HOJE TRANSCENDI-ME

Hoje voei bem alto com o meu sonho,
Deixei a matéria pra Te alcançar.
E, escondida sob um olhar tristonho,
A saudad' em mim se veio alojar.

Pela mão dum Anjo, cheguei até Ti,
Matei a saudade num abraço Teu!
Não há palavras para o que senti:
O Teu coração pulsou junto ao meu...

Voltei pró corpo, que é minha prisão
Onde cumpro pena e peço perdão,
Preparo a alma pra me transcender.

Da morte não tenho medo ou pavor:
No Teu Reino, Meu Deus, só exist' amor!
Tua mão Paterna m' irá receber.

Modesto

ACREDITA

Vê como a dor te transcendentaliza!
Mas, bem no fundo da dor, crê nobremente.
A vida é bela, tudo diviniza,
Se transformares teu ser em força crente.

Que seja a crença na Celeste Brisa
Qu' apag' as velas dos barcos d' oriente,
Mas que, nos astros do céu, se cristaliza
No teu sonho Supremo, Omnipotente.

Tu' alma e coração ficam mais graves,
Iluminados por carinhos suaves
 Na doçura vital, sorrindo e crendo.

Crê! Tod' a alma humana necessita
Duma Esfera de Cânticos, Bendita,
Para acreditar, sem andar gemendo.

Modesto

AVENTURA DE UM POETA

A maior aventura dum poeta
É ficar dentro de si viajando,
Numa emoção forte e completa
A sentir seu coração pulsando.

Poeta, poesia irmanados
A sentir palavras sempre novas.
É assim a aventura dos fados:
Alma incerta, choradinhas trovas.

É aventura sem hora marcada
- Poeta, poesia geminados.
Os sonhos nascidos na madrugada,
Passo a passo, sempre sustentados.

O qu' escreve é exposto ao vento:
Põe poemas nas asas dum moinho
E elas rodam com o seu talento...
O mundo recebe-os com carinho.

Modesto

RIMEI

Esperança com virtude,
Saudade com cegueira.
Dia com negritude
E a água com poeira!

Silêncio com amor,
Alegria com paixão
E o medo com pavor
D' olhar com o coração!

Ser poeta é de grito
Plos leitores anulado:
Um tormento infinito
Por mil olhos rejeitado!

Deixo aqui minhas mágoas
Abafadas no luar:
Saudades das minhas águas
Do Douro - o meu lugar!

Modesto

NÃO É UTOPIA

Viver sempre com amor mas amando
Como se desejass' o impossível.
Desejar o impossível 'sperando
E acreditar no que é incrível...

Amar o Ser Amado só por sê-Lo.
Amar sem ver, sem sentir, mas sem mágoas,
Acreditar sem " dor de cotovelo",
Sem nunca se tornar "passadas águas"...

Tudo isto, pra mim, é uma prenda!
A esperança não me põe a venda,
Acredito alcançar o qu' 'spero.

Sonho que viverei sempre em graça.
Deus ajuda-me a viver o que passa...
Acredito em Deus, só Ele quero!

Modesto

A AURORA

A aurora está a clarear,
Desperta de uma noite serena.
Nuvens deslizam ténues plo ar,
O sol espalha seus raios  n' arena.

Os bosque escurecidos dão vida
Às flores húmidas das amoreiras.
Uma gota de orvalho convida
A descer as ravinas com rasteiras.

As rãs, nos regatos, a coxear.
Os pássaros já saem dos seus ninhos.
Os répteis começam a rastejar,
Procurando almoçar passarinhos.

O sol abre, dando vid' em louvor,
A Natureza abre em azáfama,
A aurora promete bom alvor,
Mensageira dum dia que afana.

Modesto

UM VIVA À QUIMERA

Que génio formidável
Ter inefável quimera,
Amiga inseparável,
Forte como a pantera!

Está sempr' à minha 'spera,
Neste lugar saudável:
Não vive só na esfera,
Viv' aqui, inseparável!

Quando fumo um cigarro,
Ou vou sair com o carro,
Afaga ou apedreja...

Mas cura-me duma chaga
Tão vil que não se apaga
E só comigo verseja!

Modesto

ESTOU CANSADO

Queria repousar um pouco e tanto
Dormir n' alegria da serenidade
E descansar minhas convulsões de pranto,
Sentir o ideal da eternidade.

Queria o céu perfumado d' encanto,
Ter tanto consolo e tranquilidade,
Sem nenhum carnal e mórbido quebranto,
Sem tédio senil, vã perplexidade.

Só há sonhos duma 'strela desgarrada
Na vida febril, exausta, fatigada...
Queria recordar a vida tranquila!

Ter descanso daquelas cruéis miragens
E gozar a luz das místicas paisagens
E não precisar de mexer mais n' argila!

Modesto

AO ENTARDECER

Braseia o Ocidente em agonia
Do sol... Aves correm em bandos destacados,
Fogem, pois fecha-se a pálpebra do dia
Pelos céus de ouro e púrpura raiados.

Delineia-se, pra além da serrania
Os vértices d' altos montes aureolados,
Com tons suaves e... ouve-se melodia...
Os montes, à volta, esbatem amarelados.

Um mundo de vapores pelo ar flutua
Em sombra, à proporção que a luz recua,
Como uma informe nódoa que cresce...

Pouco a pouco, pelas árvores, a lua
Surge trémula, tímida e... esmorece
A Natureza apática... Anoitece!

Modesto

NADA É COMO DANTES

O céu já não tem o mesmo encanto,
As estrelas já perderam o brilho,
Os cristais de luz desfazem-s' em pranto
E há versos perdidos n' aquadrilho...

As palavra ditas apagam velas,
O poeta já não tem sua Musa,
Os cortinados tapam as janelas
E a poesia fica reclusa.

O poeta perdeu inspirações,
Já não 'screve sobre beijos, canções...
A noite já não é dos namorados.

Os versos são de um triste poeta,
Começ' um poema , não o completa
Porque Cupido já não lança dardos!...

Modesto