quarta-feira, 27 de novembro de 2024

BÚSSOLA PERDIDA

 Quantas vezes, Senhor, por mim chamaste,
E tantas vezes, não Te respondi;
E quantas vezes, Tu me procuraste
E, como o filho pródigo, fugi!

Quantas vezes, amável, me esperaste
Naquela encruzilhada que escolhi;
E quantas vezes, Tu me acompanhaste
Ao longo do caminho que segui!

Desiludido, no meu caminhar,
Confiante, pensei, Te iria achar;
Porém, quando cheguei, tinhas partido!

Quem se afasta de Deus, cai lentamente
E, no seu caminhar, está ausente,
A Bússola que me havia conduzido!

Modesto

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

PAISAGEM

 Quando abres dos teus olhos as janelas
E vês no céu azul nuvens infindas,
Talvez tu penses que por meio delas,
Podes descortinar outra mais lindas.

Vês muito ao longe as velas dum moinho
Que no lento girar lembram o pão
Que irás alimentar no teu carinho
Os peregrinos da desilusão.

Vês um rebanho calmo na colina
E um lavrador que passa na campina
Feliz sonhando o seu futuro pão.

Sentirás o pulsar desse moinho,
O pão do amor, da paz e do carinho
E que se chama humano coração.

Modesto

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

SONETO DE AMIZADE

 Talvez alguém estes meus versos vai ler
E não entenda que o amor neles palpita,
Nem que a saudade trágica, infinita
Por dentro deles sempre está a viver.

Talvez, amigo, não fiques a perceber
A paixão que me enleva e me agita,
Como uma alma dolorosa e aflita
Que num sentimento pode desfalecer.

E talvez ao leres-me, com piedade,
Digas, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil, carinhosa e franca:

Ah! Bem conheço o teu afecto triste...
E na minha alma o mesmo existe,
Tens amizade que raro se alcança!

Modesto

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O SORRISO INTERIOR

 O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsia e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em redor oscila.

Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória frente à Natureza,
Este esplendor, todo este largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...
E, para ironizar as próprias dores,
Canta por entre as águas do dilúvio!

Modesto

HORA DAS TRINDADES

 A noite está a cair sobre as flores. O céu cheio de Deus e harmonia! Silêncio! Eu rezo ao fim do dia. Voz do crepúsculo exala cores. Névoas...