quarta-feira, 31 de agosto de 2022

VINHA CAINDO A TARDE

 Vinha caindo a tarde. Era um poente de agosto.
A sombra já enoitava as moitas. A humidade
Aveludava o musgo com tanta suavidade
Qu' havia  de fazer chorar nesse sol-posto.

A viração do oceano acariciava o rosto
Como incorpóreas mãos. Fosse água ou saudade,
Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade.
Foi então que senti sorrir o meu desgosto....

Ao fundo, o mar batia a crista dos escolhos...
Depois o céu... e mar e céus azuis: Dir-se-ia
Prolongarem a cor ingénua de teus olhos...

A paisagem ficou espiritualizada.
Tinha adquirido uma alma e uma nova poesia
Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

CONTRIÇÃO

Eu fui, talvez, Senhor, que mais gritei:
«Seja esse Jesus crucificado!» 
Eu fui, talvez, Senhor, que mais rasguei
Esse Teu lado com o meu pecado.

Entre os homens, talvez, eu mais pequei,
Seguindo livre o meu caminho errado...
De tantos filhos pródigos, deixei
Mais cedo o Teu Solar Imaculado.

Mas voltei, com a alma amargurada,
Por ser mais uma ovelha desgarrada,
O Pródigo com fome do Teu Pão.

E, mesmo regressando ao fim do dia,
Inda espero comer dessa Iguaria
Na Mesa divina do Teu perdão.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

CONTRASTE

 Quando partimos, no verdor dos anos
Da vida, pela estrada florescente,
As esperanças vão connosco à frente
E vão ficando pra trás os desenganos.

Rindo, cantando céleres e ufanos,
Vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz
E vemos que sucede exatamente.

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão connosco à frente
E as esperanças vão ficando pra trás.

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida De luz plena, estes montes prateia. E a ribeira que de água vai cheia, A embalar-me, abstrai-me da vida. P...