quinta-feira, 30 de maio de 2019
OLHAI PARA O POVO
Cegos governantes, surdos ouvidos,
Bocas inúteis, com clamor, faladas
De mentiras - ecos que dão gemidos!
Sois almas sem governo, apagadas.
Consciências fúteis sem sentidos,
Vagas, nefandas e desmanteladas,
Sem óculos pra não vos ver vencidos,
Portas de ferro, com furor, trancadas.
Deixai-vos de governar nestas furnas
Sinistras, cabalísticas, noturnas,
Onde há escândalo caudaloso.
Fazei da dor - pobre viver humano -
A flor do sentimento soberano,
A flor 'standartizada doutro gozo!
Modesto
quarta-feira, 29 de maio de 2019
JUNTO À FONTE FRESCA
Lá, ao lado da casa, a fonte corre
Com frescura, mais água acrescentando.
Um pobre peixinho prateado morre,
Murmúrios repetidos levantando.
Do monte, a luz do sol, pró tanque corre...
Ainda vejo as sombras afrontando!
Qu' o sol mais rubro e mais vermelho jorre
Prá mulher que lava, seu fado cantando.
É um lugar afastado, sítio ermo...
Pássaros cantam suas canções sem termo,
Borboletas azuis voam sobr' as águas...
A mulher lava, enrubescendo a face.
Lava a cantar, como s' em si lavasse
As suas tristezas e profundas mágoas!
Modesto
segunda-feira, 27 de maio de 2019
AS POMBAS E OS JOVENS
Raia colorida e fresca a madrugada!
Vai-s' uma pomba, e outra, enfim, dezenas...
Sai sempre a primeira pomba despertada.
As pombas vão-se, ficam os pombais, apenas.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, elas voltam aos seus pombais, serenas.
Voltam todas em bando ou em revoada,
Limpando as asas, sacudindo as penas.
Também os corações dos jovens s' abotoam
Aos seus sonhos, um por um e céleres voam,
Como voaram as pombas dos seus pombais.
No azul d' adolescência, asas soltam,
Fogem! Mas s' aos seus pombais as pombinhas voltam,
Os jovens seus corações não dominam mais!
Modesto
sábado, 25 de maio de 2019
SAUDADES DA VÃ MOCIDADE
Gosto de luz e amo a claridade,
Alegra-me o sol quente na subida.
Por causa dum corpo cheio de maldade,
Parece que minh' alma é perseguida!
Ó minha vã e inútil mocidade,
Trazes a minha alma entontecida!
Ainda tenho cá dentro a saudade
Dos beijos que eu dava naquela vida...
Gosto de viver ao sol, não tenho medo
D´ainda amar tanto... de ser assim!
Todos lêem nos meus olhos o segredo
Qu' eu sinto sempre voltar a mim!
Gostava da noite longa, viva, preta,
De vir pra casa à luz da madrugada!
Era como uma doida borboleta
Que anda de flor em flor atarefada!
Modesto
quarta-feira, 22 de maio de 2019
SANDE, TERRA DE BELEZA
Olhai e vede minha terra encantada,
Lindas paisagens, como não há igual!
Terra de gente boa, nobre, sempr' amada
E, confirmai - não há melhor em Portugal!
De Montedeiras, descendo até ao Douro
Há prados verdejantes, cheios de magia!
Quando bem trabalhados, são como o ouro,
Férteis, ricos... e respira-se alegria!
Corre, pela encosta, um lindo ribeiro
Cuja água vai fertilizar o outeiro,
Com uma cascata, na Boca do Inferno.
É terra bendita da minha meninice!
É paisagem única, como já o disse:
É sempre bela, quer no Verão ou Inverno!
Modesto
terça-feira, 21 de maio de 2019
AMOR DE MAIO
Maio de amor-perfeito
Será como uma flor.
Se o viveres com jeito,
Será um mês de amor.
Em Maio, há amor puro
Que de bem cedo floresce.
Se tens coração maduro,
Este amor permanece.
D' espírito satisfeito,
Como pétalas de flor,
Conseguirás dar o jeito
De viver um grand' amor.
Semeias a felicidade:
Em Maio há a semente...
Depois colhes amizade
Que dura pra tod' o sempre.
Modesto
segunda-feira, 20 de maio de 2019
QUERIA SER POETA
Eu queria ser poeta.
Mas... Sem saber poesia...
Dizes-me: <D' alma aberta,
Escreve, sente o dia.
Alegria, dor... beleza...
Sentidas no coração,
Ou escritas com tristeza...
Feitas pela tua mão.>
Diz o povo, nos ditados:
"Poeta é ser alguém",
Famosos ou ignorados,
Depende do que se tem.
A poesia dá pouco
à vida, ao nosso ser.
Só se for poeta louco
Tem algo pra of'recer!
Modesto
sábado, 18 de maio de 2019
O TEMPO PASSA DEPRESSA
Foram-se os tempos, ficou a lembrança
Dos ontens e amanhãs de outrora.
Há nuvens no meu olhar de criança
e sol na manhã que romp' a aurora.
O mundo chamava-se esperança,
Por dentro via o lado de fora
E o céu, onde o olhar descansa...
- Tear da vida a tecer a hora!
Par'cia que demorava o tempo
No vão da janela do pensamento...
Mas rápido passou a existência!
Procuro o que deixei guardado:
Beleza da vida do meu passado
Ficou na retina da consciência!
Modesto
quarta-feira, 15 de maio de 2019
NA HUMILDADE, O AMOR SALVOU-NOS
Ninguém sentiu o Teu espasmo obscuro,
Ó Ser Humilde entre os humildes seres!
O mundo, para Ti, foi negro e duro,
Mesmo conhecendo todos os saberes.
Atravessaste, num silêncio escuro,
A vida presa a trágicos deveres:
Tornaste-Te o mais simples, o mais puro,
Aprendeste o saber d' Altos Saberes!
Não tinhas Teu sentimento inquieto!
Sofreste, oculto, o terror secreto:
Teu coração apunhalado plo mundo!
Sempre procurei seguir-Te nos Teus passos
E sei que, na Cruz, abriste-me Teus braços...
Teu suspiro de Amor foi tão profundo!...
Modesto
terça-feira, 14 de maio de 2019
MENINA DO CAMPO
Com cabelos desmanchados,
Tens teus olhos luminosos
E raros frutos dos prados
Que são muito saborosos.
São bem negros e quebrados,
Bem bastos, grandes, formosos
Que, como campos lavrados,
Têm fluidos vaporosos.
Porque soltas os cabelos?
Será pelos pesadelos
Dos perfumes das ervagens?
Tens olhos de violetas!
Lembram-me as uvas pretas,
Entranhadas nas folhagens!
Modesto
sábado, 11 de maio de 2019
MADRUGADA SOFRIDA COM POESIA
É madrugada e estou só ao luar,
Enquanto sinto meu ser assim tão sofrido
Que se reflecte nas estrelas a brilhar...
E eu estou, por aqui, de mim esquecido!
No espaço vazio, tento encontrar
Algo que aqueça meu coração dorido...
E a brisa nocturna faz-me relembrar
O tanto amor que se perdeu sem sentido!
Era aquel' amor que vinha sorrateiro,
O que s' esgueirava do meu olhar brejeiro
E acendia em mim tod' o seu querer...
A noite está calma e tem poesia:
Eu vou fazendo versos cheios de magia,
Pra qu' esta solidão não me faça sofrer.
Modesto
quinta-feira, 9 de maio de 2019
O MEU MAIO
Raia a aurora tão tímida e frágil
E atravessa seu espaço transparente,
Carregada de alegria e presságio,
É irmã de Junho e Julho, friamente.
Dir-se-ia que se pode ver o seu rosto
Virado prós astros bem próximos do céu.
Mas ela prepara o calor de Agosto:
O gratificante Maio é o mês meu!
Ele, maviosamente se insinua
Nesta linda lua - a casta branca lua
Que se destila no seu luminoso mel!
Lavando o ar d' Abril, alegra a rua,
Abre a bela rosa que se insinua
E deixa o mês de Abril - o mês cruel!
Modesto
quarta-feira, 8 de maio de 2019
SENHORA DE FÁTIMA
Manto branco, com mãos postas em oração,
Mostraste-Te n' azinheira a três pastores.
Fizeste milagres e fez-se devoção,
És amada, intercessora de favores.
E agora, Mãe, Padroeira da Nação,
Como fazes pra lidar com os detractores
Que Te agridem e gozam em diversão,
Descrentes, violentos, vis, profanadores?
Dia treze, dia em que há mais fervor,
Há mais fé e Te lembram como mensageira,
Com devoção o crente, desprezo o tal...
Eu acredito, agradeço Teu amor,
Como o disseste sobre a azinheira.
Senhora de Fátima, salva Portugal!
Modesto
terça-feira, 7 de maio de 2019
CANTA, MINHA ALMA!
Porque assim me perturbas e estás triste,
Minha alma? Pois em Deus não tens confiança?
Olha qu' Ele vê-te do céu e te assiste!
_ Prende-t' à âncora firme da esperança...
O Amor a tudo, impávido, resiste!
O Amor jamais diz "basta", jamais se cansa:
O Paladino da lança, sempre em riste,
Mais forte do que a morte, tudo alcança!
Ama e canta ao teu Deus tua saudade,
Pois, em breve, cantarás na Eternidade,
Ficando possuída do teu Criador!
Em breve, verás a Deus, no Eterno dia
Que nunca termina e nunca principia,
Na Eterna Luz - Sol do Eterno Amor!
Modesto
quarta-feira, 1 de maio de 2019
SEMPRE QUE ACORDO VOU AO JARDIM
Extravaso na música e poesia
As saudades que tenho da relva molhada
E da flor de várias cores que sorria
Ao abrir, no jardim, quando acordava.
Os pássaros de penas leves, nestes dias,
Saltam nos floridos ramos da cerejeira.
Nos canteiros pintados de cores garridas,
Correm formiguinhas com grande canseira.
Há um melro que canta canção deslumbrante,
Ao fazer o ninho na árvore distante,
E canta pra mim, por me ver mal acordado.
E brincam aves na roseira amarela,
Vendo meu amor, debruçada na janela...
Ofereço-lh' um cravo todo orvalhado!
Modesto
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