domingo, 29 de janeiro de 2023

ASPIRAÇÃO SUPREMA

 Como o cego e o nu pede um abrigo
A alma que vive a tiritar de frio,
Lembra um arbusto frágil e sombrio
Que necessita do bom sol amigo.

Tem ais de dor de trémulo mendigo
Oscilante, sonâmbulo, erradio,
E como um ténue, cristalino fio
D´estrelas, como etéreo e louro trigo.

E a alma aspira o celestial orvalho,
Aspira o céu, o límpido agasalho,
Sonha, deseja e anseia a luz do oriente...

Tudo ela inflama de um estranho beijo,
E este anseio, este sonho, este desejo
Enche as esferas soluçantemente.

sábado, 21 de janeiro de 2023

FRUTO ENVELHECIDO

No coração do envelhecido fruto
É só desolação e é só tortura.
O frio soluçante da amargura
Envolve o coração num fundo luto.

O fantasma da dor pérfido e astuto
Caminha junto a toda a criatura.
A alma por mais feliz e por mais pura
Tem de sofrer o esmagamento bruto.

É preciso humildade, é necessário
Fazer do coração branco Sacrário
E a hóstia elevar do sentimento eterno.

Em tudo derramar o amor profundo,
Derramar o perdão no caos do mundo,
Sorrir ao Céu pra fugirmos do Inferno.


 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

SE ME QUISERDES CONHECER

 Se um dia me quiserdes conhecer,
E penetrar na minha humanidade,
Como foi, neste mundo, o meu viver,
Lede os meus versos feitos com verdade.

Vereis que tive escuridão e luz,
Primaveras, canções e fantasias,
Outonos sem colheitas, mas orgias,
Invernos com a sombra da cruz.

Tive estradas e sendas perfumadas,
Algares e barrancos abissais,
Muitas noites escuras e estreladas,
Virtudes e pecados capitais.

E, nos versos que fiz e vos deixei,
Descobrireis meu coração inteiro:
Com eles, eu chorei e me alegrei,
Choro e riso de um homem verdadeiro.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

INVERNO LÍRICO

 Nesta manhã de Inverno agreste e fria,
Quis a tristeza entrar dentro de mim...
A Natureza está pálida, sombria,
Não há flores nem sol, no meu jardim.

Cai do céu,, em cristais de nostalgia
A chuva, como lágrimas sem fim...
Chega até mim o canto da poesia
Que o Inverno, para os poetas, é assim!

Nesta manhã, a mão da Natureza
Escreve mais um poema de tristeza,
Na expressão do seu amor materno!

Mas se o Inverno é triste, inspira os poetas,
Também neles florescem as violetas,
- Vem-nos de Deus o Seu poema eterno!



LÁGRIMAS

 Em silêncio, Senhor,  ao pé de Tia, A crueza senti dos meus pecados Que nesta minha vida cometi, Deixando os meus olhos orvalhados. Tanta l...