quarta-feira, 31 de agosto de 2016

LIÇÕES DA VIDA


















Aprendi, nos livros, grego, filosofia...
Dissequei teoremas, relatividade...
Ensinaram-me muito e eu aprendia,
Só não m' ensinaram o que é a saudade!

Ensinaram-me geometria, latim...
O Norte e o Sul a todo o vapor,
Aprendi tudo... Algo aprendi por mim,
Pois ninguém me ensinou o que é amor!

E nada me ensinaram da fantasia!
Eu, durante as aulas, deixava-me sonhar:
A lua, estrelas, beleza, poesia...
Queria aprender como era amar!

Se eu escrevesse as coisas que já sei...
Viajei plo mundo por terra, céu e mar,
Mas também sofri! E quanto eu já chorei!
Mas aprendi de tudo e já sei amar!

Modesto

terça-feira, 30 de agosto de 2016

VIVE SORRINDO


















Não deixes murchar a rosa do sorrir,
Fá-la abrir como luz na 'scuridão,
Flor, alegria... refulgem no provir,
Flor da tristeza, mata-a em botão.    

Não deixes o pranto plo rosto cair.
A vida é breve pra sofrer em vão.
Os olhos que choram também podem rir...
É melhor sorrir que ter desilusão.

Lamurias destilam fel de tristeza            
Pró infeliz, o sol é vela acesa,
Lágrimas enfraquecem o sentimento!

Tu procura pensamento positivo:
Ser feliz é sonho de quem está vivo.
Alegria não se dá com sofrimento!

Modesto

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

OS PÍNCAROS DAS MONTANHAS

























Agora, deslumbrada alma, perscruta
O tempo geológico int'rior
Desta elevação da crosta hirsuta
Onde rebentam contracções de dor!

Naquele curso da terráquea luta,
Quantos desejos férvidos do amor
Daquela geração de pedra bruta
Dorme agora recalcado de dor?!

Como naqueles relevos orográficos,
Tão inacessíveis aos humanos tráficos
Onde o sol poente ama jazer,

Quem sabe, alma, se o que não existe
Não viv' em gérmen no agregado triste
Dessa síntese sombria do seu ser?

Modesto

domingo, 28 de agosto de 2016

PASSEIO PELOS MONTES




















Por montanhas, vales... tudo nevoento,
Toda a paisagem num burel de bruma...
Bocejo de tédio e desalento
Qu' ora se adensa, ora se esfuma.

Alta planície além se apruma,
Num cabeço de monte que se vê lento,
Correm, além, turbilhões de espuma
E um rio serpenteia com alento.

Desperta a minh' alma adormecida,
A tristeza foi-se, algo me convida,
Numa ânsia e emoções estranhas.

Depois duma tristeza indefinida,
Vem o sol! Tão bela sua aparecida...
São tão belos estes vales e montanhas!

Modesto

sábado, 27 de agosto de 2016

NIZE E A ESTRELA

























Eu vi linda estrela, enamorado,
Fiz logo uns lindos votos de querê-la,
Pois que bem merece o meu cuidado.
Mas, logo vi Nize e achei-a bela!

Mas qual escolherei, se neste estado,
Não sei escolher Nize de uma estrela?
Se Nize vier aqui, fico abrasado,
Se a estrela vier, morro por ela!

Mas ah! Nize não me quer por sua amante
E estrela não me quer por inconstante,
Pois sabem que estou preso noutros braços.

Ou faço de dois semblantes um semblante,
Ou divido meu peito em dois pedaços...
Oh! Vem, Cupido, soltar-me destes laços!

Modesto


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O SONETO NÃO ACABA MAIS


















Os críticos repudiam o soneto!
Dão outras formas às suas produções:
Chamam-te arcaico, dizem-te obsoleto,
Mas Horácio chama-t' Arte, Pisões.

Mas tu não morrerás: És o esqueleto
Da ideia que resiste às construções.
O pensamento vive em ti completo,
De Ronsard, de Petrarca, ou de Camões.

Disse Boileau que vales todo um poema!
Dentro de ti, como que num cofre, coube,
Chave d' ouro, a inspiração de Arvers,

O poeta qu' em quatorze versos soube,
Na arte da tua síntese suprema,
Eternizar o amor duma mulher!

Modesto

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

NUMA SÓ SOMBRA
















Passeemos tu e eu devagarinho,
Sem ruído e sem quase movimento,
Tão mansos que a poeira do caminho
Seja pisada sem dor e sem tormento.

Que os nossos corações num torvelinho
Dessas folhas arrastadas pelo vento,
Saibam beber este precioso vinho,
Da rara embriaguez deste momento.

E se a tarde vier... deixá-la vir.
E se a noite quiser pode cobrir
Triunfalmente o céu de nuvens calmas.

De costas para o sol, então veremos
Fundir-se as duas sombras que tivemos
Numa só sombra, como as nossas almas.

Modesto

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

NO JARDIM AO ENTARDECER



















Na penumbra, jaz o jardim silencioso,
A tarde triste vai morrendo, desfalece.
Na pedra dum banco, um vulto doloroso,
Vem sentar-se isolado e se esquece.

Deve ser segredo, num delicado gozo
Permanecer assim, quando a noite desce,
Sozinho, na paz do jardim silencioso,
Num' imobilidade estática de prece.

Num lugar propício à doçura d' almas,
Ele vem meditar muitas vezes sozinho,
No mesmo banco de carícias e palmas.

Só uma vez o vi chorar num choro brando.
Ouvi, já caía a noite de mansinho...
Voz de menina, ao longe ia cantando!  

Modesto                                        

terça-feira, 23 de agosto de 2016

NOITE REPOUSADA























Eu tenho que fazer como bem faz a noite:
No teu jardim florido, repousar em mim.
Os ventos passarão pela relva afoite,
A noite transformada em relva de jardim.

A tua voz será doce e não de açoite
Pois velarei teu sono como querubim.
Então chamarás por mim com voz afoite
E pensando no amor que está em mim.

Nós dois vamos passar a noite romançosa
Passando pela recordação vagarosa
Que repousa no silêncio duma canção.

Eu farei tudo o que acontece na flor
Renascida das cinzas da canção d' amor,
Guarda no âmago do meu coração.

Modesto

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

JARDIM E AMOR DE INFÂNCIA

















Flores plenas de luminosidade
Sorriam, deixando-me extasiado.
Cores traziam curiosidades,
Seu perfume traz-me embriagado.

São flores do meu primeiro amor,
Soltam aromas de doce fragrância!
A mais portentosa aberta flor
Gostava da minh' augusta infância.

Olhando, repleto de nostalgia,
Meu coação batia com força
 E com angustiada alegria,
Beijava-a como fuga de corsa.

Agitado, meu desejo ardia
E em veemência almejava...
Para o desconhecido tendia
E o encantamento confirmava.

Como ave, sobre a flor voei,
Sua cor ainda mais refulgia!
Sobre a portentosa flor pousei...
Vi a felicidade nesse dia!

Modesto

domingo, 7 de agosto de 2016

VIDAS OUTONAIS



















Há marés na vida em que supomos
Ter vencido os traumas e feridas,
Esquecendo o valor das despedidas,
Penando nos poentes dos outonos.

E há tempos de flores renascidas
Nos desertos áridos que nós somos,
Mesmo que o verão nos dê os pomos
Pra comer e pensar nas nossas vidas.

E há também um tempo de saudade:
A fonte a brotar com piedade
As lágrimas que secam com o ar.

Lá se vai o nosso amor profundo,
Chorando no crepúsculo do mundo,
Vivendo, com razão, mais devagar.

Modesto

sábado, 6 de agosto de 2016

O AMOR ACONTECE

















Em busca do amor sempre andei,
Em cada novo dia uma prece...
Um dia, sem querer, te encontrei...
Não se procura amor: Acontece!

Então, houve silêncio total,
A terra não girou na sua órbita...
Com olhar doce, rost' angelical...
Nem acreditei: Estavas à porta!

Agora temos este amor sem fim,
Adorável, nostálgico, sincero,
Ardent' amor reservado pra mim
E em cada dia mais o espero.

Assim, com o passar dos longos anos,
Seguirei, vivend' o dia a dia.
Esta tarefa d' amar sem enganos,
São palavras e gestos de magia.

Modesto

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A ROSA CAÍDA



















Duma rosa caída à nossa porta,
Dess' amor qu' 'inda dura no ar perdido,
Da paixão qu' 'inda dura na rosa morta...
Há tudo isto qu' é bom e faz sentido.

As suas pétalas o olhar suporta,
Bem como o ardor belo e vencido,
Seu perfume doce ainda conforta
E o seu jardim não fora esquecido.

Nossos versos cantam a sua história,
Que do seu nascer traduz a memória,
Pétalas bonitas, sonhos infinitos.

Que esperança nosso amor tivera!
E viver como ela, ai quem nos dera...
Morrer como a rosa com os seus mitos!

Modesto

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

SAUDOSISMO

























Dos tempos idos ficou a lembrança,
Dos meus ontens, das manhãs doutrora.
Balões de nuvens do meu ser criança,
Do sol da manhã rompendo aurora,..

Meu mundo vivia-o d' esperança,
Nele, eu via o lado de fora:
Via o céu ond' a alma descansa,
Via a vida tangendo a hora!

E tudo corria fácil, ao vento
Que era janela do pensamento...
É um relâmpago a existência!

Hoje busco o meu lugar guardado,
O futuro é visto no passado
E retenho tudo na consciência.

Modesto

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

UM CÉU DE PÚRPURA
















É púrpura o céu ao entardecer
No infinito do monte cintilante.
N' amplidão vai o sol empalidecer
Até que o véu da noite se levante.

Fog' o dia, mil 'strelas vão ap'racer
No cariz do céu e no mesmo instante,
A lua faz o brilho que deve ter,
Qual luz da terra pelo céu distante.

Os bichos fogem e nuvens de pardais
Louvam a Deus com cantos triunfais,
Voando pelas copas dos arvoredos.

Tudo adormece, vazio profundo!
E, neste abandono, deita-se o mundo...
A noite veste o manto dos segredos.

Modesto

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

CANTA-ME CANÇÃO AMENA

























Vem cantar-me uma canção amena
Junto à fonte d' água corrente
Que chora de mágoa e tod' a pena
Que teu amor ignora, não sente.

Toca-me o piano que alterna
Com a cítara da tu' alma ausente,
O que faz doer em paixão interna,
Consolando-m' o sol no oriente.

Eu gosto das canções melodiosas
Que cantavas tantas horas ditosas
Com amor: Davas-mo e que bem me fez!

Repousa teu corpo nos braços meus,
Qu' estes dias de verão sejam teus...
Encanta-me hoje, mais uma vez!

Modesto



AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...