quinta-feira, 23 de agosto de 2018

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA

























Jesus, Meu Senhor,
Ajuda-me, por favor,
A ser verdadeiro,
Como Teu obreiro.
Não por mim, Senhor,
Mas por Vosso amor
E para Vossa glória:

Eu só tenho oito anos!
A morte já tem planos:
Com seus cavalos negros,
Carro de tição aceso,
Com seus olhos de morcegos
E olhar feio e vesgo
E ela quer-me levar,
No seu carro me deitar.

Eu estou com pneumonia:
A testa molhada, fria,
Com linhaça no peito
E meu corpo a seu jeito...
Este corpo pequenino
E leve...
A morte, evidentemente,
Sabe que estou doente,
Serei presa fácil em breve!

_  Ó Meu pequeno menino,
Eu sei que tu és franzino
E estou sempre contigo.
Procura ser Meu amigo,
Pla vida que vais ter longa,
Sem medo e mais delonga,
Prometo estar contigo
Na vitória e no perigo.
Vou-te dar pequenas cruzes,
Vencerás, como as urzes,
Em terreno seco, agreste,
E, mesmo sem forças, veste
A bela túnica branca
Que o teu Anjo te lança.
Conserva-a sempre pura,
Que só na vida madura,
A morte vem à procura...
Agora,
Sabes? Eu não vou embora
E o teu Anjo da Guarda
Tem tua força guardada
E já, já, ta irá dar:
Dá-lh' a mão pra levantar.
Agora vai tomar banho,
Depois, leva teu rebanho,
Pra no verde vale pastar
E tu vai-o guardar
Que Eu também vou contigo,
Como um teu bom amigo...

Era um vale relvado,
Seguido dum mont' elevado,
Com erva grande, acamada.
As ovelhas esfomeadas,
Depressa ficaram fartas!...

Num momento, desmaiei,
Pla encosta rebolei.
Ali fiquei desmaiado!
Mas senti-me afagado,
Por uma mão de conforto
Que me limpava o rosto,
Com um paninho vermelho.
E eu vi, como num 'spelho,
Jesus e mais os seus Anjos,
Não os da Guarda - Arcanjos!
E senti, junto a mim,
Anjos a tratar de mim...
Todas as minhas ovelhas,
Bem 'sticadas as orelhas,
Todas à volta de mim,
Pasmadas a olhar pra mim.

_ O gado já não tem fome!
Leva-o pró seu redil.
Vou dar-te força conforme
E tu estás do varil!...

Mas, ao metê-lo na corte,
A mãe aparece forte,
Quis saber como passava,
Pois estava admirada...
Disse-lhe: Jesus mandou
Que da cama levantasse,
Era bom que passeasse
E as ovelhas soltou.
Levamos o meu rebanho
E pegou-me como anho...
Eu no monte desmaiei,
Pla encosta rebolei...
Mas Jesus que é tão bom
Disse qu' eu estava bom!

A mãe disse: entendi!
Faço comida pra ti...
Vi a minha mãe chorar,
Rezar, graças a Deus dar...
Comi... paisagem fui ver
A brincar e a correr...

Modesto

(Poema escrito em 02 / 10 / 1951 -  revisto e melhorado)

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