Meu querido Portugal,
Que me dás o dia inteiro?
Só promessa... E banal
Em dias de nevoeiro!
Afonso já não tem Dom,
Nem segundos nem penúltimos.
Agora sabes o tom:
Ser o primeiro dos últimos!
Como cantar tua glória,
Se derrota é vitória?...
Não acredit' em querer
Que possa acreditar
Na fé desse grande crer
Qu' 'inda te possas salvar.
Podes fazer tudo novo,
Filho de gente que sente
Gente e gente do povo!
Povo de Nação valente
Que anda pior que mal,
Na 'stupidez imortal..
Ó Portugal da mensagem
Já sem rosto de Pessoa,
De Camões não há linhagem...
Sem Porto - é só Lisboa!
É fantasma Viriato,
Sebastião morto-vivo,
O teu povo no 'strelato
Na Pátria nado-vivo...
Nem o velho do Restelo
Idolatra um camelo!
Foste Castelos e Quinas
E de Reis do Além.Mar.
Mas... deixaste as salinas,
Nem Língua sabes guardar!
Foste o Senhor da guerra
Em busca do além-mundo...
Ainda tens tua terra
Mas enterrada no fundo...
Pra onde vais Portugal?
- Miséria bestial!
Impera estupidez
E governa a ganância!
D' olhos fechados não vês
Qu' a prol é ignorância:
Quem vota, não vota bem,
Quem não vota só faz mal,
Quem vota, vot' em alguém
Sem conhecer Portugal!
Votos brancos, votos nulos...
Mas... são todos votos nulos!...
Ó Portugal moribundo,
Afogas-t' à beira-mar:
Tu deste mundos ao mundo,
Sem mundo nada te dar!
Agora de vent' em popa,
Vais prá morte com certeza.
Das migalhas fazes sopa,
Cozido à portuguesa...
Eis Portugal ao inverso
A quem faço este verso.
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