quarta-feira, 13 de novembro de 2024

SONETO DE AMIZADE

 Talvez alguém estes meus versos vai ler
E não entenda que o amor neles palpita,
Nem que a saudade trágica, infinita
Por dentro deles sempre está a viver.

Talvez, amigo, não fiques a perceber
A paixão que me enleva e me agita,
Como uma alma dolorosa e aflita
Que num sentimento pode desfalecer.

E talvez ao leres-me, com piedade,
Digas, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil, carinhosa e franca:

Ah! Bem conheço o teu afecto triste...
E na minha alma o mesmo existe,
Tens amizade que raro se alcança!

Modesto

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O SORRISO INTERIOR

 O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsia e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em redor oscila.

Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória frente à Natureza,
Este esplendor, todo este largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...
E, para ironizar as próprias dores,
Canta por entre as águas do dilúvio!

Modesto

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

EMOÇÕES PROFANAS

 Pompas, pompas, pompas soberanas
Majestade serena da escultura
A chama da suprema formosura,
A opulência das púrpuras romanas.

As formas imortais, claras e ufanas,
Da graça grega, da beleza pura,
Resplendem na angélica brancura
Desse teu corpo de emoções profanas.

Cantam as infinitas nostalgias,
Os mistérios do amor, melancolias,
Todo o perfume das eras apagadas...

E as águias da paixão, brancas, radiantes,
Voam, revoam, de asas palpitantes,
No esplendor do corpo arrebatadas!

Modesto

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

BELEZA DAS CATEDRAIS

 Pelas bizarras, góticas janelas
De um templo medieval o sol ondula:
Nunca os vitrais viram coisas mais belas
Quando, no ocaso, o sol as doura e oscula.

Belas e multicores aguarelas
Sobre um lindo céu que além se azula...
Calma, serena, divinal, entre eras,
A pomba, branca como os anjos, arrulha.

Rezam de joelhos anjos de mãos postas
Através dos vitrais, e nas encostas
Dos montes a claridade a ondear...

É a lua de Deus que, nas curvas meigas,
Foi ondular pelos vergéis e veigas,
Magnólias e lírios desfolhar!

Modesto

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

MULHER DO MEU PASSADO

Quanta mulher no meu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa,
Se delas veio o sonho que conforta...
A tua vinda foi três vezes mais santa!

Erva do chão que a mão de Deus planta,
Folhas de rojo murchas à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Serás a mulher mais linda que encanta!

Mas eu sou a manhã: Apago estrelas!
Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás-de encontrar ainda...

Modesto
 

sábado, 5 de outubro de 2024

QUANDO EU PARTIR

 Quando eu partir, que eterna e que infinita
Há-de crescer-me a dor de tu ficares!
Quanto pesar e mesmo que pesares,
Que comoção dentro desta alma aflita!

Por nossa vida toda sol, bonita,
Que sentimento, grande como os mares,
Que sombra e luto pelos teus olhares
Onde o carinho mais feliz palpita...

Nesse teu rosto de maior bondade
Quanta saudade, que atroz saudade...
Quanta tristeza por nós ambos, quanta?

Quando eu tiver já de uma vez partido,
Ó meu amor, ó meu muito querido
Amor, meu bem, meu tudo, ó minha santa!

Modesto

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

OS ANJOS CANTAM HINOS ETERNOS

 Bendito, misericordioso Uno e Trino,
Imenso, inconcebível e infinito.
Em Vós a mente não compreende o divino
E, pois, canta sem cessar eterno «Bendito».

Santo, Misericordioso, Criador,
Inconcebível poder, mas cheio de amor tanto,
Adorar-Vos é do nosso ser o penhor,
Catando o nosso hino eterno: «Santo, Santo, Santo...»

Bendito o misericordioso eterno amor,
Muito além da safira, do celeste manto,
Assim a corte dos espíritos em louvor
Entoam seu hino eterno: «Três vezes Santo...»

Modesto


SONETO DE AMIZADE

 Talvez alguém estes meus versos vai ler E não entenda que o amor neles palpita, Nem que a saudade trágica, infinita Por dentro deles sempre...