domingo, 29 de dezembro de 2024

ROSAS E ESPINHOS

 Numas roseiras viçosas,
Há uma santa amizade,
Uma perfeita irmandade
Entre os espinhos e as rosas.

Elas sentem-se seguras,
Eles são os seguranças,
Elas são como as crianças,
Ingénuas, dóceis e puras.

Há carícias de donzelas
E há crianças singelas,
Hã beijos das joaninhas.

Há aspirações bondosas
Que pensam mudar-se em rosas
E fazem doces festinhas...

Modesto

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

SUBIDA

 Subia alegre pelo monte acima
Vestido de verdura e de perfume,
Iam meus lábios cantando com rima
E a encosta espalhava a cor que une.

Causa sempre alegria uma ascensão
Em busca de horizontes dilatados...
Fica mais longe a negra escuridão
E os olhos mais azuis, iluminados.

Toda a semente quer sair do chão
Toda a planta procura a luz do dia,
Voa o fumo no ar, com ilusão,
Sobe às alturas toda a melodia.

Elevo para o céu o meu olhar,
Ponho no espaço azul uma canção:
Porque a lua tem alto o seu lugar,
Melhor dissipa à volta a escuridão.

Modesto



terça-feira, 10 de dezembro de 2024

MEUS VERSOS

 De dia ou noites gerados,
Com sol ou lua presentes,
Recordam os meus achados
E as virtudes das gentes.

Lembram jardins perfumados
Ou selvagens matagais;
Quem os ler mais demorados.
Neles verá meus sinais.

Os sinais duma alegria
Que brotou em profusão;
Ou a dor como sangria
Que me rasga o coração.

Quem me ler há-de encontrar, 
Nestes meus versos escritos,
Uma noite de luar
Ou uns ásperos granitos.

E talvez encontre ainda
Uma luz abençoada
Que torna a vida mais linda,
Desde a noite à madrugada.

Modesto

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

QUEM ME QUISER CONHECER

 Se alguém quiser um dia conhecer-me
E entrar um pouco nesta intimidade,
Bata na minha porta para ver-me
Que eu lhe darei entrada de verdade.

Nesta verdade humana que sou eu,
Com jardins e lixeiras juntamente:
Há um rosal e um matagal que cresceu
Nesta minha existência inconsistente.

Mas o meu interior vai todo impresso
Nestes versos que são o meu espelho:
Quem os ler e reler desde o começo,
Verá porque tão cedo fiquei velho.

Há imensa poeira nesta estrada
E algum perfume neste meu viver...
Bem perto do caminho, a encruzilhada,
Perto do sol da aurora, o entardecer.

Modesto

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

BÚSSOLA PERDIDA

 Quantas vezes, Senhor, por mim chamaste,
E tantas vezes, não Te respondi;
E quantas vezes, Tu me procuraste
E, como o filho pródigo, fugi!

Quantas vezes, amável, me esperaste
Naquela encruzilhada que escolhi;
E quantas vezes, Tu me acompanhaste
Ao longo do caminho que segui!

Desiludido, no meu caminhar,
Confiante, pensei, Te iria achar;
Porém, quando cheguei, tinhas partido!

Quem se afasta de Deus, cai lentamente
E, no seu caminhar, está ausente,
A Bússola que me havia conduzido!

Modesto

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

PAISAGEM

 Quando abres dos teus olhos as janelas
E vês no céu azul nuvens infindas,
Talvez tu penses que por meio delas,
Podes descortinar outra mais lindas.

Vês muito ao longe as velas dum moinho
Que no lento girar lembram o pão
Que irás alimentar no teu carinho
Os peregrinos da desilusão.

Vês um rebanho calmo na colina
E um lavrador que passa na campina
Feliz sonhando o seu futuro pão.

Sentirás o pulsar desse moinho,
O pão do amor, da paz e do carinho
E que se chama humano coração.

Modesto

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

SONETO DE AMIZADE

 Talvez alguém estes meus versos vai ler
E não entenda que o amor neles palpita,
Nem que a saudade trágica, infinita
Por dentro deles sempre está a viver.

Talvez, amigo, não fiques a perceber
A paixão que me enleva e me agita,
Como uma alma dolorosa e aflita
Que num sentimento pode desfalecer.

E talvez ao leres-me, com piedade,
Digas, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil, carinhosa e franca:

Ah! Bem conheço o teu afecto triste...
E na minha alma o mesmo existe,
Tens amizade que raro se alcança!

Modesto

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O SORRISO INTERIOR

 O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsia e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em redor oscila.

Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória frente à Natureza,
Este esplendor, todo este largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...
E, para ironizar as próprias dores,
Canta por entre as águas do dilúvio!

Modesto

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

EMOÇÕES PROFANAS

 Pompas, pompas, pompas soberanas
Majestade serena da escultura
A chama da suprema formosura,
A opulência das púrpuras romanas.

As formas imortais, claras e ufanas,
Da graça grega, da beleza pura,
Resplendem na angélica brancura
Desse teu corpo de emoções profanas.

Cantam as infinitas nostalgias,
Os mistérios do amor, melancolias,
Todo o perfume das eras apagadas...

E as águias da paixão, brancas, radiantes,
Voam, revoam, de asas palpitantes,
No esplendor do corpo arrebatadas!

Modesto

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

BELEZA DAS CATEDRAIS

 Pelas bizarras, góticas janelas
De um templo medieval o sol ondula:
Nunca os vitrais viram coisas mais belas
Quando, no ocaso, o sol as doura e oscula.

Belas e multicores aguarelas
Sobre um lindo céu que além se azula...
Calma, serena, divinal, entre eras,
A pomba, branca como os anjos, arrulha.

Rezam de joelhos anjos de mãos postas
Através dos vitrais, e nas encostas
Dos montes a claridade a ondear...

É a lua de Deus que, nas curvas meigas,
Foi ondular pelos vergéis e veigas,
Magnólias e lírios desfolhar!

Modesto

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

MULHER DO MEU PASSADO

Quanta mulher no meu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa,
Se delas veio o sonho que conforta...
A tua vinda foi três vezes mais santa!

Erva do chão que a mão de Deus planta,
Folhas de rojo murchas à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Serás a mulher mais linda que encanta!

Mas eu sou a manhã: Apago estrelas!
Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás-de encontrar ainda...

Modesto
 

sábado, 5 de outubro de 2024

QUANDO EU PARTIR

 Quando eu partir, que eterna e que infinita
Há-de crescer-me a dor de tu ficares!
Quanto pesar e mesmo que pesares,
Que comoção dentro desta alma aflita!

Por nossa vida toda sol, bonita,
Que sentimento, grande como os mares,
Que sombra e luto pelos teus olhares
Onde o carinho mais feliz palpita...

Nesse teu rosto de maior bondade
Quanta saudade, que atroz saudade...
Quanta tristeza por nós ambos, quanta?

Quando eu tiver já de uma vez partido,
Ó meu amor, ó meu muito querido
Amor, meu bem, meu tudo, ó minha santa!

Modesto

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

OS ANJOS CANTAM HINOS ETERNOS

 Bendito, misericordioso Uno e Trino,
Imenso, inconcebível e infinito.
Em Vós a mente não compreende o divino
E, pois, canta sem cessar eterno «Bendito».

Santo, Misericordioso, Criador,
Inconcebível poder, mas cheio de amor tanto,
Adorar-Vos é do nosso ser o penhor,
Catando o nosso hino eterno: «Santo, Santo, Santo...»

Bendito o misericordioso eterno amor,
Muito além da safira, do celeste manto,
Assim a corte dos espíritos em louvor
Entoam seu hino eterno: «Três vezes Santo...»

Modesto


sábado, 14 de setembro de 2024

A ÚNICA ATITUDE IMORTAL

  Abre os olhos à Vida e fica mudo!
Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado de tudo,
De uma luz imortal, transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,
A alma risonha, lúcida, vidente...
E abandonar o sujo cornudo,
O sátiro da carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,
O infinito rugido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços
Para o eterno Silêncio dos Espaços
E no Silêncio emudecer olhando.

Modesto


terça-feira, 10 de setembro de 2024

FAÇAMOS UMA NOVA CRUZADA

 Vamos saber das almas os segredos,
Os círculos patéticos da vida,
Dar-lhes a luz do Amor compadecida
E defendê-las dos secretos medos.

Vamos fazer dos áridos rochedos
Manar a água lustral e apetecida,
Pelos ansiosos corações bebida
No silêncio e na sombra d´´arvoredos.

Essas irmãs furtivas das estrelas,
Se não formos depressa defendê-las,
Morrerão sem encanto e sem carinho.

Paladinos da límpida Cruzada!
Conquistemos sem lança nem espada,
As almas que encontrarmos no Caminho.

Modesto

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

FLOR DO MAR

 És da origem do mar, vens do secreto,
Do estranho mar espumoso, frio
Que pões rede de sonhos ao navio
E o deixas baloiçar, inquieto.

Possuis do mar o deslumbrante afecto,
Dormências nervosas, o sombrio,
Turvo aspecto aterrador, bravio
Das ondas e revoltoso aspecto.

Num fundo de púrpuras e de rosas,
Surges das águas mucilaginosas
Como a lua entre a névoa dos espaços...

Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
Auroras, virgens músicas marinhas,
Acres aromas de algas e sargaços...

Modesto

terça-feira, 27 de agosto de 2024

LUA AZUL

 Vês este céu tão límpido e estrelado
E este luar que em fúlgida cascata,
Cai e rola numa golfada de prata?
Vês este céu de mármore azulado?

Vês este campo intérmino, encharcado
Da luz que a lua nas colinas desata?
Vês este véu que branco se dilata
Pelo verdor do campo iluminado...

Vês estes rios tão fosforescentes
Cheios duns tons, duns prismas reluzentes,
Vês estes rios cheios de ardentias?

Vês esta mole e transparente gaze...
Pois é, como eles me parecem quase
Iguais, assim, às nossas alegrias!

Modesto

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

ALMA IMORTAL

 Espírito imortal que me fecundas
Com a chama dos viris entusiasmos,
Que transformas em lutas os sarcasmos
Para punir as multidões profundas!

Ó alma que transbordas, que me inundas
De brilhos, de ecos, de emoções e pasmos,
Fazes-me acordar de outros marasmos
Minh´alma, em tédios por charnecas fundas.

Força genial, sacrossanta, augusta,
Divino alerta para o esquecimento,
Voz companheira, carinhosa e justa.

Tens-me aqui em doce movimento,
Sobre essa mão Angélica e robusta,
Espírito Imortal do sentimento!

Modesto


domingo, 18 de agosto de 2024

A TUA BONDADE

 É a bondade que te faz formosa,
A Alma te diviniza, transfigura;
É a bondade, rosa de ternura
Que te perfuma com perfume de rosa.

Teu ser angelical de luz bondosa
Verte no meu ser a subtil doçura,
Uma celeste, límpida frescura,
Um encanto, uma paz maravilhosa.

Eu afronto contigo os vampirismos,
Os corruptos e mórbidos abismos
Que em vão busquem tentar-me no caminho.

Na suave, na doce claridade,
No consolo d´amor desta bondade
Bebo tua alma como etéreo vinho.

Modesto

segunda-feira, 22 de julho de 2024

FORAM-SE AS ILUSÕES

 Os meus amores vão-se por mar fora,
E vão-se por mar fora os meus amores,
Com sede, a murchar, como estas flores
Sem mais orvalho e a doce luz da aurora.

E os meus amores não virão agora,
Não baterão as asas multicores,
Como as aves mansas dentre os esplendores
Do meu olhar, do meu prazer de outrora.

Tudo emigrou, rasgando a esfera branca
Das ilusões, tudo em revoada franca
Partiu, deixando um bem-estar saudoso.

No fundo, ideal de toda a minha vida
Qual numa taça a gota indefinida
De um bom licor antigo e saboroso!

Modesto


terça-feira, 16 de julho de 2024

NÃO ME APARTES DE TI

 Se me aparto de Ti, Deus da bondade,
Que ausência tão cruel! Como é possível
Que me leve a um abismo tão terrível
O pendor infeliz da humanidade?!

Conforta-me, Senhor, que esta saudade
Me despedaça o coração sensível!
Se a Teus Olhos, na Cruz, sou desprezível,
Não olhes para a minha iniquidade!

À suave esperança me entregaste,
E o preço do Teu Sangue Precioso
Me afiança que não me abandonaste.

Se justo castigar-me Te é forçoso,
Lembra-Te que Te amei e me criaste
Para habitar contigo o Céu lustroso!

Modesto

domingo, 14 de julho de 2024

AMOR NUM SONETO

 Fique o amor onde está! Seu movimento
Nas equações marítimas se inspire
Para que, feito o mar, não se retire
De verdes áreas do vão lamento.

Seja o amor como vaga ao vago intento
De ser colhida em mãos; nela se mire
E, fiel ao seu fulcro, não admire
As enganosas rotações do vento.

Como o centro de tudo, não se afaste
Da razão de si mesmo, e se contente
Em luzir para o lume que o insolara.

Seja o amor como o tempo: Não se gaste!
E, se gasto, renasça, noite clara
Que acolhe a treva, e é clara novamente!

Modesto

terça-feira, 9 de julho de 2024

AMOR QUE DEIXA SAUDADE

 Delicado, suave como o vento,
Devastador como um furacão,
Resumindo-se num belo momento,
Povoado de grande emoção.

Pode durar infinito segundo,
Ou ser breve por um ano inteiro.
Pode parecer o melhor do mundo
E entre todos ser o verdadeiro.

Pode vir carregadinho de dúvidas
E ser dúvida enquanto durar.
Mas que dure pela eternidade...

Mesmo que fale por toda a vida,
- A vida que se dá para amar -
É grande amor que deixa saudade!

Modesto

sexta-feira, 28 de junho de 2024

GLÓRIA

 Florescimentos e encantamentos!
Glória às estrelas, glória às aves, glória
À Natureza! Em minh´alma flórea
Com mais flores flori de sentimentos.

Glória a Deus invisível dos nevoentos
Espaços! Glória à lua merencória,
Glória à esfera dos sonhos, à ilusória
Esfera dos profundos pensamentos.

Glória aos Céus, glória à terra, glória ao mundo!
Todo o meu ser é roseiral fecundo
De grandes rosas de Divino brilho.

Almas que floresceis no Amor eterno!
Vinde gozar comigo este fraterno,
Esta emoção de ver nascer um filho!

Modesto


segunda-feira, 17 de junho de 2024

PARA FILHOS E NETAS

 Versos feitos por mim na mocidade
O mérito só tem um sentimento:
Eram, pra assim dizer, um instrumento
Mais que o prazer ecoando-me a saudade.

Propondo a fantasia à bondade
Melhor encontrei neste ornamento,
No estudo apurando o sentimento,
Quanto tenho a saber diz-me a idade.

É isso que vos quero ensinar,
Amando-vos qual Pai e terno Avô,
A quem prás suas câs engrinaldar

Melhor só podia pra onde vou
Em carícias tão vossas procurar,
Sentindo que de vós índa mais sou.

Modesto

segunda-feira, 10 de junho de 2024

O VERBO DO POETA

 Nasceu, conjugou o verbo amar d´amor
Em tudo o que é o perfeito infinito
Com sua voz, na sua alma, num só grito,
Criou-se uma estrela no seu esplendor...

Vieram nuvens escuras e... Chorou!
Ficou tão triste, desdenhado e restrito,
O poeta do amor com verbo bonito
Que ao cantar, vagueou, sorriu e amou...

Mas antes que lhe viesse mais chorar,
Quais as luas que divisava no profundo,
Se na sua alma não tivesse o sofrer?

Que seria o seu cantar neste mundo?
De onde lhe viria o verbo amar
Se o amor é cantar, chorar e viver?

Modesto


segunda-feira, 3 de junho de 2024

ACORDES DE HARMONIA

 Encara o dia 
Com um sorriso no rosto.
Namora a alegria
E logo ficas bem disposto.
Sorri em acordes de harmonia!
Não te quero ver triste!
Vamos à luta!
Hoje é mais um dia de disputa.
Corre em busca do que procuras,
Esquece as amarguras.
A conquista dá à vida outro sabor:
Aprende-se a dar-lhe mais valor.
Este dia é uma dádiva da vida,
Mais uma página a ser construída.
Faz por o merecer, 
Não te deixes esmorecer!
Com os teus erros, aprende a viver.
Esta é uma lição que te ensinará a crescer
E, nos teus anos, aprende a crer.

Modesto

domingo, 26 de maio de 2024

A ALMA INOCENTE E INFANTIL É AGRADÁVEL A DEUS

 Sede bendito, nosso Criador e Senhor;
Tudo bendiz ao Senhor com humildade,
Agradece de toda a alma ao Criador,
Louvando a misericórdia da Divindade.

Caminha, terra inteira com seu verde chão,
Vai também mar insondável e profundo,
Que a tua gratidão se torne amável canção,
Cante a misericórdia que é sem fundo.

Prossegue, esplendoroso sol e mui brilhante,
Ide ter com Ele auroras resplandecentes,
Nas vossas puras vozes só um Hino se cante,
Entoem a grande misericórdia em crescentes.

Ide montes e vales, bosques e matagais,
Ide, lindas flores em hora matutina,
Que o diverso perfume que desfrutais
Glorie e adore a misericórdia Divina.

Vai, ó beleza indelével de toda a terra,
Adora o Teu Deus com grande humildade,
Que tudo em Sua misericórdia se encerra,
Tudo clama quão grande é a Divina bondade!

Mas, acima de todas essas belezas,
Há para Deus um mais agradável louvor:
A alma pura, em confiança e certezas,
Que pela graça, com Ele se une em amor.

Modesto

sábado, 18 de maio de 2024

LÁGRIMAS

 Em silêncio, Senhor,  ao pé de Ti,
A crueza senti dos meus pecados
Que nesta minha vida cometi,
Deixando os meus olhos orvalhados.

Tanta lama encontrei na caminhada, 
Tantas rosas, com malvadez, pisei...
Do meu caminho fiz encruzilhada,
E a meta desejada não achei.

Porém, agora, já aqui cheguei,
Depois deste caminho percorrido!
Vê, nestas lágrimas que derramei,
Este meu coração arrependido.

As dores orvalhadas, escondidas,
São restos das paixões da juventude...
Que destas minhas lágrimas sentidas,
Brotem flores de amor e de virtude!

Modesto


sábado, 11 de maio de 2024

AMOR COM SABOR TERNO

 Amor ligeiro, amor suave, intenso,
Já tudo na vida eu experimentei.
Dei voltas ao mundo até que acertei.
Em teu doce rosto fiquei suspenso.

Agora, após tantos anos repenso:
Não volto atrás, pois digo que acertei.
Em ti as alegrias encontrei.
Certo! Decisão de maior bom senso!

Amamos, lutamos e também vencemos!
Foi um caminhar juntos com amor
A vivê-lo como se fosse eterno!

Por isso, nós à vida agradecemos.
Não é demais exprimir um louvor!
Minh' alma fica com sabor mais terno.

Modesto



segunda-feira, 6 de maio de 2024

MAIO

 Quantas palavras haverá em Maio
Para te poderem surpreender?
Rosas, amores, beijos de bem-querer?
Todo o meu desejo por ti espraio.

Em mim não fica nada de soslaio!
É tudo transparente, podes crer!
Meu amor é eterno, pra valer!
Nada daquilo que ouviste, extraio!

Maio, amor em ti rejuvenesce!
Agora Maio, a casa está florida!
Bendito Maio ao som de Avé-Marias!

Depressa Maio, que o amor anoitece!
Eterno Maio, não há manhã perdida!
Sê Maio, na ternura dos meus dias!

Modesto

terça-feira, 30 de abril de 2024

LIRISMO CREPUSCULAR

 Nos ramos a pardalada já chilreia
Pelos bosques já quase adormecidos,
Ao fundo canta o moinho da aldeia
Com sussurro plangente e seus gemidos.

Ando eu sozinho por estas devesas
A pensar na dimensão a que aspirei:
O meu estro que só canta as tristezas
Lirismo que no crepúsculo cantei.

Poesia de tonalidade triste,
Ao ritmo monótono da mó do moinho.
Ando a remoer o meu sofrer triste 
Na bruma envolvente que busca carinho.

Modesto

quinta-feira, 18 de abril de 2024

AO RITMO MONÓTOMO DA MÓ

 Pôs-se o sol. Já a Ísis, vestida
De luz plena, estes montes prateia.
E a ribeira que de água vai cheia,
A embalar-me, abstrai-me da vida.

Pelo espaço já a grei não chilreia.
Em seus ninhos está adormecida.
Só ao fundo, balada sumida,
Vai cantando o moinho da aldeia.

Como ele canta as agruras que sente,
A chorar, em sussurro plangente,
Como endecha dum canto a sofrer...

Ando só, por entre estas devesas,
Como estro que canta tristezas
Num lirismo que me acalma o sofrer.

Modesto


segunda-feira, 15 de abril de 2024

À PROCURA

 Nos bucólicos silêncios da montanha,
Nas graciosas colinas me quedo a escutar:
A onda de recordações é tamanha!
São os ecos da solidão a falar.

Indecisos momentos sem rumo certo
Pelos caminhos da minha juventude,
Sinto indizível prazer em fazer versos,
Deambulando do monte ao rio: Quietude!

Os outeiros verdes vestem-se de festa
Tudo canta e exulta de alegria
E entra, lendo sonetos de véspera,
Inspirado na alma a musa que sorria.

O pôr do sol colorido se vestia
De luz plena, estes lugares prateia.
E a ribeira que d´água vai cheia
A embalar-me e me distraía a vida.

Modesto


segunda-feira, 1 de abril de 2024

DOCE EMOÇÃO

 Bate, bate, coração...
Bate devagarinho...
É amor ou paixão,
Isto aqui no cantinho?

Bate, bate, coração...
Bate de mansinho...
É muita a tentação
De te dar um beijinho!

Bate, bate, coração,
Já bates de pequenino...
É bonita a razão
E doce o carinho!

Modesto

segunda-feira, 18 de março de 2024

VONTADE DE TE BEIJAR

 Estava no meu quarto
A pensar na minha vida...
A minha vida sem ti, 
Minha querida, percebi
O valor do meu amor,
Do meu amor por ti.

É a ti que eu quero,
É a ti que eu amo,
É por ti que espero,
É por ti que eu chamo.

Onde estive este tempo?
Há muito que te queria beijar
E desejo te abraçar
Ao meu peito e te amar.

Modesto

quinta-feira, 14 de março de 2024

O RIO VOUGA

 Sabes, mãe: - Porque do rio a corrente,
No seu leito azul, nem sempre é igual?
Que causa existe às vezes, pela qual
Se torna caudaloso e triste à gente?

- Que ingénua pergunta... Angelical!...
Não sabes, filho, que na Beira ardente,
Lá, onde o rio nasce, mesmo em frente,
Habita a doce Mãe de Portugal?

A Virgem, pelo Estio, menos chora
O desprezo dos homens, por quem ora,
Por ver os seus romeiros criancinhas!

O Inverno é-lhe mais triste, é muito frio...
E não sabes que as águas deste rio
São o pranto da Virgem da Lapinha?!...

Modesto

segunda-feira, 4 de março de 2024

SÊ FELIZ SUBINDO

 Ser de beleza, de melancolia,
Espírito de graça e de quebranto,
Deus te bendiga o doloroso pranto,
Enxugue as tuas lágrimas um dia.

Se tua alma é de estrelas e de harmonia,
Se o que vem dela tem divino encanto,
Deus a proteja no sagrado manto,
No céu que é o vale azul da nostalgia.

Deus te proteja na felicidade
Do sonho, do mistério, da saudade,
De cânticos, de aroma e luz ardente.

E sê feliz! Sê feliz subindo!
Subindo na perfeição, a alma sentindo
Florir e alvorecer libertamente!

Modesto

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

ONTEM E HOJE

 Aqui, nas Terras de Entre -Douro -e -Minho 
A Cruz de Cristo precedeu a espada,
Lançou raízes nossa Pátria amada
E ganhou forças para abrir caminho.

Da Santa Igreja o maternal carinho
Tornou-a forte, intemerata, ousada:
Da Pátria, independência foi sagrada,
Às mãos episcopais de São Martinho!

Bem livre e firme, após tantos perigos,
A Pátria volta a ter por inimigos
Bárbaros novos de alma mais pagã?

Vossa presença ali na Catedral
Firme a Pátria no rumo essencial:
Tanto mais Livre quanto mais Cristã!

Modesto

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

EU SEI O NOME...

 - Não sei quem mora no meu peito inquieto,
Forjando, noite e dia, o meu tormento.
É fogo que requeima, violento,
Lembrando carne ao lume num espeto!

No coração me crava, duro aleto,
Tenazes que mo cortam, verruguento;
E quanto mais eu grito e me impaciento,
Mais este abutre esgrime, irrequieto.

- Eu sei, amigo, eu sei a causa toda
Do mal que há tanto tempo te incomoda
E fez de ti nauseabundo absorto...

Se mo permites, dir-te-ei o nome
Do mal que assim te rói e te consome:
Verme ou abutre, chama-se... REMORSO!

Modesto

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

CONTIGO, SENHOR

 Contigo, meu Senhor, a minha vida
Tem um pouco de luz celestial,
Contigo, os meus espinhos da partida
São rosas perfumadas no final.

Contigo, os dias têm claridade
E as noites são vestidas de luar,
Contigo, o Inverno tem suavidade
E a Primavera tem outro brilhar.

Contigo, os matagais são transformados
Em jardins inundados de perfume,
Contigo, os meus desertos são já prados
E este meu gelo é transformado em lume.

Contigo, é mais feliz a humanidade
E a Terra vem a ser nossa mansão,
Contigo, existe mais fraternidade
E aquele que me ofende é meu irmão.

Modesto

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

HARPA E LIRA INSEPARÁVEIS

 Partida em noite de Janeiro frio
Gelou-me o coração, gelou-me todo.
"Novos Lírios de Maio" - último apodo
Da nossa lira, mortos num baixio...

A vida continua: e aquém-rio,
É para mim, nos laços dum engodo;
Além-rio, pra ti, libando o bodo
Que sendo eterno, não terá fastio!

A minha lira, tristemente pobre,
E a tua harpa harmoniosa e nobre
Hão-de este hiato converter em crase.

Cantar a Flor de Maio, a Flor de Lis,
Vai ser nosso labor - tu já sorris?! -
Da nossa Vida Eterna a eterna fase!...

Modesto


quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

TANTO SE ME DÁ...

 Acordei mal disposto esta manhã
E apenas vos direi qual o motivo,
Pra que não me oferteis o lenitivo
À dor que no meu peito alerta está.

Em minh´alma ora canta o sabiá,
Ora crocita o corvo vingativo
E qualquer deles, em definitivo,
Um dia certamente vencerá.

Se o primeiro me adoça e existência,
O segundo me ensina a intransigência
Com que é preciso enfrentar as feras.

Não escolho nenhum. Vença o mais forte
Qualquer deles me serve de consorte
Num mundo todo feito de quimeras.

Modesto

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

MINHA MÃE

 Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma!
Provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço da tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza me desperta
Um grato enlevo, que jamais senti:

Quer dizer - Mãe - este M tão perfeito.
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.

Modesto

HORA DAS TRINDADES

 A noite está a cair sobre as flores. O céu cheio de Deus e harmonia! Silêncio! Eu rezo ao fim do dia. Voz do crepúsculo exala cores. Névoas...