Terra  se ergue em cachos de arte
E cheira a relva, flor e... alfazema!

Modesto

domingo, 3 de novembro de 2019

JUNTO AO TÚMULO


















Eis o descanso eterno, doce abrigo
Das almas boas e da Terra despegadas!
Este repouso é mesmo sono amigo:
Veio tirá-las das vidas amarguradas.

Amarguras da Terra! E eu bem o digo!
Fostes embora pra sempre, almas amadas!
Daí do Céu, olhai por mim - eu vos bendigo -
Ó almas da minha alma, abençoadas!

Quando eu for daqui, ó meu Anjo da Guarda,
Ou quando vier a morte que já não tarda,
Guiai-me ao Bom Porto -  ao Eterno Cais.

Sem pranto, escrevei sobre a minha lousa:
"Acabaram-lhe as mágoas! - No céu repousa,
Quem muito aqui sofreu e amou bem mais".

Modesto

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...