terça-feira, 27 de março de 2018

SE SOIS RIQUEZA



















Se sois riqueza, como estais despido?
Se Omnipotente, como desprezado?
Se Rei, como de espinhos coroado?
Se forte, como estais enfraquecido?

Se luz, como a luz tendes perdida?
Se sol divino, como eclipsado?
Se Verbo, como é que estais calado?
Se vida, como estais amortecido?

Se Deus, estais como homem nessa Cruz?
Se homem, como dai a um ladrão,
Com tão grande poder, posse dos céus?

Ah, que sois Deus e Homem, bom Jesus!
Morrendo por Adão enquanto Adão,
E redimindo Adão enquanto Deus.

(Frei António das Chagas)

domingo, 25 de março de 2018

DOMINGO DE RAMOS




Domingo de Ramos


A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se servo dos homens, deixou-se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste Domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.

A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste "servo" a figura de Jesus.

A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.

O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus - esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

sábado, 24 de março de 2018

AINDA HÁ FLORES NO MEU JARDIM















A mocidade foi um temporal em riste
Onde sempre brilhou a luz dum claro dia.
Chuva caiu... Mas sei que ainda existe
Muita flor no jardim da minha fantasia!

Agora que sou outono alquebratado,
De paciente labor... não corro assim!
Vou renovando o terreno encharcado,
Cheio de torrões... é esse o meu jardim!

Quem sabe se as flores que ora cobiço
Iriam encontrar, no chão alagadiço,
O bom alimento para desabrochar?

O tempo corre veloz, galope perfeito,
E a dor vai corroendo o nosso peito,
Com o nosso sangue a correr, a medrar!

Modesto

sexta-feira, 23 de março de 2018

NOVA PRIMAVERA




















Vê as celestes regiões distantes,
Fundo melancólico da esfera:
Traz amor das estrelas palpitantes
E amores da terna Primavera!

Que mistérios andarão errantes
De tanta gente que busca quimera?
Repara nos altos céus radiantes,
Vê as estrelas numa paz austera!...

Fina flor de pérolas e de prata
Das estrelas serenas se desata,
Não é caudal de ilusões insanas...

Quem sabe? Neste tempo de quimera
Haja amor na nova Primavera
Que nos traga alegrias humanas?!...

Modesto

segunda-feira, 19 de março de 2018

DIA DO PAI















Deixai-me rever as minhas lembranças,
Soltar as asas ao vento que vai:
Abraçava-vos, enquanto crianças,
Sentíeis doçura na voz do pai...

Uma lágrima desprende-se, cai!
Brota do meu peito a esperança:
Que me ameis como sou - vosso pai -
E que me guardeis na vossa lembrança.

Pele clara, cabelos branqueados...
Fui infante, d' olhos amendoados...
Agora, há um sorriso augusto!

Trago peito aberto como céu,
Ergo-vos, nas mãos, como um troféu,
Pois meus filhos têm tudo robusto!

Modesto

sexta-feira, 16 de março de 2018

MADRUGADA












O silêncio posso entender,
Plas palavras que diz o meu sonho:
Destino impreciso faz saber
Qu' a luz não mostra um dia risonho.

Faço os meus versos na madrugada
Mas não me sujeito a esta dor,
Pois não me posso proteger de nada,
Nem da brincadeira dum sonhador.

Fico em ânsia de desalento,
Regendo a vida em pensamento,
Co' a chama a olhar o horizonte.

O sol, entre nuvens, dá-me a crença
Que o dia me traga a presença
Da lucidez, clara água da fonte.

Modesto

quinta-feira, 15 de março de 2018

SÓ FICA O AMOR



















Aqui 'stou com a vida que me resta,
Carne e osso é minha 'strutura
Feita de matéria que não presta:
É o que tenho e nada tem cura!

Tudo o qu' é meu, a vida me empresta:
Apanho o sol, o pão d' amargura,
No meu corpo, tudo é festa,
Mas tudo caminha par' a ruptura!

E, um dia será a despedida...
Deixo amor com' herança da vida,
Amor que houve na minh' existência.

É amor o que resta do meu ser,
Como o fui dando no meu viver
Em felicidade de qu' é essência.

Modesto

terça-feira, 13 de março de 2018

IDOSO, NÃO DESISTAS !















Gosto de ti, idoso que caminhas
Tão inseguro, pernas com travões,
Bengala nas mãos pálidas, magrinhas,
Olhar triste, vazio d' emoções.

Das passadas seguras qu' antes tinhas
Restam saudades, vãs recordações...
Mas, não desistas! Faz com' as gavinhas,
Prende-t' a um sonho, doira-o d' ilusões!

Gastast' a vida a construir quimeras,
Hoje és sombra daquele qu' então eras
Na luta de viver que dignifica.

Mas respiras! Vives! Inda és gente!
- Um astro, mesmo já na descendente,
Mantém sempr' o brilho, nunca abdica!

segunda-feira, 12 de março de 2018

DORMINDO NO VALE




















Num recanto verde onde um ribeiro canta,
Há erva com gotas de orvalho de cristal
E o brilho do sol que, loiro, se levanta:
É um pequeno, verde e luminoso vale.

Sobre a erva fresca, um pastor reclina
A fronte nua sobre frescos agriões
E dorme nesse leito, onde a neblina
Vai chagar com a luz de macios clarões.

Os pés nos juncos, face pálida risonha
Parec' uma criança a dormir, e sonha...
E a Terra-Mãe acalenta-o com jeito!

Mãos em cruz no peito, dorme tranquilamente,
Nem os beijos da luz, nem os perfumes sente...
E duas borboletas pousam no seu peito.

Modesto

domingo, 11 de março de 2018

DEUS AMA-NOS TOTALMENTE




















Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna.
quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, está a construir um futuro marcado por horizontes de dor e de morte. No entanto, diz o autor do Livro das Crónicas, Deus dá sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer o caminho da esperança e da vida nova.
Deus ama o homem com um amor total, incondicional, desmedido; é esse amor que levanta o homem da sua condição de finitude e debilidade e que lhe oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim que está no horizonte final da nossa existência.

João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma, que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com ele a lição do amor total, a percorrer com ele o caminho da entrega e do dom da vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.


EAQ

sábado, 10 de março de 2018

PASSEANDO PELOS MONTES
















Nesta serra, ouvindo a voz das fontes,
De humildes alegrias fui pastor.
Contemplava os longínquos horizontes
E meus rebanhos guardava com amor.

Coloridas urzes erguiam as frontes
Verdes e roxas, num gesto criador!
E, vestiam-se de rosa, estes montes,
Onde semeei muitos sonhos em flor!

Procurei risos e sonhos... mas voaram!
Perdi meu gado e meus jardins secaram
E, ali, já não há urzes nem alfombras!...

É triste ver os montes ao abandono...
E eu passo - folha murcha dum Outono -
Vagueio errante, por entre as sombras!

Modesto

sexta-feira, 9 de março de 2018

NA QUINTA À BEIRA DOURO













No rebuliço da quinta, cai a tarde!
O prado em flor ensombra lentamente...
À minh' alma vem a onda da saudade
E espalha-s' em tud' aquilo que sente.

Fico só e a cismar... Olhar ausente,
Com lembranças qu' o coração me invade.
Uma rosa, no jardim, comigo sente...
Eu pego-a com doce suavidade.

Sento-me à beira Douro e lá miro
Meu rosto na água... pétalas atiro
Ao rio que mansamente se renova.

Vejo minh' imagem n´água mergulhada!
Cobre-me a rosa... já não vejo nada...
E, distraído, estou na praia nova...

Modesto

quinta-feira, 8 de março de 2018

À PROCURA DOS MEUS RASTOS

























Olho para mim, como s' olhasse um 'stranho,
E choro por me ver tão outro, tão mudado...
É que sofro de um mal e dum mal tamanho,
Sem saber desvendar a causa, com cuidado!

Já não sou o mesmo EU do tempo passado:
Pastor de ovelhas,,, Perdi o meu rebanho!
Não conheço a vida... Tudo 'stá mudado,
É incógnito provir em que me amanho...

Rasgaram a minha alma em tal desgosto,
Nas silvas do abandono,pelo sol posto,
Quando o sol começa a diluir-s' em astros...

E, à beira da estrada, lá muito longe,
Como um mendigo só, ou um santo monge,
Anda meu coração em busca dos seus rastos!

Modesto

quarta-feira, 7 de março de 2018

AMOR DOADO





















O meu amor é doado
Com gratuita assistência
De Cristo ressuscitado:
A mais divina ciência!

O meu amor é doado
Em comunidade séria.
É amor sublimado
Na pureza da matéria.

O meu amor é doado
Ao outro com paciência:
É amor de caridade.

O meu amor é doado
Com a plena consciência
De ser amor de verdade!

Modesto

terça-feira, 6 de março de 2018

O FASCÍNIO DA CHUVA

























Gosto de ti, ó chuva, quando cais
Batendo forte na vidraça nua,
Com fúria, despenhas-t' em caudais
Que correm, como riachos, pla rua.

Cantas e danças... ritmos infernais
Numa lascívia bárbara, só tua!
Que dizes? Donde vens e p'ronde vais?
São segredos que mantens com a lua?

O que me vens dizer ao coração
Em horas d' incerteza e solidão,
Fico ouvindo... tento decifrar!

Mas tu, discreta, guardas teus segredos!
S' estendo a mão, afagas-m'os dedos,
Se fecho os olhos, deixo-m' embalar!

Modesto

domingo, 4 de março de 2018

DOCE PAIXÃO





















As mãos que acariciam
São prelúdio d' amor,
Os amantes apreciam
E há na fac' um rubor.

Olhos transmitem ternura
Que fascina e encanta,
Uma serena duçura
Os males d' alma espanta.

Depois, aument' o desejo,
Surge bela atracção ...
De repente, há um beijo
Roubado na distracção.

Modesto


sábado, 3 de março de 2018

AMOR NUM POEMA



















Poema, diz ao meu amor, neste momento,
Que ria de mim e da minha nostalgia!
Mostra, neste verso, brio do meu talento,
Que quem faz a rima, também faz melodia!

Que guarde meu amor dentro da poesia:
Dentro da poesia, 'stá meu pensamento!
Amor sem dor, não resiste à alegria,
Às sombras e luzes do seu deslumbramento!

Vai, meu poema, leva-lhe mais um terceto:
Vai e revela-lhe quem é que lhe escreve
Em letras de ouro, aqui, sobre a neve...

O meu amor por ti, fez pra ti um soneto!
Podes não gostar, mas insisto neste tema:
S' o amor morrer, ressuscita num poema!

Modesto

quinta-feira, 1 de março de 2018

MELANCOLIA AO ENTARDECER

















Vai-se apagando o sol no poente!
O céu 'stá nublado e chove agora.
E a tarde agoniza lentamente...
Até parece qu' a Natureza chora!

A chuva cai nos telhados e na vidraça
E, ao cair, cada pinga espalha,
Tornando a tarde tão triste e baça
E a noite chega fria e farfalha!

Enquanto a chuva cai, a tarde morre,
A noite avança, a solidão corre,
O céu fica sereno mas bem escuro...

Como o entardecer da minha vida!
O sol pôs-se, a noite é caída,
Pesada e fria sobre o meu futuro...

Modesto

VONTADE DE TE BEIJAR

 Estava no meu quarto A pensar na minha vida... A minha vida sem ti,  Minha querida, percebi O valor do meu amor, Do meu amor por ti. É a ti...